Coletivo Estopô Balaio participa do ProjetoTeatro Fora da Caixa do Sesc Belenzinho
Grupo da Zona Leste da capital paulista apresenta seu novo espetáculo ''Reset Brasil'' com encenação nos vagões de trens da CPTM e nas ruas do bairro de São Miguel Paulista
- Data: 02/05/2023 10:05
- Alterado: 02/05/2023 10:05
- Autor: Redação
- Fonte: SESC
Coletivo Estopô Balaio Participa do ProjetoTeatro Fora da Caixa do Sesc Belenzinho
Crédito:Cassandra Mello
O Coletivo Estopô Balaio, formado em 2011 no Jardim Romano, Zona Leste de São Paulo, participa do projeto Teatro Fora da Caixa, iniciativa do Sesc Belenzinho com foco em obras cênicas em que o espaço é elemento central para a dramaturgia e estratégia para o jogo teatral. Diferente das edições anteriores do projeto, com montagens encenadas em um ônibus de linha e nas escadarias da Praça Central do Sesc Belenzinho, desta vez o palco das apresentações será um vagão de trem da CPTM, onde tem início o espetáculo Reset Brasil.
Na mais nova montagem do Coletivo Estopô Balaio — dramaturgia de Juão Nyn e direção de Ana Carolina Marinho — público é levado pelas ruas do Jardim Lapena e pelo Museu Capela dos Índios que fica na Praça do Forró, região onde foi confabulado um dos maiores ataques Indígenas do Estado de São Paulo. Com quatro horas de duração, Reset Brasil traz à cena 20 atores, sendo 12 crianças. As sessões gratuitas acontecem de 11 de maio a 15 de junho, quintas-feiras e sábados, às 15h.
Além do espetáculo, o Estopô Balaio apresenta a intervenção teatral Algum destes é seu parente? nos dias 14 e 21 de maio, domingos, às 15h e a Batalha de Rimas Jardim Rimano no dia 27 de maio, sábado, às 15h, ambos na Praça Central do Sesc Belenzinho. Já no domingo, dia 28 de maio, acontece o show do rapper e indígena em retomada Dunstin Farias, na Comedoria da unidade. O grupo também ministra o curso de dramaturgia contracolonial A História Embaixo das Unhas nos dias 4 e 11 de junho, domingos, das 15h às 18h.
Brasil sumiu do mapa
Em Reset Brasil — projeto contemplado pelo Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo da Secretaria Municipal de Cultura e ProAC — Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, público é convidado a sonhar rotas de fuga para o Brasil. Ao embarcar em um trem, rumo a São Miguel Paulista, os espectadores com aparelhos sonoros e fones de ouvido, começam a ser guiados por vozes de crianças e anciãos que falam, além do português, diversos idiomas nativos.
Nesse trajeto o público descobre que o Brasil sumiu do mapa e quando desembarca em São Miguel Paulista é recepcionado por um levante indígena no Jardim Lapena. Aos poucos vai descobrindo que o antigo aldeamento Ururay — nome original da região pantanosa que abrange os bairros do Jardim Romano, Itaim Paulista e São Miguel Paulista, além de outros da Zona Leste e Alto Tietê — ainda resiste e planeja um novo cerco. Os moradores, as crianças e os artistas vão se revelando a partir de suas ancestralidades: indígenas, vindos de África, de Abya Yala, benzedeiras, pajés e nordestinos.
O espetáculo integra a Trilogia da Amnésia do Coletivo Estopô Balaio composta pelas peças Reset Nordeste — encenada em versão on-line e que provavelmente terá uma versão presencial — Reset Brasil e Reset América Latina, em processo de pesquisa.
Memória étnica
O Coletivo Estopô Balaio traz para a encenação de Reset Brasil a pesquisa e provocação de Juão Nyn, ator do grupo e indígena Potyguara, bem como toda a inquietação como artistas migrantes, em sua maioria vindos do Nordeste, e desterritorializados.
