Lula mantém presença de embaixadora na posse de Maduro na Venezuela
Apesar da tensão política e dos protestos, governo Lula envia Glivânia Oliveira à cerimônia, reafirmando a estratégia de manter laços com a Venezuela.
- Data: 09/01/2025 22:01
- Alterado: 09/01/2025 22:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Presidente Lula (PT) e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro
Crédito:Ricardo Stuckert/PR
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou a presença da embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Oliveira, na cerimônia de posse de Nicolás Maduro, agendada para esta sexta-feira (10), em Caracas. A decisão foi discutida entre membros do Palácio do Planalto e reflete uma estratégia de manutenção das relações diplomáticas com o país vizinho.
A escolha de enviar a embaixadora ocorre em meio a um clima de tensão política, intensificado após aliados da líder opositora María Corina Machado afirmarem que ela foi “violentamente interceptada” durante protestos na capital venezuelana nesta quinta-feira (9). Embora tenha sido liberada algumas horas depois, o incidente suscitou cautela entre os diplomatas brasileiros.
Apesar do endurecimento do regime chavista, o governo brasileiro optou por manter canais de diálogo abertos, considerando fundamental preservar laços diplomáticos com a Venezuela. Essa postura se alinha à ideia de que a comunicação pode ajudar a mitigar conflitos e facilitar negociações futuras. Vale ressaltar que o Brasil não reconheceu os resultados das recentes eleições venezuelanas.
Quando questionado sobre o envio da embaixadora, o Itamaraty não se manifestou. Glivânia Oliveira está à frente da representação brasileira em Caracas desde 2024.
A atmosfera política no país está marcada por convocações de atos tanto por parte da oposição quanto do regime às vésperas da posse contestada de Maduro. María Corina Machado, que havia estado em clandestinidade por mais de cem dias, decidiu se manifestar nas ruas de Caracas, ampliando ainda mais as tensões.
O procurador-geral Tarek William Saab, uma figura proeminente do governo venezuelano, negou as alegações de detenção da opositora e afirmou à Folha que ela não esteve sob custódia “nem por um minuto“.
A participação do Brasil na cerimônia de posse é um indicativo da relevância atribuída pelo país às suas relações bilaterais. O presidente Lula, por exemplo, marcou presença na posse da presidente mexicana Claudia Sheinbaum e enviou representantes para eventos semelhantes na Guatemala e no Irã.
Mesmo com a presença do chanceler Mauro Vieira na posse do presidente argentino Javier Milei, cujas visões são antagônicas às de Lula, a escolha ressalta a importância das relações Brasil-Argentina, independentemente das diferenças ideológicas.
As interações entre o governo Lula e o regime venezuelano atingiram um ponto crítico após as eleições de julho de 2024, marcadas por alegações de fraude pela oposição. Esta declarou-se vencedora e divulgou documentos que supostamente comprovavam a vitória do diplomata Edmundo González.
Em resposta à pressão internacional — incluindo dos Estados Unidos e países europeus — Maduro não apresentou as atas eleitorais que respaldariam sua vitória. Esse impasse gerou uma crise diplomática entre o Brasil e a Venezuela.
O regime venezuelano passou a criticar Lula e o Itamaraty com veemência, acusando-o de ser aliado dos interesses norte-americanos. Celso Amorim, assessor especial do presidente brasileiro que esteve presente nas eleições na Venezuela, foi chamado pelo chavismo de “mensageiro do imperialismo norte-americano“.
Adicionalmente, o Brasil assumiu a proteção diplomática da embaixada argentina em Caracas, onde um grupo de opositores se encontra asilado há meses. A situação se complicou quando o chavismo ameaçou retirar a custódia brasileira do local, mas a entrada de agentes venezuelanos no prédio não ocorreu e os asilados continuam protegidos.