Itaú Cultural realiza a segunda edição de a_ponte: cena do teatro universitário
A mostra apresenta os 10 espetáculos de nove estados, selecionados entre 141 inscritos para a segunda convocatória de teatro universitário realizada pelo instituto em 2019
- Data: 06/01/2020 11:01
- Alterado: 06/01/2020 11:01
- Autor: Redação
- Fonte: Itaú Cultural
A Palavra Progresso na boca da minha mãe soava terrivelmente falsa (PE)
Crédito:Pedro Liberal
O Itaú Cultural abre a programação teatral de 2020 com mais uma mostra do que está sendo produzido na academia e tem ganhado cada vez mais espaços nos palcos de todo o país. Trata-se da segunda edição de a_ponte: cena do teatro universitário, cujo resultado é apresentado no instituto de 16 a 26 de janeiro, em uma programação com 10 espetáculos de nove estados – Amazonas, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Eles foram selecionados entre os 141 inscritos na convocatória aberta em agosto de 2019 pelo instituto, voltada para estudantes de cursos técnicos e universitários de artes cênicas espalhados pelo Brasil. O resultado leva ao público uma pluralidade temática e de abordagem cênica, que marcam as montagens contemporâneas.
Celebrando a produção teatral universitária, o Itaú Cultural convidou, ainda, sete grupos consagrados na cena regional e nacional, para participarem da programação com montagens atuais de seus repertórios. Ao longo dos 11 dias de programação, passarão pelo instituto Cia 4 pra Nada, Grupo 59 de Teatro, Cia dos Bondrés, Grupo Sobrevento, Ói nóis Aqui Traveiz e Cia LaMínima. Toda essa programação é permeada por painéis reflexivos sobre os espetáculos selecionados e debates sobre a formação e a difusão cênica das universidades no país.
“Além das apresentações, torna-se cada vez mais presente a relevância das pesquisas que norteiam os trabalhos cênicos”, observa Galiana Brasil, gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Instituto. “Gostaríamos de iluminar ainda mais o aspecto investigativo, científico do teatro universitário. Tanto que uma das inovações desta edição é a presença de professores das instituições selecionadas”, continua ela, acrescentando que, para isso, foi concebida uma série de atividades para incluir essas vozes. “Temos grande expectativa das trocas e atravessamentos que a_ponte pode gerar nesse âmbito”, conclui.
A programação abre às 20h do dia 16 (quinta feira) com um dos convidados em apresentação única. Barracal, peça cearense dirigida por Andréia Pires, parte do livro Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus, e de músicas de Cartola para refletir sobre questões de luta e para construir uma poética capaz de expandir os pensamentos criativos sobre elas. O espetáculo se passa na casa de Carolina, onde ressoa nos cantos da sua sala a música do autor de As Rosas não Falam.
Na sexta-feira, dia 17, a programação é tripla. Às 15h, os selecionados do grupo pernambucano do curso de interpretação para teatro do Sesc Piedade apresentam A Palavra Progresso na Boca da Minha Mãe Soava Terrivelmente Falsa, texto do dramaturgo romeno Matéi Visniec. Embora ambientado na Europa, a história pode acontecer em qualquer lugar do Brasil, uma vez que fala de um contexto de conflitos, hostilidades e das guerras de cada dia.
Às 17h, o também selecionado A Vila de Pantolux, da MT Escola de Teatro/Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), apresenta um teatro de sombras contemporâneo com projeções de figuras recortadas, sombras do elenco e próteses corporais. No enredo dirigido por Juliana Graziela vemos o progresso ensombrecer quando uma barragem se rompe em decorrência da construção da Usina Hidrelétrica do Manso – história real vivida na Comunidade João Carro, onde um dos integrantes do elenco morou.
As apresentações fecham às 21h, com mais um dos convidados, que leva ao palco a dança: a Cia. 4 pra Nada, com [H3O]mens. Em cena, os bailarinos/atores André D.O., Rafael Bougleux e Rafael Ravi fazem uma investigação sobre o ser humano masculino e o corpo. Um homem diante de outro, um homem encostando em outro, um homem dançando para outro.
Palco, rua e crianças
A programação de a_ponte: cena do teatro universitário segue pelo final de semana, abrangendo todas as atividades cênicas do instituto nestes dois dias.
No sábado, dia 18, as atividades têm início às 15h com a peça para crianças O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, do Grupo 59 de Teatro, dirigida por Cristiane Paoli Quito, também convidada para integrar a programação. Reapresentada no domingo, no mesmo horário, ela é inspirada no livro homônimo de Jorge Amado, que conta a surpreendente história de amor impossível entre um gato malhado e uma linda andorinha, contada de forma lúdica e costurada por canções.
