Jovem de 17 anos morto após festa revela alarmantes homicídios ocultos em SP
Descubra os dados que revelam essa crise.
- Data: 04/01/2025 14:01
- Alterado: 04/01/2025 14:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:iStock
O trágico caso do jovem Enzo André Alves da Silva, de 17 anos, ocorrido na madrugada de 25 de fevereiro de 2024, ilustra um problema alarmante na segurança pública brasileira. Após uma queda de moto ao sair de uma festa no distrito de Jundiapeba, em Mogi das Cruzes, Enzo foi atingido por um tiro na cabeça. Seu amigo, que conduzia a motocicleta, sofreu um ferimento superficial. Apesar dos esforços para salvá-lo, Enzo não sobreviveu aos ferimentos.
Inicialmente classificada pela Polícia Civil como “morte suspeita”, a investigação revelou posteriormente que o disparo que resultou na morte do adolescente foi efetuado pelo proprietário do local onde a festa acontecia. A motivação do crime estaria relacionada ao incômodo causado pelo barulho das motocicletas, levando o autor a atirar contra os jovens que se afastavam do evento.
Esse incidente destaca um padrão preocupante: a combinação de características demográficas como idade, sexo, etnia e contexto social elevam as chances de classificar a morte como homicídio doloso. Dados coletados pelo sistema de saúde evidenciam uma quantidade expressiva de mortes violentas com características semelhantes que não são registradas adequadamente.
A pesquisa “Atlas da Violência”, realizada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, traz à tona essas discrepâncias. O pesquisador Daniel Cerqueira aponta que muitos casos de mortes violentas com armas de fogo são classificados erroneamente como causas indeterminadas. “Se o indivíduo morreu por arma de fogo, é altamente provável que tenha sido homicídio”, explica Cerqueira.
O Ipea analisou 3,6 milhões de registros de mortes violentas desde 1996, buscando identificar padrões e categorizar as causas. Utilizando tecnologias avançadas para processamento de dados, o instituto mapeou características comuns associadas a homicídios e suicídios em diferentes regiões do Brasil.
Os dados utilizados para essa análise foram extraídos do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ambos geridos pelo Ministério da Saúde. Os últimos números disponíveis indicam que São Paulo registrou em 2022 a maior quantidade de homicídios ocultos entre as capitais brasileiras — um total impressionante de 1.418 casos identificados em contraste com apenas 344 homicídios formalmente registrados naquele ano.
Entre 2018 e 2022, observou-se um aumento significativo na taxa de homicídios ocultos no Brasil, passando de 1,8 para 2,8 casos por 100 mil habitantes. As estimativas apontam para cerca de 5.982 homicídios ocultos em 2022, um número alarmante quando comparado aos registros oficiais que totalizaram 46.409 homicídios.
Cerqueira sugere que as discrepâncias nos dados podem ser atribuídas à falta de comunicação entre os órgãos públicos e à possibilidade de registros intencionais equivocados devido às implicações legais envolvidas nas investigações. “A situação evidencia problemas sistêmicos dentro da gestão da segurança pública no Brasil”, conclui.
A Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo afirmou estar atenta ao monitoramento dos casos registrados e garantir que ocorrências sejam corretamente classificadas. Em resposta aos números apresentados pelo Atlas da Violência, a pasta ressaltou que utiliza dados diferentes e com finalidades distintas dos levantados pela pesquisa.