Governo monitora manifestações em países vizinhos e teme ‘contaminação’

Bolsonaro e setores de inteligência do governo monitoram com preocupação o cenário de conflito em países vizinhos, como Bolívia e Chile

  • Data: 23/10/2019 15:10
  • Alterado: 23/10/2019 15:10
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Governo monitora manifestações em países vizinhos e teme ‘contaminação’

Crédito:Reprodução e Tono-Carbajo/Fotomovimiento/Fotos Públicas

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Há um temor de que o clima de revolta possa contaminar o Brasil, que também vive momento político conturbado.

Em viagem ao Japão, Bolsonaro disse nesta quarta-feira (terça no Brasil), 23, ter acionado o Ministério da Defesa para deixar as Forças Armadas de sobreaviso em caso de protestos semelhantes no País. “A gente se prepara para usar o artigo 142 da Constituição Federal, que é pela manutenção da lei e da ordem, caso eles (integrantes das Forças Armadas) venham a ser convocados por um dos três Poderes”, disse o presidente.

A preocupação entre auxiliares do presidente está relacionada a possíveis confrontos violentos provocados pela polarização política no País.

De um lado, a avaliação é de que o resultado do julgamento sobre a prisão em segunda instância no Supremo Tribunal Federal, retomado nesta quarta-feira, pode ser o estopim de manifestações de apoiadores da Lava Jato e do governo Bolsonaro.

Caso os ministros da Corte alterem o atual entendimento, um dos beneficiados poderá ser o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba desde abril de 2018 e ainda é o principal nome de oposição no País.

O jornal O Estado de S. Paulo mostrou nesta terça-feira que grupos isolados de caminhoneiros ameaçam promover protestos caso a votação no STF possibilite a soltura de Lula. Ministros também têm sido pressionados pelas redes sociais.

Mensagens de parlamentares da oposição associando protestos no Chile ao resultado de políticas ligadas à direita também são vistas com receio por assessores no Palácio do Planalto. Citam, como exemplo, o senador Humberto Costa (PT-PE), que, na avaliação de interlocutores do presidente, “ultrapassou as raias da irresponsabilidade”.

“A paciência do povo com a direita ultraliberal, fascista, entreguista está acabando em diversos lugares do mundo. Jair Bolsonaro está com os dias contados. É questão de tempo. A hora do Brasil vai chegar. Anotem aí”, postou Costa no Twitter.

Do Japão, onde acompanha o presidente pelo tour asiático, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, acusou a “esquerda radical” de estar por trás das manifestações nos países vizinhos para criar um ambiente de conturbação e tentar voltar ao poder.

“Na América do Sul, estamos vivendo um momento difícil em que a esquerda radical, desesperada com a perda de poder, vai jogar todas as suas fichas na mesa para conturbar a vida dos países sul-americanos e tentar retornar ao poder de qualquer maneira e nos jogar no abismo”, disse o general.

Temor
Na avaliação de oficiais-generais ouvidos pelo Estado, embora os cenários sejam diferentes entre o Brasil e seus vizinhos, o monitoramento é necessário para identificar o que chamam de “contaminação”. Além de Chile e Bolívia, também citam as situações conturbadas na Argentina, Peru e Equador.

O Chile entrou no quinto dia de protestos após o aumento de quase 4% da tarifa de transporte público. Ao menos 18 pessoas morreram. No Equador, o motivo das manifestações foi a alta na tarifa do metrô e do combustível.

Já na Bolívia, manifestantes foram às ruas após a apuração parcial indicar a quarta reeleição do presidente Evo Morales. No Peru, para onde viaja nesta quarta vice-presidente Hamilton Mourão, o atual governo enfrenta resistência da oposição fujimorista, o que deixa o cenário político conturbado. Além disso, a Argentina poderá ser o próximo local de instabilidades com a possível volta da esquerda ao poder.

A inquietação no Brasil, de acordo com os militares ouvidos, pode ser agravada pela demora na recuperação da economia no País principalmente na dificuldade de diminuir os índices de desemprego – hoje em torno de 12%.

Na avaliação de militares, o próprio presidente e seu entorno contribuem para o clima de acirramento político ao partir para o confronto. Na terça, em reação a Humberto Costa, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente, fez ofensas ao petista. “Temos de estar preparados para combater este tipo de vagabundo e bandido! Eu estou!”, postou Carlos em sua conta no Twitter.

O senador negou estar incitando protestos. “Estamos apenas dizendo que o governo Bolsonaro pode levar o Brasil para o abismo, com possibilidade de convulsão social”, afirmou Costa ao jornal. Apesar de defender a liberdade para Lula, o petista disse que sua postagem nas redes não tem qualquer relação com o resultado do julgamento do Supremo. “Queremos nos opor às políticas do governo, que estão produzindo desigualdade, justamente para evitar que protestos como os ocorridos no Chile aconteçam aqui”, argumentou.

Pelo menos dois dos oficiais-generais consultados citaram ainda o fato de o comando no País estar nas mãos do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) nos próximos dias. Com Bolsonaro no Japão, o vice, Hamilton Mourão, assumiu a Presidência, mas ele viaja hoje ao Peru e só retorna na sexta-feira. Segundo na linha de sucessão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também está fora do País, em missão oficial na Europa.

O problema, para estes militares, é que em um momento crítico no País, o comando do Palácio do Planalto estará nas mãos de um senador.

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  • Data: 23/10/2019 03:10
  • Alterado:23/10/2019 15:10
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo









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