Abordando temas como masculinidade e marginalização da mulher negra, os selecionados da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) apresentam às 17h desse mesmo dia o espetáculo Poeira, construído durante o curso de licenciatura em Teatro. Com concepção, direção e atuação de Luan Renato Rodrigues Telles, usa elementos de atuação, dança e canto para olhar para as lembranças borradas do passado, responder perguntas que ficaram sem respostas e levantar questões sobre masculinidade, família e amor.
A temática racial segue às 21h, em MIL LITROS DE PRETO: A MARÉ ESTÁ CHEIA. A performance concebida e apresentada por Lucimélia Romão, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), parte da reflexão sobre uma maré cheia de corpos negros atravessados por balas, transbordando dor, morte e lágrimas de mães periféricas, que sabem que colocaram seus filhos no mundo para serem alvejados pelo estado e pela polícia. Os sete litros de sangue que escoam de cada corpo a cada 30 segundos, enquanto a vida se esvai, podem encher uma piscina de 400 litros em cerca de 40 minutos. A performance é um manifesto para a criação de mundos possíveis, para que o negro possa existir com dignidade e qualidade de vida.
As atividades do domingo, dia 19, são todas realizadas com convidados da programação. Antes da reapresentação de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, a Cia. dos Bondrés apresenta na calçada em frente ao Itaú Cultural, às 14h, Batalha de Improvisação com Máscaras, integrando o Arte na Rua, atividade fixa na programação anual do instituto. Guiados pelo improviso e pela direção de Fabianna de Mello e Souza, 10 atores mascarados se confrontam nos moldes das antigas disputas dos programas de auditório. O público é convidado a embarcar nesta aventura teatral, sugerindo temas de improvisação a serem sorteados, para que eles possam batalhar. A plateia, por sua vez, vota em seus favoritos e torce na hora da disputa.
A Cia. dos Bondrés volta à cena às 19h, quando apresenta Interior, espetáculo que investiga o universo onírico do dramaturgo belga Maurice Maeterlinck (1862- 1949). Transparecendo nas máscaras a tensão desse texto simbolista, a peça traz à tona uma ação que se desenrola paralelamente em dois espaços sem comunicação. Em um deles, uma família se reúne tranquilamente em casa após o jantar sem suspeitar do drama pelo qual passam. No outro, do lado de fora, os habitantes da cidade estão cada vez mais perto de revelar o trágico infortúnio que acaba de acontecer.
Estudantes
A segunda semana de a_ponte é marcada pela presença mais intensa de espetáculos selecionados. Com uma apresentação por dia, a programação faz, de forma mais concentrada, uma mostra dos trabalhos selecionados.
Helena, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), é o espetáculo da segunda-feira, dia 20, às 15h. O título é uma metáfora à imagem de superação, que conduz a narrativa não-cronológica da história de vida uma mulher-mãe-professora-brasileira-resistência. Helena é feita de carne, osso e, principalmente, fé. A dramaturgia é de Francis Madison e Priscilla Conserva.
Na terça-feira, 21, um elenco da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apresenta, às 17h, Entremeios, peça de teatro performativo criada a partir de um material não-dramático. Foi assim que um grupo de alunos chegou a contos dos livros Primeiras Estórias e Estas Estórias, de João Guimarães Rosa, que conduzem este experimento cênico, dirigido por Matteo Bonfitto, por meio de estímulos sensoriais, como cenografia, luz, figurino, aromas, sonoplastia e musicalidade.
No dia seguinte, quarta-feira, 22, o grupo Teatro Secalhar, da Faculdade de Artes do Paraná (FAP)/Universidade Estadual do Paraná (Unespar), apresenta lepAp, trabalho de dramaturgia corporal com base no gestual, na coreografia falada, dança-teatro e teatro performativo. Nesta performance sobre gêneros, o elenco, orientado por Francisco Gaspar, leva ao palco mais de 30 mil folhas de papel, que representam armas, flores, ou ainda uma forma de diálogo e, ao mesmo tempo, de opressão.
O Resgate do soldado Rayan é o cartaz de quinta-feira, 23, às 17h, com alunos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Este trabalho cênico de criação coletiva, dirigido por Brenda Alaís, aborda a situação de gays que passaram pelo alistamento militar e daqueles que ingressaram no Exército Brasileiro para cumprir o serviço obrigatório. Para tanto, usa como base os princípios do teatro documentário autobiográfico.
Por fim, na sexta-feira, dia 24, às 18h, os selecionados da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) mostram Transversos Corporais. Com direção coletiva de Carolina Laranjeira, Ewellyn Lima, Jéssika Andrade, Luk’s Gomez e Rafael Sabino, ele faz um mergulho no estudo do movimento, em uma (re)união de solos distintos em suas complexidades, mas comuns em seu desejo – o de entender, por via corporal, questões das relações contemporâneas entrelaçadas nas tradições ancestrais da cidade.
