Grupo teatral As Malecuias estreia o espetáculo Monstro no Sesc Santo André
Realidade e ficção andam juntas na encenação, que mescla elementos diferentes do drama clássico, do teatro e da literatura moderna
- Data: 01/03/2023 09:03
- Alterado: 01/03/2023 09:03
- Autor: Redação
- Fonte: Sesc Santo André
Grupo teatral As Malecuias estreia o espetáculo Monstro
Crédito:Pedro Falcão/Estúdio Moshimoshi
Texto inédito de Karen Sacconi, Monstro terá duas únicas apresentações no Sesc Santo André, dias 9 e 10 de março, às 20h. O espetáculo, encenado pelo grupo As Malecuias, revisita a estrutura da tragédia grega e algumas de suas imagens servem a um propósito: ao mesmo tempo em que impõem certo distanciamento estético, refletem o momento de pessimismo dos últimos anos e a prolongada catarse social recentemente vivida, produzida pela convivência com um inconcebível número de mortes diárias conjugada com uma liderança nefasta.
Na trama, sob a influência de um líder recém-chegado ao poder, uma mulher passa a levar seu cachorro a uma rinha de cães, defendida pelo novo líder como prática e símbolo dos novos tempos, representando a supremacia do mais forte e o culto à violência. Com a morte de um faxineiro que fazia a limpeza da carnificina, a rinha é colocada em xeque, deixando a mulher e sua mãe em lados opostos. O título da peça, Monstro, remete sobretudo à deformidade moral da concepção de justiça da barbárie, que leva a um desfecho fatal.
A concepção dramatúrgica da montagem se assenta em dois modelos. O primeiro é o da tragédia grega, referência não só enquanto estrutura formal, mas também como parte de um diálogo intertextual. Não por acaso, Karen Sacconi é formada em grego clássico pela Universidade de São Paulo e doutora em Letras Clássicas, pela mesma instituição, na área de teatro grego. O segundo fundamento da concepção dramatúrgica do texto é a combinação de dois elementos típicos do teatro e da literatura moderna: o duplo e a metamorfose da personagem em animal, cujos precedentes literários e dramatúrgicos mais conhecidos são A metamorfose, de Kafka, e O Rinoceronte, de Ionesco.
A ação principal é entrecortada por cenas que, se no início parecem compor uma ação paralela com a finalidade de respiro cômico, aos poucos, vão se conformando em uma espécie de coro trágico, cuja função é refletir e comentar os eventos da ação dramática principal num registro mais poético.
A diretora do espetáculo, Milena Faria, foi apresentada ao texto em 2020, em meio à pandemia. “Sozinha, no meu apartamento, sem ver amigos e família, li e chorei. Gritou-me, por meio do texto, a nossa realidade. Não era a pandemia da Covid-19 o nosso maior problema, era a epidemia de um discurso de ódio se alastrando pelos quatro cantos do país, minimizando dores, exaltando torturadores, discurso esse cujo espalhamento se deu mais rápido do que a variante Delta. Ao mesmo tempo em que me senti impotente, arrebatada por saber que realidade e ficção nunca caminharam tão juntas, tive a impressão de estar vivendo um momento muito especial, que é daqueles quando nos deparamos com uma obra de arte”, conta ela.
Sinopse
Influenciada por um líder recém-chegado ao poder, Silvana passa a levar seu cachorro, Glock, a uma rinha de cães. A rinha é defendida pelo novo líder como prática e símbolo dos novos tempos, representando a supremacia do mais forte e o culto à violência. Sob o olhar entusiasmado do pai, e reticente da mãe, a jovem Silvana adere a essa versão distorcida de meritocracia. Na rinha, ela encontra um rapaz encarregado de implementar as ordens do líder: incentivar a luta dos animais e administrar o trabalho dos faxineiros, incumbidos de se livrar dos corpos dos cães mortos. O momento de inflexão se dá com a morte de um faxineiro, atacado pelo cão enquanto fazia seu trabalho de limpeza da carnificina. A morte de uma pessoa coloca em xeque a rinha e fará com a mãe de Silvana, antes condescendente com a prática, se oponha à continuidade da luta de cães. Mas Silvana escolhe defender a rinha, a nova ordem imposta pelo líder, e radicaliza sua visão de que os divergentes devem ser tirados do caminho.
Serviço:
Monstro
Com As Malecuias
Duração: 60 minutos.
Não recomendado para menores de 16 anos – Autoclassificação.
Acesso para pessoas com mobilidade reduzida.
Recomenda-se o uso de máscara durante todo o espetáculo.
Realização: Ministério da Cultura e Fundação Bienal de São Paulo, com apoio institucional do Sesc
Sesc Santo André
Dias 9 e 10 de março, quinta e sexta, às 20h.
Rua Tamarutaca, 302, Vila Guiomar, Santo André. Tel. 4469-1200. Capacidade: 302 lugares. Ingresso – Grátis – distribuição a partir do dia 1º/3 em www.sescsp.org.br e presencialmente nas Bilheterias da Rede Sesc SP. Estacionamento para o espetáculo – R$6,00 – portadores de Credencial Plena válida e R$11,00 – público geral.