Bullying ou Conflito? Qual a diferença e como trabalhar o tema no ambiente escolar
Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco, comenta as diferenças entre as duas situações e a importância de trabalhar divergências de uma forma saudável e construtiva
- Data: 19/10/2022 13:10
- Alterado: 15/08/2023 20:08
- Autor: Redação
- Fonte: Colégio Rio Branco
Alunos
Crédito:Rovena Rosa - Agência Brasil
Atualmente, diversas questões complexas relacionadas à saúde mental não só estão sendo mais discutidas, como também enfrentadas por pessoas de todas as idades. Desafios muito presentes na vida de jovens, como depressão ou ansiedade, são muitas vezes analisados como dificuldades de uma única causa, desconsiderando um conjunto imenso de variáveis de natureza interna e externa aos indivíduos.
Um fator determinante nesse olhar, que vem ganhando maior visibilidade, é o bullying. Segundo pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, 38% dos estudantes entre 13 e 15 anos, da cidade de São Paulo, já sofreram esse tipo de violência psicológica. Nesse cenário, torna-se essencial compreendermos as diferenças entre bullying e conflito, bem como as formas de se lidar com cada um.
Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco, volta o seu olhar para essas problemáticas, buscando formas para resolvê-las e mitigar os impactos quando acontecem. “O bullying é uma ação intencional e contínua, não gerada por motivos específicos, que é executada com a intenção de causar danos a uma pessoa, tendo, ainda, a atuação de um grupo, seja por incentivo, seja por omissão”, explica. “Existe um desequilíbrio de forças entre os atores do problema, sendo o aluno agredido alguém que permanece numa condição mais fragilizada”.
Por outro lado, conflitos são inerentes ao desenvolvimento das relações intrapessoais e interpessoais. Surgem de divergências, em equilíbrio de forças entre os atores, na sua maioria das vezes. Fazem parte do relacionamento humano e devem, portanto, ser trabalhados de maneira construtiva e saudável. Sendo um pressuposto do convívio com o outro, Carvalho destaca sua importância: “Ele é importante para o desenvolvimento do indivíduo, porque nos tira do lugar confortável onde muitas vezes pretendemos ficar e nos faz crescer. Por isso, é fundamental trabalhá-lo de maneira construtiva e saudável”.
“Aprender a superar os conflitos, vistos como processos naturais que permitem o desenvolvimento dos indivíduos a partir do desconforto, é fundamental, sobretudo no ambiente escolar”, argumenta a educadora. Para que as crianças aprendam a conviver e a fazer suas próprias escolhas, assim como a restabelecer suas relações, o coletivo da escola deve agir como matriz de desenvolvimento dos aspectos sociais, ensinando respeito, empatia e ética”, destaca.
Para apoiar os filhos no seu desenvolvimento como pessoas e como alunos, é fundamental que a família conheça a diferença entre conflito e bullying e entenda que na imensa maioria das vezes as questões relativas à convivência na escola dizem respeito a conflito e não a bullying. Ambos precisam ser trabalhados, mas de forma muito diferente.
Na perspectiva de buscar novos caminhos para o trabalho em convivência escolar, o Colégio Rio Branco iniciou, com um grupo piloto, o “Programa de Jovens Mediadores”, uma iniciativa de formação sobre mediação de conflitos para que estudantes, dentro de sua maturidade, sejam capazes de mediar conflitos de formas efetivas e pacíficas e, ao mesmo tempo, desenvolvam um repertório pessoal de estratégias para lidar com os seus próprios.
“Acreditamos que o conflito é inerente à convivência social e, quando bem gerenciado, traz benefícios em termos de tolerância e crescimento individual. Completamente distinto, encontra-se o bullying, para o qual precisamos de ações efetivas de erradicação. Há relações entre ambos? Conflitos mal conduzidos podem desencadear no segundo caso, mais extremo, justamente pela abordagem ineficiente”, destaca Esther Carvalho.
Por fim, é importante compreender que o bullying se estabelece de maneiras muito complexas e, por vezes, sutis. Por isso, a diretora defende o diálogo dentro da instituição que traga visibilidade à temática, com rodas de conversa, por exemplo, além do trabalho de refinamento do olhar dos professores frente a esses casos. “A escola deve tratar da questão de maneira sistêmica, envolvendo os estudantes, os educadores e as famílias”.