Fundos de infraestrutura disparam em 2024, mas crescimento deve desacelerar
Após um crescimento de mais de 700% em 2024, fundos de infraestrutura devem enfrentar um ano de menor expansão, com desafios macroeconômicos e maior seletividade dos investidores.
- Data: 02/02/2025 13:02
- Alterado: 02/02/2025 13:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Os trabalhos serão realizados com o auxílio de uma escavadeira embarcada
Crédito:Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística/Governo de SP
Os fundos de investimento em infraestrutura experimentaram um crescimento significativo em 2024, alcançando R$ 111,2 bilhões em captação líquida, conforme dados divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Este valor representa um aumento impressionante de mais de 700% em relação aos R$ 13,8 bilhões registrados em 2023.
Entretanto, especialistas preveem que esse dinamismo pode desacelerar ao longo de 2025. Clara Sodré, analista de fundos da XP Investimentos, destaca que a performance excepcional de 2024 foi impulsionada por transformações estruturais, como a criação de fundos exclusivos para infraestrutura e a reestruturação das carteiras. “Ainda pode haver um resquício desse movimento em 2025, mas o crescimento deve ser mais contido e focado no ajuste das carteiras”, afirma.
De acordo com Sodré, a primeira onda de investimentos foi catalisada por mudanças implementadas pelo governo Lula, que posicionaram os fundos de infraestrutura como alternativas atrativas para liquidez e proteção patrimonial. Agora, a segunda fase será caracterizada por uma alocação mais estratégica dos recursos. Em um cenário de altas taxas de juros e inflação, há desafios para empresas que buscam financiamento e para os próprios fundos que necessitam captar novos recursos.
“A seletividade se torna fundamental nesse cenário. Os investidores devem abordar suas alocações com cautela e um olhar voltado ao longo prazo, evitando aplicar apenas com base nos benefícios fiscais oferecidos pelos fundos de infraestrutura”, observa Sodré. Apesar do aumento contínuo na procura por esses investimentos, a expectativa é que o crescimento seja menos robusto do que o de 2024.
O desempenho positivo registrado no ano passado foi impulsionado por mudanças nas regulamentações governamentais. O Conselho Monetário Nacional (CMN) restringiu a emissão de títulos de crédito privado isentos de impostos, como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), além das Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA).
Além disso, a estrutura dos fundos de infraestrutura é baseada na alocação em títulos de dívida emitidos por concessionárias e empresas autorizadas a operar serviços públicos. Quando pelo menos 85% dos ativos estão investidos em debêntures incentivadas, os fundos são isentos do Imposto de Renda, o que também vale para os ganhos obtidos na venda das cotas.
A escassez de títulos isentos levou investidores a explorar alternativas semelhantes. Rafael Quintas, chefe da área de investimentos em renda fixa na Safra Asset, ressalta que o número total de fundos disponíveis saltou de 441 no fim de 2023 para 1.195 em 2024. Essa ampliação inclui fundos pulverizados — que diversificam as alocações entre várias debêntures — e fundos estruturados em torno de projetos individuais.
Os setores mais aquecidos incluem energia elétrica, transporte e saneamento. Esse movimento está alinhado à estratégia do governo Lula para ampliar a participação do capital privado em projetos de infraestrutura, especialmente em rodovias e ferrovias. Em 2023, os investimentos privados representaram 49%, com a meta de elevar essa participação para 75% até 2026.
A busca por capital privado é sustentada por um plano de concessões que envolve novos projetos e iniciativas retomadas. Serão leiloadas 35 rodovias, com expectativa de atrair US$ 41,9 bilhões (aproximadamente R$ 242 bilhões) em investimentos, além de cinco novas ferrovias, estimando US$ 13,5 bilhões (cerca de R$ 75 bilhões) em aportes.
Quintas alerta que, enquanto os leilões oferecem incentivos aos investidores, os gestores podem se envolver em projetos ainda não desenvolvidos, o que acarreta riscos adicionais na execução das obras. Nesse contexto, o histórico dos gestores se torna crucial em um cenário de inflação alta e juros elevados.
Atualmente, a taxa Selic está fixada em 13,25% ao ano e pode atingir 14,25% até março, com previsões de encerrar 2025 em torno dos 15%. A expectativa para a inflação é que o IPCA alcance 5,5% até o final do ano.
Normalmente, as debêntures incentivadas oferecem retornos baseados na variação do IPCA, além de um adicional pelo risco associado ao título no momento da emissão.
Diante dessa combinação de riscos macroeconômicos e de projetos prolongados, uma postura cautelosa será essencial ao longo de 2025. “Neste cenário desafiador, a análise minuciosa do crédito pode se revelar mais relevante do que simplesmente observar os preços dos ativos”, conclui Quintas. Ele enfatiza que é vital identificar quais projetos têm maior potencial para superar desafios como inflação elevada e juros altos.
Para investidores, os fundos de infraestrutura são uma alternativa para diversificação, ajudando a reduzir riscos em portfólios expostos a setores mais voláteis, como consumo e ações, que sofrem mais com a pressão da alta das taxas. Vale ressaltar que muitas concessões nessa área são ajustadas pela inflação, tornando esses investimentos ainda mais atrativos.