A programação do dia termina às 20h, quando a atriz, encenadora e produtora Tânia Farias, da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, apresenta, a convite da programação, a desmontagem de Evocando os mortos – Poéticas da experiência. A proposta refaz o caminho do ator na criação de personagens emblemáticos da dramaturgia contemporânea, constituindo um olhar sobre as discussões de gênero, a violência contra a mulher e questões abordadas no trabalho de criação do grupo.
Convidados em foco
O último final de semana da mostra a_ponte é praticamente todo tomado por espetáculos de grupos convidados. Caso do infantil Mozart Moments, do Grupo Sobrevento, dirigido por Luiz André Cherubini, apresentado no sábado e no domingo, 25 e 26, sempre às 15h. Nele, os bonecos da trupe contam momentos curiosos da vida agitada de Mozart: brigas com a mulher, confusões em que se meteu, ida ao cabeleireiro e, também, a sua morte. A peça mostra de forma delicada, divertida e tocante o compositor irreverente, vaidoso e brincalhão, pai severo, mas carinhoso, e sua esposa meiga, mas implicante.
Às 20h, é a vez de Cabaré Sade, único e último grupo selecionado a se apresentar no final de semana. Vinda da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), esta criação colaborativa trata da morte do líder revolucionário Jean-Paul Marat, assassinado pela jovem camponesa Charlotte Corday, em plena Revolução Francesa. A história, dirigida por Christina Streva, é encenada no falido e fabuloso Cabaré da Mamacita, criando analogias com os tempos atuais e com a realidade do Brasil, mergulhado em uma polarizada crise política e econômica.
Assim como na primeira, a segunda edição de a_ponte: cena do teatro universitário encerra com um espetáculo convidado: Ordinários, da Cia LaMínina, que volta a ser apresentado no Itaú Cultural, onde fez sua estreia em 2018. Sob direção de Alvaro Assad, coloca em cena três soldados que formam um pelotão improvável, inadequados para o mundo da guerra.
Debates
Ao longo dos 11 dias de atividades, a programação conta com uma série de encontros com olhar crítico sobre a cena do teatro universitário e, mais especificamente, voltado também para os 10 selecionados que passarão pelo Itaú Cultural de 16 a 26 de janeiro.
Formação e Difusão da Cena Universitária / Institucional – Qual o lugar do risco? é o nome da mesa que acontece no dia 23 de janeiro (quinta-feira), às 14h30, aberta ao público em geral. No encontro, curadores do projeto Palco Giratório (SESC), do Teatro Vila Velha (BA) e do Festival do Instituto de Artes / FEIA (Campinas- SP) conversam sobre o pensamento curatorial e as formas de programar que promovem intercâmbio entre artistas, circulações, iniciativas de estudantes e experiências com os públicos.
O público pode também assistir aos painéis reflexivos sobre as obras apresentadas, nos apontamentos provocados por especialistas convidados. No dia 19, a dramaturga Dione Carlos e a atriz Naruna Costa falam sobre Poeira (SC) e MIL LITROS DE PRETO: A MARÉ ESTÁ CHEIA (MG), e no dia 20, a diretora Sandra Vargas e o crítico Valmir Santos analisam A Palavra Progresso na Boca da Minha Mãe Soava Terrivelmente Falsa (PE) e A Vila de Pantolux (MT). No dia 22, Helena (AM) e Entremeios (SP) recebem o olhar da encenadora Luciana Lyra e do coreógrafo e ator Kleber Lourenço, enquanto no dia 24 O Resgate do Soldado Rayan (MG) e lepAp (PR) são comentados pelo diretor Lubi Marques e Lili Monteiro, e no dia 26, Cabaré Sade (RJ) e Transversos Corporais (PB) são novamente por Lubi Marques e Kleber Lourenço. O último dia da programação conta, ainda, com uma avaliação aberta de a_ponte, feita pelos críticos Kil Abreu e Roberto Lúcio, às 16h30.
Estreitando contatos entre novatos e veteranos, entre selecionados e convidados, uma programação fechada de encontros e atividades acontece em paralelo, criando mais pontes entre os participantes desta edição.
SERVIÇO
a_ponte: cena do teatro universitário
De 16 a 26 de janeiro de 2020 (quinta-feira a domingo)
Entrada gratuita
Veja a programação completa no atachado
Reserva online de ingressos a partir do dia 6 de janeiro (segunda-feira)
Pelo site www.itaucultural.org.br:
Será disponibilizado 1 ingresso por pessoa para cada espetáculo adulto. Já quanto aos espetáculos infantis, cada pessoa pode reservar até 3 ingressos online.
Público beneficiado pelas cotas on-line (obesos, cadeirantes e quem possui mobilidade reduzida): um ingresso + um ingresso para acompanhante
Apresentar o comprovante da reserva (impresso ou no celular) até 10 minutos antes do início do espetáculo.
Todos os ingressos serão reservados online. Caso tenha procura presencial no dia do evento, e a pessoa não tenha feito a reserva prévia, haverá fila de espera.