Ex-diretor alerta sobre deterioração de arquivos históricos do RJ
Preocupações com a preservação de documentos históricos no RJ: ex-diretor alerta sobre riscos e condições alarmantes no Arquivo Público.
- Data: 09/01/2025 21:01
- Alterado: 09/01/2025 21:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Arquivo pessoal
Recentemente, o ex-diretor-geral do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, Victor Rosa Travancas, destacou preocupações sérias sobre a integridade dos documentos relacionados ao ex-deputado Rubens Paiva, cuja história foi retratada no filme “Ainda Estou Aqui“. Travancas, que foi exonerado pelo governador Cláudio Castro (PL), afirmou que os arquivos estão “esfarelando na mão” devido às precárias condições de conservação do local.
Travancas foi demitido na quarta-feira (8) após determinar a interdição do arquivo, alegando problemas estruturais graves que não foram reconhecidos pela administração atual. A gestão do governador Castro refutou essas alegações, negando tanto a existência de problemas estruturais quanto a deterioração dos documentos relacionados a Paiva.
A Casa Civil do estado garantiu que os arquivos referentes ao ex-deputado estão “em bom estado de conservação”, com monitoramento contínuo por uma equipe especializada responsável pela preservação dos documentos. Além disso, para facilitar o acesso à informação pública, foi realizada a digitalização da documentação, incluindo registros que evidenciam a cassação de Rubens Paiva durante o regime militar.
Em sua defesa, Travancas relatou à Folha que as condições no prédio são alarmantes, com indícios de umidade excessiva em salas de armazenamento e estrutura comprometida. Ele apontou pisos afundados e uma pilastra rachada como riscos significativos para a segurança do local.
Por outro lado, a Secretaria da Casa Civil afirmou que a decisão de fechar o arquivo foi “unilateral” e sem consulta aos órgãos competentes. Em resposta às alegações de Travancas, a pasta informou que o Arquivo Público possui laudos válidos e foi recentemente vistoriado pelo Corpo de Bombeiros, que não encontrou risco iminente que justificasse sua interdição.
Laudos enviados à reportagem indicam que embora existam fissuras em algumas áreas do prédio, estas não comprometeriam seu uso. Sistemas essenciais como hidrantes e alarmes estão em operação e em conformidade com as exigências legais.
Travancas expressou preocupação com a possibilidade de um desastre semelhante ao ocorrido no Museu Nacional, alertando que a situação dos arquivos é crítica e requer atenção urgente. Ele enfatizou que sem as devidas intervenções, os documentos históricos correm risco irreparável.
Ainda assim, durante uma visita ao Arquivo Público realizada na quinta-feira (9), a reportagem constatou que as atividades estavam sendo realizadas normalmente, com servidores atendendo pesquisadores. A Anpuh (Associação Nacional de História) também se manifestou publicamente, afirmando não ter recebido qualquer justificativa oficial para as medidas drásticas adotadas por Travancas.
Beatriz Kushnir, presidente da seção Rio de Janeiro da Anpuh, comentou sobre o estado precário dos arquivos públicos no Brasil e a necessidade urgente de investimentos para garantir sua preservação. Ela ressaltou que essa questão não é meramente acidental, mas parte de uma política mais ampla que envolve a terceirização da guarda documental.
Kushnir concluiu destacando a importância da digitalização e da realização de concursos para fortalecer os quadros técnicos responsáveis pela memória documental do país.