Campinas registra crescimento de 38% na construção de apartamentos
O número de casas cresceu apenas 7%, enquanto os terrenos apresentaram uma redução de 8%
- Data: 13/01/2025 11:01
- Alterado: 13/01/2025 11:01
- Autor: Redação
- Fonte: Prefeitura de Campinas
Apartamentos
Crédito:Secretaria de Estado da Habitação
Dados recentes do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de Campinas, São Paulo, revelam um notável crescimento no número de apartamentos na cidade, que superou o aumento de casas e a diminuição de terrenos entre 2015 e 2025. Especialistas discutem os impactos dessa tendência.
Segundo informações obtidas pela Prefeitura, Campinas experimentou um aumento de 38% na construção de apartamentos nos últimos 11 anos. Em contraste, o número de casas cresceu apenas 7%, enquanto os terrenos apresentaram uma redução de 8%. Este fenômeno reflete a crescente verticalização da cidade, alinhando-se às mudanças no uso do solo e à demanda habitacional.
No total, a metrópole ganhou cerca de 45 mil novos apartamentos durante o período analisado, enquanto o número de casas aumentou em aproximadamente 12 mil unidades. Por outro lado, houve uma queda de cerca de 8 mil terrenos. Essa mudança ilustra a transformação do panorama urbano e os novos padrões habitacionais que emergem na região.
A pesquisa foi baseada nos registros do IPTU ao início de cada ano, considerando casas, apartamentos e terrenos. Em 2015, Campinas contava com 112.813 apartamentos, cifra que saltou para 155.644 em 2025. Por sua vez, o número de casas aumentou de 159.878 para 171.654, enquanto os terrenos diminuíram de 90.586 para 82.929.
Para entender melhor este fenômeno de verticalização, o g1 entrevistou dois especialistas em urbanismo: Gisela Cunha Viana Leonelli, arquiteta e urbanista da USP – São Carlos; e João Verde, professor aposentado da PUC Campinas e presidente da Associação Regional de Escritórios de Arquitetura de Campinas.
De acordo com os urbanistas, o crescimento acentuado dos apartamentos é parte de uma tendência global observada em cidades de médio e grande porte. Contudo, enfatizam que essa realidade não pode ser generalizada, pois depende de diferentes contextos locais.
A professora Leonelli aponta várias razões que contribuíram para a intensificação da verticalização em Campinas: o prolongado período com juros baixos para financiamento; a otimização das incorporadoras que encurtaram prazos de execução; e as mudanças no zoneamento promovidas pelo Plano Diretor de 2019, que favoreceram áreas centrais como Cambuí e Nova Campinas.
Complementando essa análise, o professor João Verde destaca também a disparidade dos preços entre casas em áreas centrais e apartamentos, além da percepção de maior segurança oferecida pelas construções verticais.
A professora Leonelli ainda menciona um aspecto comportamental relacionado à demografia brasileira atual. Com o envelhecimento da população e uma redução significativa na taxa de natalidade, a composição familiar está mudando; cada vez menos famílias se assemelham ao tradicional modelo retratado em propagandas.
Esse cenário influencia diretamente as preferências habitacionais, fazendo com que muitas pessoas optem por apartamentos devido à maior mobilidade e acesso a serviços nas áreas urbanas. Ela observa que “famílias menores e a maior mobilidade da nova geração” justificam parcialmente o desinteresse por casas unifamiliares.
No entanto, Leonelli ressalta que a verticalização não precisa ser absoluta; é viável manter bairros com residências térreas através de políticas que incentivem um ambiente urbano mais qualitativo e harmonioso entre usos residenciais e comerciais.
Os especialistas concordam que a verticalização na área central é inevitável e destacam a importância do planejamento urbano integrado. Isso deve considerar infraestrutura adequada, mobilidade urbana eficiente e a preservação das áreas residenciais tradicionais.
João Verde argumenta que essa abordagem pode ajudar a mitigar desafios relacionados ao planejamento urbano, apresentando soluções mais sustentáveis do que a expansão urbana desordenada para novos loteamentos. Ele sugere uma altura moderada para os edifícios: “Talvez não haja necessidade de construções tão altas como os prédios atuais com 40 andares”.
A professora Leonelli critica aspectos da verticalização atual em Campinas por atender principalmente aos interesses do mercado imobiliário sem oferecer contrapartidas adequadas à infraestrutura urbana. Para ela, “o planejamento deve direcionar o mercado imobiliário”, não ser influenciado por ele. A melhoria nas condições urbanísticas deve ser atrelada a qualquer alteração no uso do solo.
Ela finaliza ressaltando que o aumento no número de apartamentos pode trazer benefícios ambientais se for feito com responsabilidade; novas áreas verdes e espaços públicos devem acompanhar esse adensamento urbano.