Escolas de SP começam a corrigir redação com inteligência artificial
Plataforma Redação SP, que foi lançada em agosto e apontava apenas erros gramaticais e ortográficos, agora faz toda a correção com IA e atribui até nota ao texto
- Data: 24/12/2023 09:12
- Alterado: 24/12/2023 09:12
- Autor: Laura Mattos
- Fonte: Folhapress
Crédito:Divulgação/Governo do Estado de SP
As redações produzidas por alunos das escolas estaduais de São Paulo começaram a ser corrigidas por inteligência artificial (IA). A plataforma Redação SP, que havia sido lançada em agosto e apontava apenas erros gramaticais e ortográficos, tem agora uma ferramenta que faz a correção total, incluindo critérios como coerência, argumentação, adesão ao tema, entre outros. A IA também dá uma nota ao texto.
A correção é feita de forma instantânea, mas não é encaminhada diretamente ao aluno, e sim ao professor. O docente pode validá-la por completo ou alterar a avaliação feita pela plataforma em um dos critérios ou mais, aumentando ou diminuindo a nota. Ele também pode editar o “feedback” automático gerado pela inteligência artificial, bem como inserir comentários ao longo do texto.
A expectativa da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, responsável pelo desenvolvimento da plataforma, é que a IA reduza a “fila” de correção. Desde o lançamento da Redação SP, foram produzidos 3,5 milhões de textos por estudantes do 6º ano do fundamental ao 3º do médio – como são cerca de 2,4 milhões de alunos nessas séries, a média foi de quase 1,5 redação por estudante no semestre letivo.
A secretaria observou que o número de redações não corrigidas era alto -chegou, em novembro, a 800 mil. Quando esse acúmulo foi registrado, a Redação SP ainda não corrigia integralmente os textos, apenas apontava os erros gramaticais e ortográficos.
O estudante, com auxílio de sugestões feitas pela plataforma, corrigia esses erros e encaminhava o texto para o professor. Ao receber a redação, o docente tinha que atribuir, manualmente, uma pontuação para cada um dos critérios da correção (coerência, fluência etc.), o que gerava a nota final.
O trabalho de correção acaba sendo volumoso, considerando que cada sala de aula tem entre 30 e 40 alunos e que os professores costumam trabalhar com mais de uma turma. Na prática, muitos textos não eram corrigidos, o que desestimulava os alunos.
Neste primeiro semestre letivo de operação da Redação SP, segundo a Secretaria da Educação, o tempo médio de correção foi de duas semanas. Com a nova ferramenta, que faz a correção por completo, a meta é tornar mais rápida essa devolutiva, o que pode colaborar para ampliar a produção dos estudantes -a pasta tem como ideal que cada estudante escreva uma redação por mês, pelo menos.
Educadores consultados pela Folha consideram a plataforma de inteligência artificial interessante para auxiliar os docentes e criar um fluxo maior de produção e correção de textos -o processo mais ágil tende a estimular o aluno a escrever mais.
É preciso, no entanto, ter cuidado para que a IA não distancie o professor das dificuldades dos estudantes. Como tudo já vem corrigido, o docente pode perder a noção dos erros que os alunos estão cometendo e, assim, deixar de orientá-los.
A Secretaria de Educação afirmou que, justamente por isso, o professor precisa validar a correção feita pela IA. Mas admite que, de fato, o docente não recebe informações dos erros ortográficos e gramaticais que o aluno cometeu e que corrigiu com auxílio da plataforma antes de entregar o texto. Sobre esse ponto, os técnicos responsáveis pela criação da plataforma afirmaram à Folha que podem pensar em desenvolver uma ferramenta que registre esses erros e passe as informações aos professores.
A secretaria também ressalta que terá os dados de quanto cada professor está interferindo na correção feita pela IA. Será possível saber se ele apenas validou a correção automática ou se a alterou, e em que pontos a avaliação foi modificada.
As aulas de redação, de acordo com a Secretaria de Educação, acontecem em salas em que há um computador para cada estudante, e o ideal é que a produção de textos ocorra na escola. Em casa, o aluno é estimulado a escrever o rascunho à mão (o que também é um treino para o Enem e outros vestibulares que não utilizam computador).
A plataforma tem propostas de redação de diferentes gêneros textuais (dissertação, carta etc.) e contempla os modelos de textos exigidos pelo Enem e pela Fuvest (há diferenças no formato e nos critérios de correção). Os temas são elaborados pela Secretaria de Educação, mas os professores também podem inserir propostas autorais.
A partir do próximo ano, a secretaria espera ter uma visão mais aprofundada de como está a produção e a correção de redação em cada escola e pretende encaminhar especialistas para auxiliar os docentes sobre o uso da Redação SP. Esses assistentes são também professores de português, nomeados “embaixadores da redação”.
O secretário de educação, Renato Feder, afirmou à Folha que considera que este primeiro semestre de operação da plataforma já teve um número “impressionante” de produção de textos e que a quantidade “deve ser muito maior em 2024”.
“Em 2022, apenas 23% dos estudantes do Estado de São Paulo aprenderam língua portuguesa de verdade”, ele diz, citando o percentual de alunos do 9º ano do fundamental e do 3º do médio com aprendizagem adequada de acordo com o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo).
“Quando nos deparamos com números como esses, vimos que algo estava errado. Não era possível saber se o aluno escrevia uma redação, se ela era corrigida, se o professor apontava para o estudante os erros e os acertos do texto”, afirma.
Com a IA, segundo Feder, será possível “acompanhar de perto o processo”. “Um braço virtual ajuda na correção e considera pontos cruciais da escrita. E o mais importante: é sempre o professor quem dá a opinião final. Sem ele, o aluno não aprende nada.”