Criatividade e musicalidade na cerimônia de abertura do Rio-16

Momentos históricos como a chegada dos colonizadores portugueses e o episódio triste da escravização de africanos, fazem parte do roteiro

  • Data: 27/07/2016 09:07
  • Alterado: 27/07/2016 09:07
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo
Criatividade e musicalidade na cerimônia de abertura do Rio-16

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Em um ano de crise econômica e política, a cerimônia de abertura da Olimpíada, no Maracanã, na noite de 5 de agosto, não terá recursos tecnológicos comparáveis às edições de Londres-2012 e Pequim-2008. Com um orçamento em torno de R$ 100 milhões, um terço do que a Inglaterra gastou há quatro anos, o trio de diretores, os premiados cineastas Fernando Meirelles, Daniela Thomas e Andrucha Waddington, pretende apresentar o Brasil e o brasileiro lançando mão da criatividade dos artistas que criam esculturas gigantes para o festival amazonense de Parintins, da potência das baterias das escolas de samba do carnaval carioca e do apelo visual das coreografias de Deborah Colker, que vão do samba ao passinho do funk.

A cerimônia começará às 20 horas e está prevista para terminar às 23h30. No palco, de 128 por 63 metros – praticamente todo o gramado do estádio -, iluminado por 3.400 refletores, estará “o melhor da música, não aquela que toca no rádio”, nas palavras de Daniela Thomas. A apresentação conjunta de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Anitta, provavelmente cantando “Isso aqui o que é”, exaltação de Ary Barroso ao País e a seu povo (“isto aqui ô ô / é um pouquinho de Brasil iá iá”), será a principal da noite. Outras músicas que deverão integrar o repertório são “Aquarela do Brasil” (também de Ary), “Aquele abraço” (Gilberto Gil) e “Construção” (Chico Buarque).

A festa será dividida entre a entrada dos chefes de Estado e governo (cerca de 45 estão confirmados, segundo o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério do Esporte) e das bandeiras brasileira e olímpica, a execução dos dois hinos, o Nacional e o da Olimpíada, e o desfile de aproximadamente 10,5 mil atletas, momento historicamente de grande interesse dos telespectadores.

O desafio é manter a atenção da audiência, estimada em 3 bilhões de pessoas em todo o mundo – a despeito dos diferentes fusos horários ao redor do planeta. Na construção da cerimônia, a dosagem dos momentos mais cativantes foi pensada para a transmissão pela televisão não ser enfadonha. Coreografias e encenações representarão o brasileiro alegre e hospitaleiro, sua capacidade inventiva, o dom de misturar ritmos e o ambiente do País, com florestas, praias, fauna.

Momentos históricos serão retratados, como a chegada dos colonizadores portugueses e o episódio triste da escravização de africanos. São assuntos aos quais a equipe chegou após entrevistas com “pensadores, artistas e intelectuais que conhecem o Brasil profundo”, como Caetano, Gil, o antropólogo Hermano Vianna e o ensaísta José Miguel Wisnik, diz Meirelles em vídeo do Comitê Rio-2016.

“É uma cerimônia com olhar voltado para o futuro, ao contrário das anteriores, centradas no passado e que celebraram as conquistas nacionais. O Brasil é mundialmente conhecido pela exuberância natural. É esse o toque brasileiro que vamos inserir. Trocamos a dependência tecnológica pela inventividade. Será um espetáculo teatral, com narrativa estruturada, momentos de clímax, surpresas e outros recursos do teatro grego”, revela Abel Gomes, diretor executivo de criação da cerimônia e sócio da SRCOM, empresa que realiza o réveillon de Copacabana e que trabalha em parceria com a holding italiana FilmMaster Group.

ORÇAMENTOS – Leonardo Caetano, diretor de cerimônias da Olimpíada, argumenta que é difícil comparar com orçamentos de outros Jogos. “Sempre é pouco. Mas trabalhamos com a melhor matéria-prima. O que os diretores buscam é o espanto. Isso se consegue mesmo com zero tecnologia”, disse Caetano, que comanda 350 pessoas, entre eles especialistas que trouxeram a experiência dos Jogos de Londres e da Olimpíada de inverno em Turim, na Itália, disputada em 2006, e Sóchi, na Rússia, realizada em 2014. Ele guarda os dois maiores segredos da noite: quem cantará o Hino Nacional (especula-se que será o compositor Paulinho da Viola) e como a pira olímpica será acesa. Pelé e a supermodelo Gisele Bündchen, já confirmados na festa, são dois dos mais cotados.

A apresentação de dança, com cerca de uma hora de duração, contará com 5.500 pessoas, entre elas, 300 bailarinos, acrobatas e praticantes de parkour (atividade que consiste em superar obstáculos por meio de saltos). Os demais são voluntários, de 16 a 80 anos e profissões diversas, e que foram selecionados em audições. Divididos em grupos, ensaiam desde o começo do mês de maio. Os dois últimos treinos, com todos em cena, serão nos próximos dias, já com figurinos e maquiagem artística.

O elenco da cerimônia, composto por cerca de 200 crianças, é forçado por cláusula de confidencialidade a manter silêncio total sobre tudo o que envolve a produção. Nos ensaios, é proibida a entrada de aparelhos celulares e máquinas fotográficas. Nada relacionado à abertura pode ser compartilhado em redes sociais, sob risco de multa (o valor é sigiloso). O temor é que a antecipação de informações diminua o impacto da festa. O cuidado foi tamanho que o espaço aéreo do terreno dos os ensaios realizados em maio, junho e julho foi fechado a pedido da Rio-2016. O objetivo era evitar que helicópteros ou drones filmassem o que ocorria no solo.

A possibilidade de protestos durante a cerimônia não é um fantasma, diz Leonardo Caetano. Há três anos, no mesmo gramado, dois dançarinos abriram uma faixa na festa de encerramento da Copa das Confederações criticando “a privatização do Maracanã”. O diretor de cerimônias negou o boato de que, por causa do temor de manifestações políticas por parte dos artistas – Caetano participou de show-protesto contra o governo Michel Temer em maio – , os microfones ficarão desligados. Seriam ouvidas no estádio apenas as músicas em playback. “Protestos não são uma preocupação. Sempre podem acontecer, mas não acredito nisso”, afirmou.

A parte tecnológica ficará por conta das projeções, pensadas para tirar o fôlego do público. Serão 106 projetores, de onde sairão imagens a serem vistas por todo o estádio. As arquibancadas vão se transformar momentaneamente num grande mar azul graças ao recurso. O Rio será homenageado e exaltado em suas belezas naturais e pontos turísticos mais conhecidos e em seus ritmos musicais mais característicos, o samba e o funk.

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  • Data: 27/07/2016 09:07
  • Alterado:27/07/2016 09:07
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: Estadão Conteúdo









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