Brasil Registra Saída Cambial de US$ 15,9 Bilhões em 2024

Brasil enfrenta desafios fiscais e alta do dólar. Entenda os impactos na economia!

  • Data: 03/01/2025 00:01
  • Alterado: 03/01/2025 00:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress
Brasil Registra Saída Cambial de US$ 15,9 Bilhões em 2024

Crédito:Reprodução

Você está em:

No ano de 2024, o Brasil enfrentou um fluxo cambial negativo que atingiu a marca de US$ 15,918 bilhões, configurando-se como a terceira maior saída líquida de dólares registrada desde o início da série histórica do Banco Central em 2008. Os dados são preliminares e foram coletados até o dia 27 de dezembro.

Essa saída líquida é superada apenas pelos valores observados nos anos de 2019 e 2020, períodos que coincidiram com o governo Jair Bolsonaro, quando as saídas líquidas alcançaram US$ 44,768 bilhões e US$ 27,923 bilhões, respectivamente. Esses anos foram marcados por taxas de juros reduzidas, uma volatilidade cambial acentuada e os efeitos da pandemia de Covid-19.

Ao longo de 2024, o dólar se valorizou em 27%, encerrando o ano com a cotação de R$ 6,18. Especialistas apontam três fatores principais que pressionaram a moeda: um relacionado ao cenário interno e dois vinculados a dinâmicas internacionais.

Internamente, as preocupações com a situação fiscal do Brasil se intensificaram. Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, destaca que essa é uma das principais justificativas para a expressiva saída de dólares do país. Segundo análises de agentes financeiros, o governo Lula tem recorrido a receitas pontuais para cobrir gastos crescentes, o que compromete a sustentabilidade do arcabouço fiscal e gera insegurança nas contas públicas.

O equilíbrio econômico é um dos fatores cruciais considerados por investidores internacionais na hora de decidir onde aplicar seus recursos. Quando há incertezas no ambiente econômico, é comum que esses investidores optem por ativos mais seguros, como o dólar. Thais Zara, economista-sênior da LCA Consultores, observa que um endividamento público alarmante leva à desconfiança entre os investidores sobre a capacidade do governo em controlar essa situação.

Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento), enfatiza que a taxa de câmbio reflete o estado geral da economia. Uma desvalorização da moeda nacional sugere riscos econômicos. A pressão cambial também é influenciada por fatores externos, como as altas taxas de juros nos Estados Unidos e a percepção geral de que o risco associado ao investimento americano é menor em comparação ao brasileiro.

A expectativa é que o governo Lula demonstre um comprometimento sério com a responsabilidade fiscal para melhorar a confiança dos investidores. Tingas sugere que isso deve ser acompanhado por ações concretas para permitir ajustes fiscais efetivos.

No acumulado do ano, o saldo da conta financeira foi negativo em US$ 84,396 bilhões, resultante de US$ 589,989 bilhões em compras e US$ 674,385 bilhões em vendas. Este número representa o maior saldo negativo já registrado na série histórica do Banco Central.

Por outro lado, o comércio exterior apresentou um saldo positivo de US$ 68,478 bilhões em 2024, com exportações totalizando US$ 298,456 bilhões e importações somando US$ 229,978 bilhões.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, atribui as significativas saídas de dólares à deterioração fiscal acumulada nos últimos dois anos. Ele explica que uma política fiscal aquecida pode elevar a inflação e exigir juros mais altos. Apesar das taxas elevadas no Brasil, os investidores ainda demonstram preocupação com a situação fiscal nacional.

A pressão para cortes nas despesas governamentais aumentou recentemente. O Congresso Nacional aprovou medidas de contenção apresentadas pelo Executivo no final de novembro. Contudo, estimativas indicam que os resultados práticos desse pacote podem ser inferiores ao esperado inicialmente.

As intervenções do Banco Central se tornaram frequentes nos últimos meses; somente em dezembro foram realizados 14 leilões de dólares totalizando mais de US$ 32 bilhões injetados no mercado. Essa estratégia visa aumentar a oferta da moeda norte-americana e mitigar as disfuncionalidades nas negociações cambiais.

A escassez de dólares fez com que as reservas internacionais do Brasil diminuíssem significativamente — caindo de US$ 363 bilhões no final de novembro para US$ 329,73 bilhões ao final do ano. Essa redução nominal foi a mais acentuada já registrada em um único mês desde que a série histórica começou em setembro de 1998.

Os fatores internacionais também desempenharam um papel importante na valorização do dólar. As expectativas sobre as políticas econômicas sob a administração do novo presidente dos EUA influenciam diretamente as percepções sobre investimentos globais e podem resultar em fluxos financeiros favoráveis aos Estados Unidos.

Para os próximos anos, as projeções indicam que o dólar deve permanecer elevado em relação ao real. Economistas consultados pelo Banco Central preveem que a moeda norte-americana encerre 2025 cotada em torno de R$ 5,96.

O fluxo cambial brasileiro é monitorado pelo Banco Central através dos canais comercial e financeiro: enquanto o primeiro reflete operações ligadas ao comércio exterior — como exportações e importações — o segundo engloba entradas e saídas associadas a investimentos estrangeiros diretos e remessas financeiras.

Compartilhar:

  • Data: 03/01/2025 12:01
  • Alterado:03/01/2025 00:01
  • Autor: redação
  • Fonte: Folhapress









Copyright © 2025 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados