Decano pede atenção de colegas a falas de Weintraub contra STF
O ministro Celso de Mello, decano do STF, encaminhou para colegas da Corte cópia do inquérito que investiga as acusações de suposta tentativa de interferência política de Bolsonaro na PF
- Data: 26/05/2020 11:05
- Alterado: 22/08/2023 21:08
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Celso de Mello apontou a colegas do STF a "gravíssima aleivosia" feita por Weintraub
Crédito:Nelson Jr./SCO/STF
Além de deixar a cargo dos colegas que adotem, “querendo”, as medidas que “que julgarem pertinentes”, pediu atenção especial para o trecho do vídeo, anexado ao processo, de reunião ministerial em que Abraham Weintraub (Educação) defende a prisão dos ministros do STF, a quem chama de “vagabundos”.
No despacho, o ministro envia cópia da transcrição da reunião ministerial do dia 22 de abril apontada pelo ex-ministro Sérgio Moro como uma prova de que Bolsonaro interferiu na Polícia Federal para proteger seus familiares e amigos. O vídeo foi tornado público na última sexta-feira pelo decano, relator do inquérito, e acabou revelando intervenções polêmicas não apenas do presidente.
“Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca. Era só isso presidente”, disse Weintraub.
Ao determinar a liberação da gravação, Celso de Mello apontou para a “gravíssima aleivosia” feita por Weintraub em “um discurso contumelioso e aparentemente ofensivo ao patrimônio moral” dos ministros do Supremo. No entendimento do decano, as falas caracterizam possível delito contra a honra.
O despacho, obtido pelo Estadão, foi acompanhado do seguinte recado aos ministros: “Encaminho a Vossa Excelência cópia da decisão por mim proferida no inquérito em epígrafe (com especial para o ítem 8), bem assim reprodução da degravação procedida pelo Instituto Nacional de Criminalística para que vossa excelência possa adorar, querendo, as medidas que julgar pertinentes”. O ítem 8 é a fala de Weintraub.
O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, afirmou ao Estadão que ficou “perplexo” com o vídeo da reunião ministerial, marcada por palavrões, ameaças e ataques a instituições. E citou Weintraub: “Tudo lamentável, ante a falta de urbanidade. Fiquei perplexo. O povo não quer ‘circo’. Quer saúde, emprego e educação. Fosse o presidente (da República), teria um gesto de temperança. Instaria o Ministro da Educação a pedir o boné. Quem sabe?”
Após a repercussão da fala, Weintraub afirmou nas redes sociais que sua fala teria sido “deturpada”. “Não ataquei leis, instituições ou a honra de seus ocupantes. Manifestei minha indignação, em ambiente fechado, sobre indivíduos. Alguns, não todos, são responsáveis pelo nosso sofrimento”, postou.