Brasil precisa de plano que mostre preocupação com trajetória da dívida, diz Campos Neto
Segundo o presidente do BC, a questão da dívida bruta precisará ser endereçada. "A dívida é um fator de risco que precisa ser endereçado com certa urgência", afirmou
- Data: 25/11/2020 17:11
- Alterado: 25/11/2020 17:11
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Campos Neto ressaltou que a dívida é um fator de risco que precisa ser endereçado “com certa urgência”
Crédito:Marcelo Camargo/Agência Brasil
Declaração vem num momento em que a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, é criticada pela ausência de uma estratégia clara para avançar na agenda de reformas econômicas e equilibrar as contas, pressionadas pelos gastos bilionários com medidas para conter a covid-19.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 25, que o Brasil precisa de “um plano que dê clara percepção aos investidores de que o País está preocupado com a trajetória da dívida” para reconquistar credibilidade e assegurar a sustentabilidade das finanças públicas.
Campos Neto também disse concordar com avaliação do secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, de que o Brasil tem “muito pouco ou zero espaço” para medidas adicionais, numa indicação de que o BC vê com cautela os efeitos fiscais de uma eventual prorrogação do auxílio emergencial. Segundo ele, a inclinação da curva de juros demonstra a “incerteza em relação ao que vai ser o fiscal à frente”.
“O mercado está ansioso esperando como vai ser o futuro do programa (auxílio emergencial), se vai ter extensão, se não vai ter extensão. O secretário do Tesouro (Bruno Funchal) disse ontem que o Brasil tem muito pouco ou zero espaço fiscal para fazer qualquer tipo de medida, nós aqui no Banco Central tendemos a concordar com essa afirmação. Sabemos que fica uma dívida muito grande que nós precisamos administrar”, alertou durante o evento 4º Painel do Cooperativismo Financeiro.
O presidente do BC afirmou que o aumento nos juros de longo prazo cobrados pelos investidores reflete a percepção de que o Brasil não retornaria para uma disciplina fiscal, de que não ficaria dentro do teto de gastos (regra que limita o avanço das despesas à inflação) e de que não cuidaria da trajetória da dívida.
“Talvez seja o ponto-chave da parte macroeconômica no Brasil hoje: reganhar credibilidade, conquistar credibilidade com a continuação das reformas e conquistar credibilidade com um plano que dê uma clara percepção aos investidores de que o País está preocupado com a trajetória da dívida”, afirmou.
Segundo projeções do Tesouro Nacional, o Brasil deve fechar 2020 com uma dívida bruta equivalente a 96% do PIB, uma das maiores entre países emergentes. Esse patamar deve continuar se elevando e passar dos 100% do PIB em 2025, para só depois começar a arrefecer.
Campos Neto ressaltou que a dívida é um fator de risco que precisa ser endereçado “com certa urgência”, mas buscou demonstrar otimismo com a capacidade do governo em reconquistar a credibilidade na política fiscal. “O governo está empenhado e negociando com a base, com o Legislativo o que é possível passar no curto prazo”, afirmou.
O presidente do BC também fez questão de ressaltar que, desde o início da atuação durante a pandemia, a autoridade monetária teve preocupação em dividir as atribuições com a Economia “para que o Banco Central não fosse empurrado a fazer política fiscal”. Segundo ele, o BC atuou em políticas monetária e cambial, em liquidez e capital.