Na atualidade, o corpo de artistas do Coletivo Estopô Balaio está formado majoritariamente por artistas indígenas — Dunstin Farias, Keli Andrade, Juão Nyn, Mara Carvalho e Lisa Ferreira. Essa configuração de equipe estabeleceu-se dessa maneira pela continuidade da pesquisa do grupo sobre fluxos migratórios, além da ampliação de consciência indígena em corpos urbanizados, mestiçagem e memória étnica, fortalecimento de redes politizadas na periferia e valorização da presença de corpos nordestinos/migrantes/indígenas diante da demanda territorial de moradia e dignidade de vida na metrópole paulista.
Para a encenação de RESET BRASIL, o Coletivo Estopô Balaio convidou diversos atores e atrizes que participaram de uma residência artística no ano passado para integrarem o elenco, que é majoritariamente formado por moradores dos bairros Jardim Romano e Jardim Lapena. De acordo com a diretora Ana Carolina Marinho, o fazer artístico do Estopô Balaio sempre esteve voltado para a Zona Leste de São Paulo e para o resgate da oralidade e das memórias. Como migrantes nordestinos, os artistas encontraram no Jardim Romano um lugar de pertencimento.
Ações artísticas
O Coletivo Estopô Balaio também apresenta a intervenção teatral Alguns destes é seu parente? (14 e 21 de maio, domingos, 15h, Praça Central do Sesc Belenzinho) que se inicia com uma interação com o público passante convocado a rememorar sua ancestralidade. Logo depois, os artistas saem em cortejo musical e munidos de instrumentos percussivos cantam algumas músicas do espetáculo Reset Brasil, que tratam da memória indígena dos bairros Jardim Romano, Jardim Lapena e São Miguel Paulista. As músicas são entrecortadas com algumas cenas do espetáculo.
Já a Batalha de Rimas do Jardim Rimano (27 de maio, sábado, 15h, Praça Central do Sesc Belenzinho) é uma batalha de rima comandada pelo coletivo Jardim Rimano do extremo leste de São Paulo. O nome faz jus ao bairro em que reside o grupo, Jardim Romano. O coletivo tem ações voltadas à cultura Hip Hop e reside artisticamente na Casa Balaio, sede do Coletivo Estopô Balaio. A batalha de MCs tem o formato da batalha tradicional, com intervalos com apresentações musicais de artistas convidados da região. A partir de temas escolhidos pelo público, os rappers fazem uma batalha de improviso, e vão atravessando algumas fases, onde os espectadores são convocados a escolher as melhores rimas.
Integrante do Coletivo Estopô Balaio, rapper e indígena em retomada, Dunstin Farias apresenta seu trabalho autoral de música em que o Jardim Romano e a zona leste de São Paulo são protagonistas de suas canções em um show (28 de maio, domingo, 18h, Comedoria do Sesc Belenzinho). Além do músico e dos bboys e bgirls, Mell Reis, Bia Ferreira, Moises Matos e KayLezz, Dustin convidará outros artistas para mandarem a letra sobre a realidade dos jovens que vivem no extremo leste da cidade de São Paulo. Duas das músicas que serão cantadas no show integram a trilha sonora do espetáculo A cidade dos rios invisíveis, sendo elas Estilo de Quebrada e Fatos do Extremo.
O ponto de vista de quem escreveu a história define o curso dela. Como questioná-la e reescrevê-la a partir do ponto de vista da documentação dos que a viveram, mas não tiveram a chance de escrever sobre? O Coletivo Estopô Balaio também ministra o curso de dramaturgia contracolonial A História Embaixo das Unhas (dias 4 e 11 de junho, domingos, 15h às 18h, Oficina III do Sesc Belenzinho). Com Juão Nyn e Mara Carvalho, o curso traz fotografias recolhidas no Museu da Imigração para um aprofundamento nos percursos migratórios com o intuito de escavar a memória à contrapelo, ou seja, oferecer uma leitura sobre outras perspectivas, diante das ausências, silêncios e invisibilizações, compreendendo, por exemplo, São Paulo como um território indígena.