Jornalista chinês é suspenso de redes sociais após postagem vista como crítica à propriedade estatal

Internautas no país já vinham apresentando capturas de tela que confirmavam a suspensão

  • Data: 01/08/2024 16:08
  • Alterado: 01/08/2024 16:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress/Nelson de Sá
Jornalista chinês é suspenso de redes sociais após postagem vista como crítica à propriedade estatal

Crédito:Reprodução/X-Twitter

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Mais conhecido e controverso jornalista na China, Hu Xijin publicou a sua última postagem em mídia social no último sábado (27). Ele hoje é colunista de vídeo no Global Times, jornal oficial que editou até três anos atrás, mas se tornou sobretudo influenciador, com perfis atualizados diariamente ou mais por WeChat, Weibo e Douyin, o TikTok original, entre outras plataformas.

Internautas no país já vinham apresentando capturas de tela que confirmavam a suspensão, quando o Sing Tao Jih Pao, tradicional diário em chinês de Hong Kong, criado em 1938, ouviu Hu na terça (30). “Eu, pessoalmente, não quero falar nada”, disse ele. “Você só precisa ler as coisas na internet. Por favor, entenda.

Segundo o jornal, o motivo para a punição foi uma postagem do dia 22, em que ele comentava a Terceira Plenária, reunião de cerca de 400 lideranças do Partido Comunista da China para definir as diretrizes econômicas. O erro de Hu teria sido saudar a retirada da menção à propriedade estatal como “esteio” do país, no comunicado do encontro, que viu como sinal de peso maior para a iniciativa privada.

Seu texto dizia, segundo reproduções, que “a percepção, a atitude e a narrativa da sociedade chinesa sobre várias relações de propriedade darão um grande passo à frente”.

A postagem foi retirada depois de uma sequência de questionamentos de outros internautas, inclusive em perfis institucionais acadêmicos no WeChat, plataforma para textos mais sóbrios e extenso. Um deles denunciava Hu por “furtar vigas e mudar pilares, generalizando com parcialidade e confundindo o público” e argumentava ser “uma questão fundacional do país e do partido”.

A suspensão ecoou por outros jornais da chamada Grande China, como o Lianhe Zaobao de Singapura, alcançando a imprensa de língua inglesa na Índia e chegando à americana Foreign Policy, que apontou censura.

Internautas chineses dizem que Hu vai ficar 30 dias fora das plataformas citadas, do Toutiao, portal noticioso da Bytedance, e do Kuaishou, concorrente do Douyin em vídeos curtos. Há também comentários de que, “jornalista há muitos anos, ele tem forte senso político, sabe o que dizer e o que não dizer” e vai dar a volta por cima.

Até deixar a chefia do Global Times/Huanqiu, posto em que ficou 16 anos comandando o tabloide ligado ao PC chinês, Hu foi dos mais estridentes defensores de uma política externa de confronto com os Estados Unidos, inclusive maior armamento nuclear. Mas ele também teria participado, quando jovem, dos protestos da praça Tiananmen, que depois reviu criticamente. Fez seu nome como correspondente de guerra.

Opinando desde então por Weibo, onde acumula 24,9 milhões de seguidores, o “velho Hu”, como chama a si mesmo nas postagens, passou a apresentar uma postura mais moderada, embora a linguagem mantenha o tom. Ele agora questiona o “esquerdismo” e até o “excessivo nacionalismo”, em textos que soam arriscados.

Há pouco mais de um mês, escrevendo sobre a chinesa que morreu ao defender mãe e filha japonesas de um ataque com faca em Suzhou, ele cobrou mais honras à “heroína popular”. Mas acrescentou esperar que no futuro, “quando acontecerem incidentes sensíveis, a mídia participe da coleta e disseminação de informação desde o princípio”.

A mídia, argumentou Hu, “é um recurso crucial e uma ligação chave na governança, não devendo ser marginalizada em momentos essenciais”. No caso, ajudaria a esclarecer o que aconteceu. “Não importa quão complexa seja a questão, sua participação vai trazer maior orientação ao discurso público, tornando as pessoas mais informadas.”

Também alertou contra aqueles que transformam “o nacionalismo numa commodity” para exploração online, com “extremismo ideológico”. E que, apesar das preocupações americanas sobre a China, “as relações sino-americanas são relativamente as mais moderadas e flexíveis”, se comparadas àquelas dos EUA com a Rússia ou o Irã.

Para Hu, “os cidadãos chineses precisam entender essa situação ampla e reconhecer as diferenças complexas e sutis”. Seu alvo são os “extremistas online”, aqueles que cobram “formar alianças com outros países para se opor ao Ocidente, o que não é nem o nosso caminho diplomático nem a vontade do público”.

Outros jornalistas chineses, como Wang Zichen, ex-agência Xinhua e agora no Centro para China e Globalização, talvez o think tank mais independente de Pequim, festejaram as palavras de Hu. “Ame ou odeie, Hu Xijin é uma figura que não pode ser evitada no discurso chinês”, diz Wang.

E agora não é só contra os nacionalistas exagerados que ele se levanta. “Hu também tem se tornado o propositor mais ruidoso e também o mais capacitado e cuidadoso de um espaço maior para a mídia chinesa”, declara Wang.

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  • Data: 01/08/2024 04:08
  • Alterado:01/08/2024 16:08
  • Autor: Redação
  • Fonte: FolhaPress/Nelson de Sá









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