Luís Cardoso, do Timor-Leste, vence o Prêmio Oceanos
O romance O plantador de abóboras, do escritor timorense, ficou em primeiro lugar
- Data: 08/12/2021 14:12
- Alterado: 08/12/2021 14:12
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
Prêmio Oceanos
Crédito:Divulgação
Em cerimônia transmitida ao vivo, no site do Itaú Cultural (www.itaucultural.org.br), responsável pela governança do prêmio, e em sua página do YouTube (youtube.com/itaucultural), o Oceanos – Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa 2021 anunciou os três vencedores desta edição. A apresentação foi realizada por Selma Caetano, coordenadora-geral do Oceanos, e Claudiney Ferreira, gerente do núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural, com a participação do escritor Itamar Vieira Junior, vencedor do Oceanos 2020, Matilde Santos, curadora da Biblioteca Nacional de Cabo Verde, Manuel da Costa Pinto e Isabel Lucas, ambos jornalistas e críticos literários.
O romance O plantador de abóboras, do escritor timorense Luís Cardoso, publicado em Portugal pela editora abysmo, foi o vencedor do prêmio em primeiro lugar. Esta é a primeira vez que um livro do continente asiático figura entre finalistas e vencedores.
“Mais uma vez, o resultado do prêmio Oceanos nos surpreende positivamente e reafirma a potência da literatura em língua portuguesa. A conquista da premiação por um livro cujo autor é de Timor-Leste é um grande exemplo e muito honra o significado e os objetivos do Oceanos”, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural. “Entre os países que falamos e escrevemos em português, pouco conhecemos da produção de livros naquele país. Ao se jogar merecida luz nesta obra e em seu autor, iluminamos mais um pouco o caminho que procuramos, o de gerar intercâmbio entre todas essas literaturas que acabam se tornando uma única voz.”
O júri ressaltou a destreza e a desenvoltura narrativa do autor na construção de uma história atravessada pela violência que marcou o passado colonial do Timor-Leste. Nas palavras do escritor Itamar Vieira Junior, jurado do prêmio: “é um romance que nos lembra que a língua portuguesa permanece viva e ganhou densidade e profundidade em cada fração de terra onde é falada. É um romance que nos faz refletir também que a história de uma personagem nunca é solitária – é uma história que carrega consigo a história de sua comunidade, de seu povo e, neste caso, a história de um país, o Timor-Leste”.
Em segundo lugar, ficou o romance O ausente, do escritor e professor brasileiro Edimilson de Almeida Pereira, publicado no Brasil pela Relicário. A obra é o primeiro volume da trilogia Náusea, que inclui também Um corpo à deriva (Edições Macondo), que foi semifinalista do Oceanos, e Front (Editora Nós), vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2021.
Para o júri, trata-se de um livro que rompe as fronteiras entre prosa e poesia, um exímio trabalho com a linguagem e com as inúmeras possibilidades de subvertê-la. Construído como um fluxo, em que nada está determinado – nem a própria língua nem o nome da personagem –, O ausente é um livro sobre liberdade, elemento que atravessa a construção da obra para recriar o universo rural, intimista e místico onde é ambientada a narrativa.
O terceiro lugar foi concedido ao romance O osso do meio, de Gonçalo M. Tavares, publicado em Portugal pela editora Relógio D’Água. O autor venceu o Prêmio Oceanos em duas ocasiões: 2007, com Jerusalém, e 2011, com Uma viagem à Índia. De acordo com o júri, Gonçalo M. Tavares retoma neste livro a perspectiva da violência – da escrita e do tema – e concebe um texto duro, de muita contenção. É um romance que, a partir da margem do terror, coloca o leitor em uma posição de fragilidade, mostrando um lado divergente daquilo que somos enquanto humanos, algo que receamos tornar-nos.
O Oceanos é realizado em três etapas de votação até chegar aos vencedores. Ao todo, foram 5.953 leituras realizadas pelos três júris que se sucederam na seleção de semifinalistas, finalistas e vencedores.
Participaram do júri para seleção dos três vencedores a angolana Ana Paula Tavares, os brasileiros Itamar Vieira Junior, Julián Fuks, Maria Esther Maciel e Veronica Stigger e os portugueses António Guerreiro e Golgona Anghel.
O valor total da premiação é de 250 mil reais, sendo 120 mil para o primeiro colocado, 80 mil para o segundo e 50 mil para o terceiro.
Histórico da edição
Concorreram à edição 2021 do Oceanos 1.835 obras publicadas em dez países: Alemanha, Angola, Áustria, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Estados Unidos, Moçambique, Portugal e Reino Unido. Neste ano, o número de editoras participantes totalizou 337, com sede em sete países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Estados Unidos, França, Moçambique e Portugal. As edições independentes somaram 342 livros, representando 18,6% do total das inscrições – um aumento de mais de 100% em relação à edição anterior do prêmio.
De todas as edições do prêmio, o Oceanos 2021 apresentou a maior diversidade no que se refere à origem dos autores. Participaram escritores de Alemanha, Angola, Argentina, Brasil, Cabo Verde, China, Espanha, França, Haiti, Índia, Itália, Moçambique, Peru, Portugal, Rússia, Suíça, Timor-Leste e Venezuela, todos escrevendo e publicando originalmente em língua portuguesa.
Tecnologia
A tecnologia desenvolvida pelo Itaú Cultural (IC) permitiu que todo o processo – a inscrição no prêmio, a avaliação dos livros e a demonstração dos resultados de cada etapa – fosse realizado por meios virtuais. Dessa forma, os júris internacionais puderam ler e avaliar, em uma plataforma digital, os livros que lhes coube pontuar.
Coordenação e curadoria
O Oceanos tem coordenação-geral da gestora cultural Selma Caetano; curadoria para os países africanos de língua portuguesa de Matilde Santos, curadora da Biblioteca Nacional de Cabo Verde; para o Brasil, do jornalista e crítico literário Manuel da Costa Pinto; e, para Portugal, da jornalista e crítica literária Isabel Lucas.
Parcerias
O Oceanos é realizado via Lei de Incentivo à Cultura, pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, e conta com o patrocínio do Banco Itaú, do Instituto Cultural Vale e da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas da República Portuguesa; o apoio do Itaú Cultural e do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde; e o apoio institucional da CPLP.