Liberação de R$ 12 bilhões do FGTS gera receio no mercado sobre impacto na inflação

Anúncio do governo federal levanta preocupações sobre possível interferência na política monetária e impactos na taxa de juros.

  • Data: 02/03/2025 15:03
  • Alterado: 02/03/2025 15:03
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: FOLHAPRESS
Liberação de R$ 12 bilhões do FGTS gera receio no mercado sobre impacto na inflação

Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil

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A recente decisão do governo federal de liberar R$ 12 bilhões, provenientes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), para trabalhadores que escolheram a modalidade de saque-aniversário, gerou apreensão no mercado sobre possíveis novas iniciativas econômicas que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderia implementar. O objetivo seria evitar uma queda acentuada no Produto Interno Bruto (PIB).

Analistas expressam preocupação quanto ao impacto que essas medidas podem ter sobre a atuação do Banco Central em relação ao controle da inflação. Existe o risco de que as ações do governo interfiram na política monetária, resultando em juros elevados por um período prolongado.

A nomeação de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) – o núcleo central da articulação política com o Congresso – intensificou os receios de que o presidente não permitirá que a política de elevação da taxa de juros promovida pelo Banco Central tenha eficácia suficiente para esfriar a economia e conter a inflação.

Durante os primeiros dois anos do terceiro mandato de Lula, Hoffmann foi uma crítica ferrenha da política fiscal liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Sua nova posição dentro do Palácio do Planalto é vista pelos investidores como um indicativo de que os defensores de políticas mais expansivas podem se sobrepor às limitações fiscais impostas pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

Enquanto isso, analistas aguardam informações sobre o impacto das novas operações de crédito consignado privado, programadas para serem lançadas após o Carnaval. Medidas como o programa Pé-de-Meia, destinado a estudantes de baixa renda do ensino médio, e Gás para Todos, que prevê a distribuição gratuita de botijões para 22 milhões de famílias, estão sendo monitoradas com atenção.

Contudo, uma parte dessas despesas não possui garantias orçamentárias para 2025, cuja lei ainda precisa ser aprovada pelo Congresso. A expectativa é que a aprovação da lei orçamentária inclua previsões de gastos subestimadas, evitando um congelamento mais severo das despesas no início do ano.

O mercado financeiro notou com especial atenção o momento escolhido para a liberação dos recursos do FGTS. A primeira parcela, limitada a R$ 3.000, será disponibilizada aos trabalhadores a partir de 6 de março, enquanto a segunda ocorrerá em 17 de junho – data em que está agendada uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Espera-se que, até lá, a taxa Selic atinja 15%, partindo dos atuais 13,25%. O Copom terá duas reuniões antes disso: nos dias 18 e 19 de março e em 6 e 7 de maio.

Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, aponta que críticas tendem a crescer conforme se observa uma divergência entre o Copom adotando uma postura cautelosa e o governo implementando medidas que aumentam rapidamente a demanda agregada. Ele menciona que as expectativas no mercado indicam mais três elevações na taxa de juros – uma em março e outras duas nas reuniões subsequentes.

Genta também prevê que novos estímulos sejam introduzidos à medida que as eleições se aproximam. “A sensação geral é que nunca houve uma antecipação tão significativa do calendário eleitoral quanto neste momento”, afirma ele.

A estratégia adotada por Haddad em relação à liberação escalonada dos recursos visa facilitar ao Banco Central uma melhor compreensão da economia e dos processos de desaceleração econômica. Apesar disso, houve divergências internas sobre como implementar o novo modelo de crédito consignado privado.

O governo considera essa nova medida como essencial para estimular o crédito e sustentar o crescimento econômico. Com apoio dos bancos, espera-se que essa iniciativa leve a um aumento significativo na carteira de crédito consignado privado, passando dos atuais R$ 40 bilhões para R$ 120 bilhões.

No entanto, resta saber quanto desse novo crédito será efetivamente utilizado para substituir dívidas mais caras por condições mais favoráveis às famílias. O Banco Central está monitorando atentamente essa situação e suas implicações na economia.

Ainda assim, há preocupações crescentes entre os diretores do Banco Central quanto ao potencial impacto negativo dessas novas iniciativas. A percepção inicial era de que o governo estaria disposto a aceitar um arrefecimento da atividade econômica como parte da estratégia para controlar a inflação.

Carlos Thadeu Freitas Filho, especialista em inflação da BCG Liquidez, alerta sobre os riscos associados às medidas governamentais: “Estamos enfrentando um processo inflacionário acelerado. Precisamos que a atividade permaneça fraca por algum tempo para gerar desemprego e reduzir o ritmo inflacionário”. Ele acredita que as recentes ações do governo podem enfraquecer os efeitos desejados das políticas monetárias já implementadas.

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  • Data: 02/03/2025 03:03
  • Alterado:02/03/2025 15:03
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