Caminhos da Reportagem denuncia aumento dos casos de feminicídio
Atração jornalística revela impactos do crime violento para famílias
- Data: 25/05/2023 15:05
- Alterado: 25/05/2023 15:05
- Autor: Redação
- Fonte: TV Brasil
Caminhos da Reportagem: garoto de 13 anos foi testemunha da morte da mãe
Crédito:Divulgação / TV Brasil
A TV Brasil apresenta o drama do feminicídio e suas consequências para os envolvidos na edição inédita do programa Caminhos da Reportagem deste domingo (28), às 22h. A produção jornalística da emissora pública aborda o crescimento desse tipo de crime contra a mulher e seus prejuízos para os familiares. O episódio “Órfãos do feminicídio” também fica disponível no app TV Brasil Play.
No Brasil, uma a cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência de gênero em 2021, segundo a pesquisa “Visível e Invisível”, do Fórum Nacional de Segurança Pública. Em 2022, a situação se agravou. Para 1.400 mulheres o destino foi além da agressão, chegando à morte.
O feminicídio é um crime que não faz apenas a vítima fatal, mas impacta a família e, principalmente, os filhos da mãe assassinada. A constatação é séria: a maioria das mulheres que sofre violência doméstica não denuncia os agressores e grande parte dos assassinos são companheiros ou ex-parceiros da vítima.
Para analisar o assunto, a atração jornalística entrevista parentes dessas mulheres, especialistas em Direito e profissionais da área de saúde. Além dos traumas pelo aumento das ocorrências, o Caminhos da Reportagem ainda coloca em pauta a prevenção e o enfrentamento da violência contra a mulher e as medidas para combater o feminicídio.
Famílias ficam abaladas com a perda repentina por violência brutal
Jéssica, filha de Nicelia Vitor de Oliveira Pimenta, faz parte das estatísticas. Morta pelo marido em novembro de 2022, ela deixou 2 filhos, um de 13 e outra de 7 anos. Dias antes do assassinato, o marido da vítima havia tomado o celular dela.
Nicelia descobriu que a filha tentou pedir ajuda dias antes. “No mesmo dia (que o marido pegou o celular), ela foi na delegacia pedir uma medida protetiva, mas não sei porque ela não fez”, reflete. A mãe se pergunta se a filha foi ouvida e tratada de uma forma que não se sentiu segura para prosseguir com a denúncia.
“Quando a gente vai a qualquer instituição buscar socorro, a primeira coisa que se quer é um bom acolhimento, um olhar especializado e que entenda de forma técnica o que você está passando”, avalia Gislaine Campos Reis, coordenadora do Núcleo Judiciário da Mulher, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).
Difícil saber o que houve no dia e se um atendimento diferenciado teria evitado a morte de Jéssica. A realidade é que hoje a avó, além de lidar com o próprio luto, também precisa acolher a neta. “Na consulta dela com a psicóloga, eu falei que preciso dar um retorno, ela sempre me pergunta o que aconteceu com a mãe. Como é que eu falo? Porque ela sabe que o pai matou a mãe e onde colocou o corpo, ela sabe”, conta a avó.
Além dos traumas do crime nas crianças, muitas vezes o feminicídio também abre portas para outros tipos de violência. Foi o caso de uma jovem de 19 anos, que hoje vive em um abrigo de Brasília e não quis se identificar. Aos 5 anos, ela viu a mãe morrer assassinada pelo pai, que não foi preso.
A criança e os irmãos foram viver com a avó paterna, que os maltratava. Aos 13 anos, ela se mudou para a casa do pai e foi vítima de abuso sexual. “Quando eu contei do abuso para a minha família, simplesmente falaram que era mentira minha, que eu estava querendo botar meu pai na cadeia”, afirma.
O psiquiatra André Salles, especialista em infância e adolescência, também explica que as agressões, muitas vezes, já ocorrem antes da morte, e os filhos podem começar a ver esse tipo de situação como normal. “São crianças que vivem em uma situação de violência prévia e acabam entendendo no seu desenvolvimento que a resposta às injúrias, às dificuldades do ambiente, deve ser feita de uma maneira violenta”, explica.
Só no Distrito Federal, no primeiro trimestre do ano, houve um aumento de 350% dos casos de feminicídio. Uma das vítimas desse ano foi esfaqueada no meio da rua pelo ex-companheiro, em frente ao filho dela de 13 anos. Segundo a família, a vítima havia pedido medida protetiva contra o homem que já tinha várias passagens pela polícia.
O assassino havia sido preso semanas antes por tentar invadir a casa dela. Assim que foi solto, cometeu o feminicídio. Hoje, está preso preventivamente. O filho e testemunha do assassinato da mãe está morando com uma tia, sabe que vai carregar o trauma pelo resto da vida e só tem um desejo: “que ele fique preso e me deixe em paz, eu e minha família”.