Epidemia de dengue atinge um quarto dos municípios de SP
Estado registra mais de 58 mil casos confirmados e 27 mortes; especialistas alertam para risco de aumento em 2025
- Data: 04/02/2025 20:02
- Alterado: 04/02/2025 21:02
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Reprodução
Atualmente, cerca de um quarto dos municípios do estado de São Paulo enfrenta uma epidemia de dengue, conforme revelado pelo Painel de Arboviroses da Secretaria Estadual da Saúde (SES). De acordo com dados coletados entre 1º de janeiro e o meio-dia do dia 4 deste mês, foram confirmados 58.695 casos da doença no estado, resultando em 27 mortes. Além disso, há 64.794 casos sob investigação, juntamente com 177 óbitos.
A SES informou que atualmente 51 cidades possuem decretos de emergência em vigor devido à dengue, e um total de 161 municípios estão classificados como em epidemia, representando aproximadamente 24,9% do total.
Conforme as definições da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, a epidemia é caracterizada quando a taxa de incidência ultrapassa os 300 casos por cada 100 mil habitantes. Para determinar essa taxa, é necessário multiplicar por 100 mil o número de novos casos e dividir pelo total da população na área analisada. Esse coeficiente fornece uma estimativa do risco de infecção entre os moradores locais e a probabilidade de novas ocorrências.
Dentre os municípios afetados, Santa Salete, localizada a 601 km da capital paulista, destaca-se com o maior coeficiente de incidência: 6.117,50 casos por 100 mil habitantes. Outras cidades com altos índices incluem Santana da Ponte Pensa (5.804,91), Turmalina (5.609,76) e Glicério (5.166,50).
Na cidade de São José do Rio Preto, situada a 438 km de São Paulo, quatro pessoas perderam suas vidas devido à dengue, enquanto o município registrou 5.651 casos, resultando em uma incidência de 1.164,30.
Por outro lado, na capital paulista, a incidência permanece relativamente baixa, com apenas 24,8 casos para cada 100 mil habitantes. A cidade acumula até agora 2.835 casos confirmados e investiga outros 664 casos junto a dez mortes.
Atualmente, os sorotipos do vírus da dengue que circulam no estado são os tipos 1, 2 e 3, sendo os tipos 1 e 2 os mais prevalentes.
O diretor nacional de Infectologia da Rede D’Or e ex-secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, expressou preocupação quanto ao futuro imediato. Ele prevê que o cenário não é encorajador e que o ano de 2025 poderá ser marcado por números alarmantes semelhantes aos registrados em 2024.
“No ano passado, a dengue deixou de ser uma doença sazonal para se tornar uma ameaça constante ao longo do ano. Se continuarmos a ver a mesma circulação do sorotipo atual entre a população já parcialmente imunizada, isso poderá resultar em um aumento significativo nos casos”, afirmou Uip.
O vírus da dengue possui quatro sorotipos diferentes. Quando um indivíduo contrai um deles, desenvolve imunidade contra aquele específico; no entanto, ainda pode ficar suscetível aos outros sorotipos. O sorotipo 3 é menos comum e a maior parte da população ainda não apresenta imunidade contra ele.
Uip explica que a segunda infecção pela dengue aumenta em cerca de 10% as chances de desenvolvimento de formas graves da doença. A vacina atualmente disponível oferece maior proteção contra os sorotipos 1 e 2. A pesquisa para desenvolver vacinas que cubram todos os sorotipos costuma ser demorada devido à necessidade de ter uma epidemia envolvendo todos eles.
No momento, não há uma vacina amplamente disponível para toda a população; atualmente, somente indivíduos na faixa etária entre 10 e 14 anos podem se vacinar com o produto Qdenga desenvolvido pela farmacêutica Takeda.
Além disso, o Instituto Butantan está trabalhando em uma vacina que ainda aguarda avaliação pela Anvisa. Se aprovada, a Butantan-DV será a primeira vacina no mundo aplicada em dose única contra a dengue transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Essa inovação é esperada para facilitar a imunização da população local, considerando que muitas pessoas não retornam para completar o esquema vacinal existente que requer duas doses.
A dengue é uma arbovirose transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que prolifera em ambientes com água parada. As condições climáticas quentes e chuvosas favorecem sua reprodução. Assim sendo, espera-se que o pico dos casos continue até meados de abril deste ano. Além das iniciativas governamentais em várias esferas administrativas, é essencial que a população mantenha vigilância constante para combater essa doença.