Golpe da vacina: grupos usam falso agendamento para roubar acesso a redes sociais
Criminosos se apresentam como representantes do governo federal; Ministério da Saúde diz que não envia códigos para celulares
- Data: 11/02/2021 18:02
- Alterado: 11/02/2021 18:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Criminosos realizam falso agendamento de vacinação para roubar dados de vítimas
Crédito:Reprodução
Golpistas têm aproveitado a pandemia do novo coronavírus para tentar roubar acesso a redes sociais e arrecadar dinheiro de vítimas. Na modalidade mais nova, o criminoso se apresenta como representante do governo federal e usa como isca um falso agendamento da vacinação contra a covid-19 por WhatsApp — procedimento que nem sequer é realizado pelo Ministério da Saúde.
Em janeiro, a pasta comandada pelo general Eduardo Pazuello chegou a emitir alerta sobre o golpe em prática no País. “O Ministério da Saúde esclarece que não realiza agendamento para aplicação de nenhum tipo de vacina, e nem envia códigos para celular dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS)”, diz o comunicado. “Caso receba solicitação de cadastro, não forneça seus dados e denuncie às autoridades competentes.”
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O Ministério da Saúde informa que, caso o cidadão não esteja cadastrado na sua base de dados, o profissional do posto de saúde pode fazer o registro na hora do atendimento, com o CPF ou a Carteira Nacional de Saúde (CNS). Também orienta que é possível baixar o aplicativo Conecte SUS Cidadão, uma ferramenta oficial, que gera o QR Code para apresentar no momento da vacinação contra a covid-19.
Para realizar a fraude, o golpista tenta enganar a vítima dizendo ser preciso informar “o número de protocolo de 6 dígitos enviado via SMS” e assim validar o falso agendamento. Especialistas em crimes digitais, no entanto, alertam que, ao comunicar esse número, a vítima, na verdade, está compartilhando a chave que permite o criminoso clonar o WhatsApp, ter acesso aos seus contatos e depois se passar pelo usuário para tentar arrecadar dinheiro.
“O golpista pede o código porque está usando um mecanismo de validação para tentar furtar a conta. Essa senha é utilizada, por exemplo, quando a pessoa compra um aparelho novo e vai fazer a migração do aplicativo”, explica o perito criminal Eduardo Becker, especialista em segurança digital.
O próprio Becker foi vítima de uma tentativa de fraude no fim do ano passado. Na ocasião, entretanto, o golpe tinha outra roupagem. Na ocasião, os falsários também afirmavam ser do Ministério da Saúde e diziam se tratar de um inquérito epidemiológico para identificar regiões com mais casos de covid-19.
“Fizeram algumas perguntas simples: se alguém da minha família havia contraído a doença ou se eu morava com idosos e crianças. Só depois, eles pediram o código para ‘validar a pesquisa’”, descreve o perito. “Esperei chegar a este momento para informar ao criminoso que eu sabia que era golpe e iria registrar um boletim de ocorrência.”
O delegado Paulo Eduardo Barbosa, que atua na divisão de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil de São Paulo, afirma que o mais comum é o golpista se valer de assuntos muito comentados para ganhar a confiança da vítima. “Há uma série de versões do mesmo golpe”, diz. “O tema usado pelos criminosos normalmente é algo que desperta interesse. Hoje, se você falar ‘coronavírus’ a outra pessoa já tende a dar toda atenção e perder os filtros de segurança.”
Segundo Barbosa, o perfil da vítima é heterogêneo — ou seja, todos estão suscetíveis a cair em golpes. “Rotineiramente, vemos casos e mais casos. As vítimas são de todas as faixas etárias, sexo e faixa de renda”, afirma o delegado.
Barbosa alerta, ainda, que é importante registrar boletim de ocorrência em qualquer delegacia e manter o registro da conversa com o falsário. “É importante não apagar nenhuma mensagem ou informação, mesmo se for ofensiva ou sentir vergonha por ter sido enganada”, diz. “Esse é o rastro digital a partir do qual a gente vai conseguir identificar o criminoso.”