Emoção, música e luta: Diadema festeja a força da mulher negra
Roda de conversa e apresentação musical reuniu cerca de 150 pessoas no auditório do Centro Cultural Vladimir Herzog
- Data: 25/07/2022 19:07
- Alterado: 25/07/2022 19:07
- Autor: Redação
- Fonte: Prefeitura de Diadema
Roda de conversa Mulheres Negras no Poder no Centro Cultural Vladimir Herzog. Rua Eduardo de Matos, 159 - Campanário, Diadema/SP. Fotos Dino Santos. Brasil_25_07_2022.
Crédito:Dino Santos / PMD
Cerca de 150 pessoas participaram, na tarde desta segunda-feira (25), de evento em celebração ao Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha e ao Dia Nacional de Tereza de Benguela, no auditório do Centro Cultural Vladmir Herzog, no bairro Campanário, em Diadema. O 25 de julho foi marcado por muita música, com a apresentação do projeto Reviver; luta e emoção, com a roda de conversa “Mulheres Negras no Espaço de Poder”. Na plateia, foi grande a presença de jovens estudantes do projeto Adolescente Aprendiz dos núcleos 18 de Agosto e Maria Tereza.
A atividade foi aberta com apresentação de músicas de grandes artistas brasileiros que já faleceram. Lucinete Santos, que além de cantora é também enfermeira, classificou como um momento de muito orgulho o convite para se apresentar, ao lado dos músicos Lucas Guerra e Sidys Silva. “Sempre fui muito engajada e lutei pela causa da mulher negra. Estar aqui é também a oportunidade de cantar para o meu povo”, afirmou.
A coordenadoria de Políticas Públicas Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Diadema (Creppir), que foi a mediadora da roda de conversa, destacou que o governo do prefeito José de Filippi Júnior é um bom exemplo de como é possível que as mulheres negras tenham espaço na tomada de decisões e nas discussões de políticas públicas. “Temos três mulheres nessas áreas no governo, além de mim, a vice-prefeita Patty Ferreira e a coordenadora de Políticas para as Mulheres, Cleone Santos. Nossa proposta hoje é justamente mostrar que isso pode ser realidade e falar sobre a importância disso”, definiu Márcia Damaceno, coordenadora do Creppir.
Cleone lembrou aos presentes que a história de resistência das mulheres negras não começa no Brasil, e sim na África, onde elas eram rainhas e líderes. “Não fomos escravas. Fomos escravizadas. E não podemos permitir que desconstruam a nossa história”, afirmou. “Vamos lutar que negros e negras tenham um lugar de igualdade na sociedade, como nossos irmãos não negros”, completou.
A secretária de combate ao racismo da CUT e sócia-fundadora da ONG Negra Sim, Rosana Aparecida da Silva, apresentou dados que mostram que as mulheres negras assalariadas ganham, em média, a metade dos salários de homens brancos. “O jovem negro hoje entra mais tarde no mercado formal e mesmo com capacitação tem mais dificuldade para ascender profissionalmente”, apontou. “As políticas de cotas fizeram com que os negros chegassem às faculdades, mas é preciso iniciativas que os ajudem a se inserir no mercado de trabalho e transpor o racismo institucional”, pontuou.
Uma das organizadoras da I Marcha da Mulher Negra, realizada em Brasília em 2015, a coordenadora do Fórum de Mulheres Negras do Estado de São Paulo e membra fundadora da Oriashé – Organização de Mulheres Negras, Kika Silva, emocionou os presentes ao contar a história de luta das mulheres negras e de como foi preciso, muitas vezes, invadir os lugares para que pudessem ser ouvidas e ter suas demandas minimamente atendidas. “Ver essas mulheres que eu conheci há anos, lutando ao meu lado, hoje ocupando cargos de vice-prefeita, de coordenadoras, de secretárias, é uma grande alegria”, declarou.
Kika reconheceu que é difícil romper a bolha que separa a militância e a atuação na sociedade civil organizada dos espaços de governo e decisão e que ver essa realidade na Prefeitura de Diadema é ter a certeza que toda luta não foi em vão. “Essas mulheres que estão aqui hoje são fruto de toda essa luta”, ponderou.
Antes do encerramento, os jovens do programa Adolescente Aprendiz puderam fazer perguntas às participantes da mesa, e entre estudantes de 15 e 16 anos, o desejo por saber formas de escolher bem um candidato e lutar contra o racismo foi unânime. “Como podemos combater o racismo na sociedade e ajudar a reduzir as estatísticas de feminicídio?”, perguntou Ester Silva Ribeiro, 15 anos. “Como encontrar pessoas que nos representem e fazer valer nossos direitos?”, foi o questionamento de Gustavo Sena, 15.
A vice-prefeita Patty Ferreira, que também é secretária de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, os aconselhou a se politizar, pesquisar, ler sobre os candidatos, ler sobre as diferentes correntes políticas, participar de grêmios estudantis, participar o máximo possível das esferas de discussão. “É muito importante esse diálogo com a juventude, que está sedenta de informações e nesse momento temos que ajuda-los a encontrar os caminhos. Precisamos fortalecer esses espaços de conversa e troca”, concluiu.
Kika ressaltou que a atual geração de jovens tem a possibilidade de se envolver com as lutas na internet, que acabou com as distâncias físicas, mas destacou que sem políticas públicas que sejam pensadas para eles, especialmente os negros e negras periféricas, não haverá transformação. “É preciso um governo comprometido. Foi muito importante esse diálogo e que eles conheçam a nossa história de luta”, finalizou.