Com promessa de “dinheiro fácil”, jogos de aposta online se tornam uma armadilha
Dra Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere, fala dos riscos que esses jogos trazem à saúde e vida dos impactados por essas plataformas
- Data: 26/06/2024 10:06
- Alterado: 26/06/2024 11:06
- Autor: Redação
- Fonte: Instituto Vita Alere
Crédito:Joedson Alves/Agência Brasil
A proposta é tentadora: dinheiro rápido com emoção e acessível ao clique em um smartphone. Foi partindo dessas premissas que os jogos de apostas online e formatos como o “Jogo do Tigrinho” conquistaram milhares de jogadores que, ao contrário das promessas das plataformas, só encontraram dinheiro e saúde mental perdidos. Os números de endividados são tão altos que chamou a atenção do Poder Público e dos especialistas em saúde mental.
Estudos recentes – comprovados por muitos casos revelados pela mídia e pelas redes sociais – apontaram que o vício em jogos online pode levar ao desenvolvimento de diagnósticos psiquiátricos como ansiedade, depressão e aumento do estresse, além, claro, do desenvolvimento de comportamentos compulsivos. Sobre esse jogos, fala Dra Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere: “Essas plataformas são construídas de maneiras atrativas ao público e muitas se perdem nesse mundo de ilusão de dinheiro fácil. Isso as coloca em um círculo vicioso de perdas e tentativas de recuperar o dinheiro, resultando em uma espiral de desespero, frustração e adoecimento mental”.
Vemos cada vez mais pessoas que foram levadas até essas plataformas por propagandas em redes sociais ou indicação de influenciadores – esses mostrando em suas telas quantias de dinheiro jamais sonhadas por muitos. A realidade, no entanto, se mostrou cruel e as perdas financeiras têm impacto negativo na vida pessoal e profissional dos jogadores. “Os problemas financeiros oriundos desses jogos resultam em discussões familiares, comprometendo a dinâmica de um relacionamento saudável. Além disso, o jogador tende a se isolar de familiares e amigos por vergonha ou até mesmo medo de contar que está endividado por conta dessas plataformas”, diz a psicóloga. “No ambiente de trabalho o impacto se nota na queda do desempenho – reflexo da preocupação com as dívidas – no prejuízo na tomada de decisão e capacidade de concentração. Não é raro que a pessoa viciada em jogos online falte ao trabalho e, para muitos, a demissão acaba acontecendo, impactando ainda mais a vida financeira”, continua a doutora.
Por conta da facilidade de uso, do design feito para a perda e o vício, juntamente com propaganda feita por influenciadores e jogadores, não só adultos, mas menores de idade tem sido uma presa fácil dessas empresas. Propagandas para menores precisam ser proibidas e influenciadores precisam ter alguma consequência por venderem um produto enganoso.
A primeira parte para solucionar o problema é a regulamentação desses jogos e regulamentação inclusive da propaganda desses jogos, que precisaria ser proibida para menores, já que muitos acessam essas plataformas através da indicação de influenciadores. Cuidar para que esses jogos estejam de acordo com a lei é fundamental, mas o trabalho precisa ir além e ajudar os que já foram impactados por esses sites. “Reconhecer os sinais dos problemas com esses jogos online é fundamental para buscar ajuda antes que o prejuízo seja grande. É importante que a pessoa não tenha medo ou vergonha de buscar ajuda e mais importante ainda que tenha ciência de que existe solução que não seja a morte. É sabido que problemas financeiros aumentam o risco de suicídio e já temos conhecimento de casos lidados à esses jogos de aposta online.. Muitos se acham em um beco sem saída e acreditam que a única solução seja a morte por suicídio”, explica Dra Karen.
Mudar o cenário – e a relação com esses jogos – é possível através da regulamentação, proibição, educação e conscientização sobre os riscos associados a este tipo de entretenimento. As plataformas deveriam investir em medidas preventivas, como limites de depósito, alertas de tempo de jogo e isso só é possível com políticas rigorosas de regulamentação e fiscalização para que esses jogos não causem maiores danos aos jogadores mais vulneráveis. “Mascarados como jogos de entretenimento e promessas de altos ganhos financeiros, esses jogos trazem impacto profundo na saúde financeira e mental dos jogadores e seus familiares. É preciso conscientização, apoio e regulamentação para criar um ambiente de jogo mais seguro e saudável para todos”, finaliza Karen.
Sobre a Dra Karen Scavacini:
Dra Karen Scavacini é idealizadora, cofundadora, coordenadora e responsável técnica do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio. Formada em psicologia, Karen é doutora em “Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano” pela USP e mestre em “Saúde Pública na área de Promoção de Saúde Mental e Prevenção ao Suicídio” pelo Karolinska Institutet, localizado na Suécia.
É representante do Brasil no IASP (International Association for Suicide Prevention), membro da American Association for Suicide Prevention, nos Estados Unidos; do LIFE (Living is for Everyone), na Austrália; do Global Mental health Action Network (GMHAN), e do Global Psychology Network, além de autora de um livro que auxilia pais e educadores a conversarem sobre suicídio, “E agora? – Um livro para crianças lidando com o luto por suicídio”. Além disso, é membro do “SSI Advisory Commitee” do Facebook e grupo Meta.
Palestrante, Dra Karen participou de eventos nacional e internacionais falando sobre a importância de se falar sobre saúde mental, prevenção e posvenção do suicídio. Entre os eventos participantes estão o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sirio Libanês, o IPQ USP – Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Faculdade Getúlio Vargas (FGV).