Cinco perguntas sobre o novo surto de Ebola na Guiné
Após as autoridades da Guiné, na África, declararem um novo surto de Ebola no país, no último dia 14 de fevereiro, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) iniciou a mobilização de especialistas com experiência no atendimento a pacientes com Ebola para formar uma equipe de resposta à doença. Como uma das principais organizações médicas […]
- Data: 23/02/2021 11:02
- Alterado: 23/02/2021 11:02
- Autor: Redação
- Fonte: MSF
Anja Wolz auxilia colegas com equipamentos de proteção contra o Ebola durante o grande surto em 2014-2016 na África Ocidental.
Crédito:PK Lee / MSF
Após as autoridades da Guiné, na África, declararem um novo surto de Ebola no país, no último dia 14 de fevereiro, a organização internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) iniciou a mobilização de especialistas com experiência no atendimento a pacientes com Ebola para formar uma equipe de resposta à doença. Como uma das principais organizações médicas atuante durante o surto da enfermidade entre 2014 e 2016, na África Ocidental, MSF está formando um núcleo para oferecer assistência às populações da região afetada.
Anja Wolz é a Coordenadora de Emergência de Ebola e está a frente da supervisão da resposta de MSF no país. Ela explica como o novo surto foi identificado e quais são as melhores práticas para deter o vírus, que matou 40% das pessoas infectadas na última pandemia na região do Golfo da Guiné, entre 2014 e 2016.
Quão preocupados vocês estão com este novo surto de Ebola?
Anja: Como em todas as respostas a epidemias, é importante manter a calma e o foco, mas um surto de Ebola é sempre preocupante. Por isso, mobilizamos uma equipe, formada por especialistas de MSF com experiência no atendimento em casos de Ebola, que viajarão para a Guiné assim que os processos administrativos e de visto permitirem. Podemos descobrir que se trata de um pequeno surto, fácil de controlar e conter, ou podemos descobrir que o problema é maior e mais complexo.
Que medidas têm de ser adotadas no início de uma resposta ao Ebola?
Anja: Primeiro precisamos ter uma visão clara do problema. Uma equipe de vigilância epidemiológica, com um epidemiologista de MSF, partiu na segunda-feira, 15 de fevereiro, para as áreas afetadas de N’Zerekore e Gouéké, no extremo sul do país. Eles já começaram a fazer o trabalho de vigilância epidemiológica, mas ainda não temos total clareza sobre o que estamos enfrentando.
Depois, há uma série de medidas básicas e importantes, que devem ser tomadas de forma rápida e adequada como:
-rastrear contatos (identificar todas as pessoas que estiveram em contato com alguém que foi diagnosticado com Ebola, para monitorar sua saúde e interromper a cadeia de transmissão);
-ter instalações médicas com a estrutura adequada para isolar e tratar os pacientes com Ebola;
-garantir que haja práticas funerárias seguras para qualquer pessoa que morra de Ebola ou com suspeita da doença;
-transmitir informações úteis e claras sobre educação em saúde;
-certificar-se de que haja uma boa triagem estabelecida em todas as unidades de saúde, para minimizar as chances do Ebola ter consequências indiretas no resto do sistema de saúde;
-envolver a comunidade.
O envolvimento da comunidade é de importância vital para o sucesso do trabalho. Precisamos investir tempo e energia para falar e ouvir as comunidades das áreas afetadas. É preciso adaptar a nossa resposta à epidemia de acordo com as demandas locais, mas também é preciso que eles se adaptem para evitar os riscos de contágio pelo Ebola. Tem que ser uma conversa de mão dupla.
E quanto à perspectiva de uma vacina contra o Ebola?
Anja: Certamente a existência de vacinas contra o Ebola é uma das principais diferenças em relação ao surto enfrentado entre os anos de 2014 e 2016. E esta é uma ótima notícia, mas precisamos ter cuidado com as expectativas. É improvável que haja vacinas suficientes para cobrir regiões ou prefeituras inteiras. Isso significa que as decisões sobre como será o uso da vacina precisam ser explicadas de forma muito clara, para evitar mal-entendidos e possível desconfiança nas comunidades afetadas pela doença.
E, mais uma vez, tudo se resume ao engajamento da comunidade. Já vimos isso acontecer muitas vezes no passado. Se uma comunidade se sente envolvida, ouvida e capacitada, a resposta ao Ebola provavelmente correrá bem, com ou sem vacinas. Mas, se uma comunidade se sente marginalizada, ignorada e fica nervosa ou desconfiada, então a resposta ao Ebola provavelmente enfrentará múltiplas dificuldades, com ou sem vacinas.
E quanto aos novos tratamentos do Ebola?
Anja: É verdade que não existiam tratamentos para o Ebola no início do surto de 2014 e, portanto, essa é uma diferença significativa neste momento. Ainda não sabemos qual dos tratamentos será usado na Guiné, mas o próprio fato de ter uma opção de tratamento é bom por dois motivos:
-aumentam significativamente as chances de sobrevivência do paciente, principalmente se o doente iniciar o tratamento razoavelmente cedo;
-significa que temos melhores chances de incentivar as pessoas a virem mais cedo para o tratamento e isolamento. Antes que houvesse um tratamento disponível, era compreensível que as pessoas ficassem longe dos Centros de Tratamento de Ebola, que muitas vezes eram temidos como locais de morte. Mas com um tratamento disponível, isso pode mudar substancialmente. Isso é importante para o controle de surtos, porque quando alguém com Ebola está isolado, não espalha o vírus para outras pessoas.
Como MSF atuará na Guiné?
Anja: Teremos uma pequena equipe multidisciplinar especializada em Ebola capaz de lidar com praticamente todos os aspectos ao combate à doença. Já temos um primeiro time avançado, que se mudou para a área, para ajudar na vigilância epidemiológica. Eles também vão entender o que a comunidade conhece sobre a doença para adaptar de forma adequada as informações de educação em saúde para a população. Quando a equipe dedicada ao Ebola chegar, eles combinarão forças e tomarão decisões rápidas sobre onde e como MSF pode ajudar mais. A equipe terá as habilidades e ferramentas para fazer o que for necessário. Desde o tratamento médico do Ebola até o trabalho de vigilância epidemiológica, educação em saúde, rastreamento de contatos, engajamento da comunidade ou vacinação.
Há algo essencial a ser lembrado, tanto para MSF quanto para todas as outras equipes envolvidas na resposta. Você precisa trazer suas habilidades técnicas (médicas ou epidemiológicas ou de controle de infecção ou educação em saúde), mas você também precisa utilizar suas habilidades interpessoais para o engajamento comunitário. Ambas são necessárias em uma resposta à epidemia de Ebola.