Audiência pública do Plano Diretor vai discutir impactos do Metrô no Bixiga

O Mobiliza Saracura Vai-Vai conseguiu que a Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara Municipal convocasse para esta segunda-feira, (8), audiência pública a fim de discutir as implicações da construção do metrô no bairro.

Questionada pelo movimento, que desde junho de 2022 tem atuado em prol da memória e da permanência da população negra no bairro paulistano do Bixiga, a obra teve licenciamento ambiental liberado pelo Iphan em 2020, ainda no governo Bolsonaro, à revelia da pesquisa arqueológica exigida na legislação e sem um plano de redução de impactos ao patrimônio.

Na audiência, serão discutidas políticas e ferramentas urbanísticas de permanência da população moradora da região frente à construção do modal de transporte; questões ambientais que têm afetado o cotidiano local, como as enchentes mais intensas desde que a obra foi retomada; preservação do sítio arqueológico do Quilombo do Saracura encontrado na obra, bem como da quadra da escola de samba Vai-Vai no bairro.

No dia 12 abril, representantes da comunidade apresentaram ao presidente da Câmara, o vereador Milton Leite (União Brasil – SP), os problemas que o bairro vem enfrentando desde 2022 e o Projeto de Educação Patrimonial Comunitário comunitário construído pelo grupo. Os moradores cobraram medidas do legislativo para garantia de direitos e a saída encontrada foi inserir os debates na agenda do Plano Diretor. Uma cópia do abaixo-assinado subscrito por mais de 5 mil pessoas em apoio às demandas da mobilização também foi entregue ao chefe do legislativo paulistano.

Interrupção da obra e futuro incerto

Em fevereiro, o movimento entrou com uma ação pedindo a perícia judicial das obras para avaliar possíveis danos causados por inundações aos materiais arqueológicos existentes ali. O resgate do patrimônio negro foi então interrompido pelo Iphan, mas a retomada das escavações pode acontecer neste mês e ainda não há garantia de atendimento das demandas da comunidade. A saber: a mudança do nome da estação (originalmente intitulada 14 Bis) para Quilombo Saracura Vai-Vai; a construção de um memorial e musealização no bairro das cerca de 5 mil peças que, estima-se, serão recolhidas do solo; e garantias à permanência da população negra e da Escola de Samba Vai-Vai no bairro.

O grupo já realizou ato, aula pública, caminhadas, rodas de conversa e audiências, além de participar de debates em diversas instituições.

Desde junho do ano passado o Mobiliza Saracura Vai-Vai vem se reunindo semanalmente para discutir a construção da obra da Linha 6-Laranja do metrô diante dos achados arqueológicos do Quilombo do Saracura no local, e as implicações que a chegada do modal podem causar na história negra do bairro. Sambistas, ativistas, pesquisadores e moradores participam do Movimento cujo manifesto tem apoio de centenas de instituições, tais como MNU (Movimento Negro Unificado), Pastoral Afro e Paróquia de Nossa Senhora Achiropita, Uneafro, Casa Sueli Carneiro, Sindicato dos Metroviários, Instituto de Referência Negra Peregum, Centro de Estudos Periféricos da Unifesp, LabCidade FAU-USP, entre outras.

A luta do coletivo não é contra o metrô, mas para que a obra não apague a memória e a presença negra do bairro, respeitando os patrimônios culturais e ambientais locais. Os danos já causados até o momento, tais como deslocamentos e enchentes, afetam justamente a população mais vulnerável que vive e circula ali, como o grupo vem denunciando em reportagens e artigos na imprensa nos últimos meses.

Audiência Pública Mobiliza Saracura Vai-Vai

8/maio às 18h no Salão Nobre da Câmara Municipal (Viaduto Jacareí, 100)