Cerco da Rússia a cidades da Ucrânia cria 1 milhão de refugiados em 8 dias
A estimativa mais conservadora é que o número possa chegar a 4 milhões de deslocados se a guerra continuar, o que equivale a 10% dos 44 milhões de habitantes da Ucrânia
- Data: 04/03/2022 09:03
- Alterado: 04/03/2022 09:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução Twitter
Em apenas uma semana de conflito, o cerco da Rússia a cidades ucranianas já deixou mais de um milhão de refugiados – mais da metade buscou proteção na Polônia. É o êxodo mais rápido do século, disse ontem a Agência da ONU para Refugiados (Acnur). A estimativa mais conservadora é que o número possa chegar a 4 milhões de deslocados se a guerra continuar, o que equivale a 10% dos 44 milhões de habitantes da Ucrânia.
A diáspora de ucranianos pode se tornar a pior crise humanitária da Europa em um século, superando o número de refugiados da Síria e de outros países de Oriente Médio e Norte da África. Durante a guerra civil síria, que teve seu auge em 2015, cerca de 1,3 milhão de pessoas pediram asilo na Europa.
“Agora, em apenas sete dias, um milhão de pessoas fugiram da Ucrânia, arrancadas de suas raízes por esta guerra sem sentido”, disse o diplomata italiano Filippo Grandi, alto comissário da ONU. “Trabalhei em emergências de refugiados por quase 40 anos e raramente vi um êxodo tão rápido quanto este.”
Se a luta se prolongar e os ucranianos continuarem a migrar no ritmo atual, essa pode ser a maior crise de refugiados desde a 2.ª Guerra, disse Philipp Ther, professor de história da Europa Central na Universidade de Viena. “Isso chegaria à escala da situação do pós-guerra”, afirmou.
A fuga em massa para o oeste vem causando filas de até 24 horas nos postos de controle ao longo das fronteiras da Ucrânia com Polônia, Moldávia, Hungria, Eslováquia e Romênia, e provocando uma intensa resposta humanitária por parte de governos e da sociedade civil nos países vizinhos.
Os refugiados estão sendo abrigados em escolas adaptadas, em apartamentos particulares, acampamentos improvisados, centros de conferência, vinícolas de luxo e até mesmo na casa de um deputado moldávio. “Não sabemos para onde estamos indo”, disse Anna Rogachova, de 34 anos, dona de casa de Odessa, cidade ucraniana no Mar Negro, minutos depois de cruzar para Moldávia com sua filha de 8 anos na manhã de terça-feira. “E não sabemos quando voltaremos.”
Desafio
Ontem, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, pediu conversas diretas com o russo Vladimir Putin, dizendo que era “a única maneira de parar a guerra”. “Não estamos atacando a Rússia e não planejamos atacá-la. O que você quer de nós?”, questionou Zelenski, que pediu ao Ocidente mais ajuda militar. “Se não existirmos mais, Letônia, Lituânia e Estônia serão os próximos. Acreditem em mim.”
Putin não respondeu ao convite de Zelenski. Em discurso em Moscou, ele acusou a Ucrânia de usar civis como “escudos humanos”. O presidente russo voltou a dizer que ucranianos e russos são “um só povo” e afirmou que os vizinhos foram “ameaçados e sofreram lavagem cerebral”.