Crise hídrica no Brasil: 50% do território sofre com 18 meses de seca
Além da seca, incêndios florestais têm se alastrado pelo país
- Data: 19/12/2024 07:12
- Alterado: 19/12/2024 07:12
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Crédito:Reprodução
Dados recentes do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) revelam a gravidade da crise hídrica que afeta o Brasil, onde aproximadamente 50% do território nacional enfrentou pelo menos 30 dias consecutivos em condições de seca. A estiagem, que teve início em junho de 2022, já dura 18 meses e continua a causar estragos significativos nas comunidades e na economia do país.
A situação é particularmente crítica nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde os rios secaram, isolando comunidades inteiras e provocando perdas econômicas estimadas em bilhões. Segundo levantamento exclusivo obtido pelo g1, mais de 130 cidades enfrentaram pelo menos nove meses de estiagem durante esse período.
Os especialistas indicam que os fenômenos climáticos, como o El Niño, juntamente com as ações humanas — incluindo desmatamento e práticas agrícolas inadequadas — têm exacerbado a situação. Em um contexto onde mais de 5 milhões de quilômetros quadrados foram afetados pela seca, isso representa cerca de 59% do território brasileiro, estabelecendo um recorde alarmante.
As diferentes intensidades da seca entre as regiões são atribuídas à vasta extensão territorial do Brasil e à diversidade climática que abrange o país. Enquanto algumas áreas sofreram mais severamente, outras conseguiram evitar os efeitos devastadores dessa crise hídrica.
O Cemaden monitorou o impacto da estiagem em cada estado e concluiu que 137 municípios passaram mais da metade do tempo da crise enfrentando seca severa. Santa Isabel do Rio Negro, no Amazonas, destacou-se como a cidade com a maior duração de estiagem, registrando impressionantes 14 meses sem chuvas significativas.
Além disso, segundo dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), aproximadamente 2,8 milhões de pessoas foram diretamente afetadas pela crise hídrica. O cenário é dramático em várias localidades, onde rios secos privaram os habitantes de acesso a serviços básicos e aumentaram a vulnerabilidade alimentar.
No Amapá, por exemplo, alunos precisam caminhar uma hora através da lama para chegar à escola devido ao desvio dos rios. Já no Amazonas, a situação se agravou ao ponto de o estado declarar estado de emergência devido à seca extrema. Milhares de ribeirinhos estão lutando para acessar água potável em meio a bancos de areia expostos nos rios.
Além da seca, incêndios florestais têm se alastrado pelo país, alimentados por condições climáticas favoráveis e pela falta de chuvas. Isso resultou em uma nuvem densa de fumaça cobrindo quase 60% do território nacional, impactando ecossistemas vitais como o Pantanal e a Amazônia.
A CNM estima que os prejuízos financeiros decorrentes dessa crise já somam R$ 2 bilhões, refletindo as perdas no setor agropecuário e os gastos municipais destinados ao combate à situação crítica. Contudo, este valor pode estar subestimado dado que não abrange todas as regiões afetadas pela seca.
Os especialistas explicam que a variação na intensidade da seca está ligada a diversos fatores climáticos. O fenômeno El Niño tem contribuído para aumentar as temperaturas e alterar os padrões de precipitação no Brasil. Além disso, bloqueios atmosféricos impediram que frentes frias trouxessem chuvas necessárias para atenuar a estiagem.
Embora haja expectativa sobre uma possível mudança nas condições climáticas nas próximas semanas, especialistas alertam que um único período chuvoso não será suficiente para reverter os danos causados por essa longa seca. Luiz Marcelo Zeri, pesquisador do Cemaden, enfatiza que serão necessárias chuvas acima da média por um tempo prolongado para permitir uma recuperação efetiva das cidades afetadas.
A situação é ainda mais delicada com a chegada do verão, período em que as temperaturas tendem a aumentar ainda mais e potencializam a evaporação da água do solo e dos corpos hídricos. Prognósticos indicam que até março a seca poderá continuar impactando intensamente as regiões centrais do Brasil.