Automóveis Presidente faz parte da história do automobilismo

A história do IBAP Democrata: O carro que poderia ser um sonho, se tornou um verdadeiro e longo pesadelo. Em 1963 a IBAP foi fundada em São Bernardo. Conheça sua história

  • Data: 04/09/2013 09:09
  • Alterado: 16/08/2023 09:08
  • Autor: Alex Faria
  • Fonte: J L Finard
Automóveis Presidente faz parte da história do automobilismo

Primeira Série do Democrata

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Brasil, década de 60, Nelson Fernandes era um empreendedor, sonhador, ambicioso e idealizador que se propos a produzir um carro de alta qualidade, usando novas tecnologias e materiais, criando assim a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP), uma indústria de automóveis 100% nacional.

DEMOCRATA: O CARRO CERTO NO TEMPO ERRADO
Toda a história do Democrata é contado no livro do jornalista e advogado Roberto Nasser (título acima) que retrata o lobby das montadoras junto ao governo militar que assumiu o poder no Brasil.

Para se montar uma indústria de automóveis é necessário , entre outros detalhes, um alto investimento em tecnologia, capital e apoio do governo. Estranhamente, o governo militar, que era nacionalista ao extremo, não apoiou a nova indústria nacional que estava nascendo e boicoitou o projeto. Fernandes utilizou um sistema de cotas, para arrecadar capital para a construção da fábrica e início da produção dos primeiros carros. Para ele, que já havia construído um hospital e um clube pelo mesmo processo (o Acre Clube e o Hospital Presidente), o caminho estava traçado.

Em 1963 a IBAP foi fundada com a previsão de iniciar a construção da fábrica em 1965, e em 1968 iniciar a produção em série. A idéia original seria produzir primeiro um carro urbano de pequena cilindrada, em seguida um utilitário e finalmente, um modelo de luxo.

O alto custo do ferramental para se produzir as chapas da carroceria brecou a ideia, optando para iniciar com o modelo mais luxuoso, feito de fibra de vidro, o que facilitaria a produção inicial por ser um processo artesanal, já que precisava expor os carros para conseguir investidores para a construção da fábrica.

O PROJETO
O design do Democrata foi realizado através de um concurso onde os concorrentes enviavam desenhos seguindo as prévias especificações da IBAP. O Democrata tinha os primeiros faróis retangulares da indústria nacional desenvolvido pelas indústrias de auto-peças, coisa que nem a Brasinca conseguiu para o 4200GT (da mesma época). Foi desenvolvido um protótipo baseando a parte mecânica no Chevrolet Corvair

PRIMEIRA SÉRIE DO DEMOCRATA
Durante a construção do modelo quatro portas do IBAP Democrata, decidiram mudar o projeto completamente, partiram para um desenho mais moderno, aerodinâmico, compacto e leve, criando o modelo duas portas, com linhas inspiradas em modelos europeus e americanos.

SEGUNDA SÉRIE DO DEMOCRATA
Para o desenvolvimento, foi contratado pela IBAP Chico Landi – primeiro brasileiro a pilotar no exterior –, que além de testar os carros, também contribuiu no desenvolvimento, sugerindo o motor V6 traseiro, que foi encomendado a uma empresa italiana, a Procosautom (Proggetazione Costruzione Auto Motori) o projeto do motor e transmissão (que ficava dentro do carter de óleo). Não se tratava de um licenciamento para a fabricação, e sim todo o projeto que se tornaria de propriedade da IBAP. Foram enviadas ao Brasil algumas unidades do motor para testes e adaptações.

O Motor tinha 120 hp deixando-o potente e econômico, capaz de atingir 170 km/h (números que superavam qualquer nacional da época). Apesar de Chico Landi ter sugerido uma potência muito maior em busca de mais esportividade, preferiram, por questões de economia e durabilidade, o motor de menor potencia, podendo aumentar sua potência facilmente sem maiores danos ao conjunto. Os motores foram instalados em cinco protótipos que cumpriram mais de 120 mil km de testes em todos os tipos de estradas e trânsito urbano, demonstrando a durabilidade e economia esperada – lembrando que eram os anos sessenta – onde as estradas eram precárias e a maioria delas de terra.

O DEMOCRATA NA PORTA DA FÁBRICA NA VIA ANCHIETA
Os carros foram expostos em eventos pelo Brasil para atrair o público. O modelo anterior tinha sido exibido ao presidente Castelo Branco e o Democrata II foi exibido ao presidente Costa e Silva. Houve divulgação por meio de jornais e revistas sobre o novo automóvel brasileiro, reportagens completas sobre seu desenvolvimento, tanto favoráveis quanto desfavoráveis ao projeto.

Quando a Procosautom enviou mais um lote de motores com ferramentais e desenhos técnicos do motor, eles foram confiscados pela polícia federal, sob a alegação de contrabando. Uma proposta da IBAP de comprar a FNM tentando salvar o projeto, foi recusada pelo governo. Os motores ficaram retidos durante anos de processo até serem vendidos como sucata.

Ao fim do processo, após mais de vinte anos, foi comprovada a idoneidade da IBAP,. Era era tarde demais e poucas unidades foram produzidas. Uma encontra-se no Museu do Automóvel de Brasília, outras vendidas a colecionadores, e o restante foi enterrado junto com a fábrica quando o teto do galpão desmoronou, sendo que as unidades que sobraram eram da segunda série.

Talvez avançado demais para a época, bem acabado a ponto de incomodar as recém instaladas indústrias de automóveis, e às vezes chamado de “o Tucker brasileiro”, o certo é que o Democrata poderia ter sido o núcleo de uma bem estruturada indústria de automóveis brasileira, coisa que alguns tentaram e até hoje esperamos acontecer. Anos depois, finais dos anos 80 os irmãos FINARDI arremataram a massa falida e fizeram a historia dar vida novamente restaurando ao estado original, dois dos exemplares, acreditando que pessoas tão arrojadas como Nelson Fernandes deveriam existir mais.

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Crédito:Segunda Série do Democrata
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Crédito: Primeira Série do Democrata

  • Data: 04/09/2013 09:09
  • Alterado:16/08/2023 09:08
  • Autor: Alex Faria
  • Fonte: J L Finard









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