Filme “1982” expõe medos e sonhos de um garoto durante guerra no Líbano
Na época, as forças de defesa de Israel invadiram o sul do Líbano para conter os ataques dos palestinos; assista ao trailer
- Data: 07/06/2022 15:06
- Alterado: 22/08/2023 22:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução
O cineasta libanês Oualid Mouaness era uma criança e não entendia nada. O ano era 1982. Ele estava na escola e, entre uma prova e outra, pontuadas por um amor típico da infância, viu quando a Primeira Guerra do Líbano explodiu nas ruas do país. Na época, as forças de defesa de Israel invadiram o sul do Líbano para conter os ataques dos palestinos. Os professores não tinham como conter a tensão e as crianças tentavam decifrar aquele sentimento de medo. Essa é a história contada em 1982, em cartaz nos cinemas do País.
Na estreia como diretor de longas, Oualid repete o que Alfonso Cuarón fez com a obra-prima Roma e Kenneth Branagh fez com Belfast. Para contar um fato histórico importante, ele o passa pelo filtro infantil e ingênuo de alguém que ainda não atingiu a maioridade.
É a jornada de Wissam (Mohamad Dalli), garotinho que está descobrindo dores e maravilhas do amor, numa paixão avassaladora por uma colega de classe. Há, ainda, o amigo que não entende muito bem esse amor e a professora (Nadir Labaki), preocupada com a guerra.
MICROCOSMO
É um microcosmo daquele momento de medo coletivo em que detalhes dos sentimentos do país são vistos pela reação dos alunos, professores e pais. “É uma ideia que esteve comigo por muito tempo, que nasceu na conversa com um produtor libanês sobre onde cada um estava quando a guerra estourou. Lembro, por exemplo, do dia dos atentados do 11 de Setembro. E durante a guerra do Líbano?”, questiona o cineasta, em entrevista feita durante sua vinda a São Paulo. “É baseado em minha própria experiência, meu último dia na escola em 1982”.
Com esse olhar infantil comandando a história, Oualid não vai para o caminho estético mais óbvio. A guerra nunca é mostrada. Há tanques atravessando a rua da escola, o rádio a pilha do professor gritando notícias, mas o foco é o romance de Wissam com a sua jovem paixão. “Eu mandava cartinhas quando estava na escola. Minha mãe chegou a ser chamada pela direção”, conta Oualid, aos risos.
Hoje, Oualid mora em Los Angeles – está lá há cerca de 20 anos, desde que chegou para estudar cinema e produzir seus primeiros curtas. Esse distanciamento ajudou o diretor a perceber que seus pares não são retratados nas telonas como deveriam. “Não havia um filme sobre as pessoas comuns que não participaram de tudo que aconteceu na guerra”, diz. “Ninguém sabe exatamente quem somos, nem como vivemos ou como somos parecidos com o restante do mundo. As pessoas só nos conhecem pelas notícias”.
Logo que chegou para a entrevista, Oualid mostrou como se sentia confortável por estar no Brasil, mas admitiu que, na rua, tomou cuidado redobrado, na noite anterior, ao sacar o celular do bolso. “Sinto que o Líbano é do tamanho de um quarteirão de São Paulo”, diz o diretor. Segundo ele, o filme chega em um momento importante no País. “No fim, as crianças no Brasil, no México ou Arábia Saudita têm os mesmos sentimentos. Somos essencialmente os mesmos. Somos pessoas”.