É Guerra? Por Terra, Mar e Ar
São tempos sombrios, não há como negar, na Europa com a invasão da Rússia a Ucrânia, déjà-vu que não viviam desde a Segunda Guerra Mundial
- Data: 24/02/2022 09:02
- Alterado: 24/02/2022 09:02
- Autor: Alex Faria
- Fonte: Reuters
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Forças russas invadiram a Ucrânia por terra, ar e mar nesta quinta-feira no maior ataque de um Estado contra outro na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Na manhã desta quinta-feira mísseis russos caíram sobre cidades ucranianas. Há relatos de colunas de tropas russas cruzando suas fronteiras nas regiões leste de Chernihiv, Kharkiv e Luhansk e informações que tropas russas desembarcaram por mar nas cidades portuárias de Odessa e Mariupol, no sul da Ucrânia. Na capital Kiev explosões foram ouvidas antes do amanhecer. Tiros, sirenes e o povo em fuga, encontrando a estrada congestionada, rota de fuga da população.
O ataque ocorreu após semanas de infrutíferos esforços diplomáticos de líderes ocidentais para evitar a guerra logo que perceberam seus piores temores sobre as ambições do presidente russo, Vladimir Putin.
ATAQUE TRAIÇOEIRO
“A Rússia atacou traiçoeiramente nosso estado pela manhã, como a Alemanha nazista fez nos anos da Segunda Guerra Mundial“, tuitou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy. “A partir de hoje, nossos países estão em lados diferentes da história mundial. A Rússia embarcou no caminho do mal, mas a Ucrânia está se defendendo e não desistirá de sua liberdade, não importa o que Moscou pense.”
Zelenskiy pediu aos ucranianos que defendam o país nas ruas de suas cidades e disse que as armas serão dadas a qualquer um que esteja preparado para lutar e pediu aos russos que saíssem às ruas para protestar contra as ações de Putin.
O chefe de relações exteriores da UE, Josep Borrell, disse: “Estas estão entre as horas mais sombrias da Europa desde a Segunda Guerra Mundial“.
DEBANDADA
Em Kharkiv, próxima da fronteira com a Rússia, janelas dos prédios de apartamentos tremiam com as explosões constantes. Em Mariupol, perto da linha de frente mantida por separatistas apoiados pela Rússia, fumaça de um incêndio em uma floresta atingida por um bombardeio russo. Em Mangush e Berdyansk, as pessoas faziam fila por dinheiro e gasolina, se preparando para fugir.
Uma coluna blindada ucraniana se dirigia ao longo da estrada, com soldados sentados no topo de torres sorrindo e piscando sinais de vitória para carros que passavam que buzinavam em apoio.
MEDO
Filas de pessoas esperavam para sacar dinheiro e comprar suprimentos de comida e água em Kiev. O tráfego saindo da cidade em direção à fronteira polonesa estava congestionado. Os países ocidentais se prepararam para a probabilidade de centenas de milhares de ucranianos fugirem de um ataque.
No meio da manhã, o tráfego estava parado na estrada principal de quatro pistas para a cidade ocidental de Lviv. Os carros se estendiam por dezenas de quilômetros.
A GUERRA E SUAS VÍTIMAS INICIAIS
Os relatórios iniciais de vítimas não foram confirmados. A Ucrânia relatou pelo menos oito pessoas mortas por bombardeios russos e três guardas de fronteira mortos na região sul de Kherson.
Os militares da Ucrânia disseram que destruíram quatro tanques russos em uma estrada perto de Kharkiv, mataram 50 soldados perto de uma cidade na região de Luhansk e derrubaram seis aviões de guerra russos no Leste.
A Rússia negou relatos de que suas aeronaves ou veículos blindados foram destruídos. Separatistas apoiados pela Rússia alegaram ter derrubado dois aviões ucranianos.
GUERRA DIPLOMÁTICA
Em uma declaração de guerra televisionada nas primeiras horas, Putin disse que ordenou “uma operação militar especial” para proteger pessoas, incluindo cidadãos russos, submetidos a “genocídio” na Ucrânia – uma acusação que o Ocidente chama de propaganda absurda.
“E para isso lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia“, disse Putin. “A Rússia não pode se sentir segura, se desenvolver e existir com uma ameaça constante que emana do território da Ucrânia moderna… Toda a responsabilidade pelo derramamento de sangue estará na consciência do regime dominante na Ucrânia.”
A Rússia anunciou que estava fechando todos os navios no Mar de Azov. A Rússia controla o estreito que leva ao mar, onde a Ucrânia tem portos, incluindo Mariupol. A Ucrânia apelou à Turquia para barrar os navios russos dos estreitos que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo.
PRIMEIROS REFLEXOS
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que suas orações estão com o povo da Ucrânia “enquanto eles sofrem um ataque não provocado e injustificado“. Ele e outros líderes ocidentais prometeram sanções duras em resposta. “Somente a Rússia é responsável pela morte e destruição que este ataque trará, e os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderão de maneira unida e decisiva“, afirmou Biden.
A perspectiva de guerra e sanções perturbando os mercados de energia e commodities representava uma ameaça para uma economia global que mal emergia da pandemia. Os rendimentos das ações e títulos despencaram, enquanto o dólar e o ouro dispararam. O petróleo Brent ultrapassou US$ 100/barril pela primeira vez desde 2014.
A Ucrânia, um país democrático de 44 milhões de pessoas com mais de 1.000 anos de história, é o maior país da Europa em área depois da própria Rússia. Ele votou esmagadoramente pela independência após a queda da União Soviética e pretende se juntar à OTAN e à União Europeia, aspirações que enfurecem Moscou.
Putin, que negou durante meses estar planejando uma invasão, chamou a Ucrânia de uma criação artificial esculpida na Rússia por seus inimigos, uma caracterização que os ucranianos dizem ser falsa.
NA CONTRAMÃO
Líderes mundiais expressaram indignação quase universal com a invasão, diferentemente da China, que assinou um tratado de amizade com a Rússia há três semanas, uma exceção notável. Pequim reiterou um apelo para que todas as partes exerçam moderação e rejeitou a descrição da ação da Rússia como uma invasão.