Copom deve manter aumento da taxa Selic para 13,25% ao ano

Nova reunião do Copom trará continuidade na política monetária, com projeções de aumento da Selic até 15% em 2025.

  • Data: 26/01/2025 14:01
  • Alterado: 26/01/2025 14:01
  • Autor: Redação ABCdoABC
  • Fonte: FOLHAPRESS
Copom deve manter aumento da taxa Selic para 13,25% ao ano

Crédito:Marcello Casal Jr / Agência Brasil

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Na próxima quarta-feira (29), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil deverá prosseguir com a estratégia de aumento da taxa Selic, elevando-a em um ponto percentual, para 13,25% ao ano. Esta será a primeira reunião sob a presidência de Gabriel Galípolo.

Especialistas consultados indicam que o Copom deve seguir a orientação conservadora estabelecida no final de 2024, quando foi anunciado que haveria aumentos da mesma magnitude nas reuniões subsequentes, programadas para janeiro e março.

Adicionalmente, espera-se que o comitê mantenha uma margem para futuras decisões, permitindo maior flexibilidade na política monetária a partir do segundo trimestre. O mercado financeiro, por sua vez, considera que não ocorreram mudanças significativas no panorama econômico que justifiquem uma alteração na abordagem do Banco Central.

Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina no Goldman Sachs, observa que o ritmo atual dos aumentos de juros está bem ajustado. Ele destaca as declarações dos membros do Copom sobre a dificuldade em mudar o “forward guidance” (sinalização futura) da política monetária.

Ramos levanta a questão sobre até onde a Selic poderá ser elevada ao final deste ciclo de aumentos, especialmente considerando a deterioração das expectativas inflacionárias. Atualmente, ele projeta que a taxa básica pode atingir 15% até 2025, mas acredita que existe uma “probabilidade razoável” de que os aumentos devam ser ainda mais expressivos.

O economista expressa preocupação com as projeções de inflação para prazos mais longos, que indicam uma possível perda de eficácia da política monetária. Para 2027 e 2028, as estimativas estão em 3,90% e 3,58%, conforme os dados divulgados no boletim Focus no último dia 20.

Ramos considera que o Banco Central representa atualmente o principal pilar de estabilidade econômica em um contexto marcado pela desconfiança em relação à política fiscal. Segundo ele: “A política monetária é a âncora, enquanto a política fiscal é a corrente que arrasta essa âncora“.

Ele menciona sinais claros de dominância fiscal — um cenário em que a autoridade monetária perde controle sobre a inflação devido à expansão significativa dos gastos públicos. Entre os sintomas dessa situação estão a contínua desvalorização do câmbio e as expectativas inflacionárias deterioradas.

Por outro lado, Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management, afirma que o Brasil ainda não entrou em um estado de dominância fiscal e defende que o Banco Central deve continuar aumentando os juros para controlar a economia.

Segundo ela, os juros atuais ainda não são suficientemente restritivos para desacelerar a economia e levar a inflação à meta de 3%. Srour observa que o mercado já precifica uma Selic ao redor de 16%, o mínimo necessário para evitar que a inflação em 2026 se distancie da meta prevista.

A partir do último encontro do Copom em dezembro, surgiu incerteza sobre a resiliência da economia devido aos indicadores mais fracos do varejo e serviços. Ela questiona se a esperada desaceleração começará já no segundo trimestre.

A economista aponta que, apesar da possibilidade de uma pressão desinflacionária, os riscos fiscais persistem e as expectativas inflacionárias estão deteriorando rapidamente. Para ela, essa é uma questão crucial para o Banco Central, já que se reflete imediatamente nos preços.

Srour antecipa um comunicado com um tom firme por parte do Copom e sugere que o comitê deve fornecer “forward guidance” apenas para uma reunião futura. Em sua visão, amarrar decisões futuras em um ambiente incerto não seria benéfico.

No cenário internacional, há um clima de incerteza desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos. As medidas iniciais apresentadas foram pouco concretas e proporcionaram apenas alívio temporário nos mercados financeiros.

Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e professor na Georgetown University, ressalta o recente desempenho positivo do câmbio com o dólar cotado a R$ 5,917 na última sexta-feira (24) e também observa uma redução no prêmio de risco associado aos investimentos no Brasil.

No entanto, Volpon aconselha cautela ao comitê e prevê manutenção da estratégia atual. Caso isso se confirme, espera-se que a Selic atinja 14,25% ao ano em março — nível comparável ao pico durante a crise da presidência Dilma Rousseff entre 2015 e 2016.

Ele acredita que o ciclo de aumentos pode ser interrompido nesse ponto e não vê espaço para cortes na taxa em 2025. Para Volpon, um teste importante para Galípolo será lidar com as pressões entre controle da inflação e atividade econômica diante das demandas do governo Lula.

Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, compartilha da análise favorável à estratégia atual do Banco Central quanto ao direcionamento da inflação em direção à meta desejada.

Sobre os próximos passos do Copom, Padovani espera um sinal claro de maior dependência em relação aos dados após março. Ele enfatiza que é importante evitar ruídos adicionais num momento delicado nos mercados financeiros: “Quanto menos informação for divulgada pelo Banco Central nesse período tenso melhor será para manter uma certa estabilidade no mercado“.

A previsão é que a Selic atinja 15% ao final deste ciclo e permaneça nesse nível até o final do ano. Essa situação poderia resultar numa desaceleração econômica suficiente para permitir cortes nos juros em 2026.

Por fim, Carla Beni, professora da FGV e conselheira do Corecon-SP, critica as previsões otimistas feitas pelo mercado financeiro sobre os níveis futuros da Selic. Ela considera inaceitável que se estabeleça uma taxa real de juros entre 7% e 9% até pelo menos 2028.

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  • Data: 26/01/2025 02:01
  • Alterado:26/01/2025 14:01
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