Austrália traça meta para se tornar superpotência em energias renováveis
Aposta na descarbonização e em novas tecnologias pode colocar o país como líder global em energia limpa.
- Data: 19/01/2025 12:01
- Alterado: 19/01/2025 12:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Reprodução
A Austrália, atualmente classificada como o terceiro maior exportador mundial de combustíveis fósseis, está se preparando para uma ambiciosa transição rumo a uma superpotência em energias renováveis. O governo australiano estabeleceu uma meta de elevar a participação de fontes limpas na matriz energética do país para 82% até 2030, um avanço significativo em relação à atual capacidade instalada de aproximadamente 40%.
Para alcançar esse objetivo, as autoridades australianas estão mobilizando investimentos substanciais. Os esforços abrangem desde incentivos para energias com baixas emissões de carbono até iniciativas que visam aprimorar a eficiência energética das residências. Além disso, há um foco intenso em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias que suportem essa transição.
Nos últimos três anos, mais de 60 bilhões de dólares australianos (aproximadamente R$ 225,5 bilhões) foram anunciados para acelerar essa transformação, incluindo 22,7 bilhões de dólares australianos (R$ 104,1 bilhões) destinados à expansão de novas indústrias. Entre essas indústrias estão o hidrogênio renovável, metais verdes e combustíveis líquidos de baixo carbono, que desempenharão um papel crucial nos esforços globais de descarbonização.
A iniciativa não apenas busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa e tornar o setor elétrico mais sustentável, mas também posiciona a Austrália estrategicamente para capturar uma parcela significativa dos investimentos globais destinados à transição energética, estimados pela Agência Internacional de Energia em até US$ 2 trilhões.
No entanto, a transição apresenta desafios internos significativos. O fechamento programado das usinas geradoras de energia a carvão está previsto para ser concluído até 2038, exigindo adaptações econômicas e sociais nas comunidades que dependem dessa indústria.
A ministra dos Recursos da Austrália, Madeleine King, reconhece os desafios inerentes a essa mudança, mas assegura que o governo está desenvolvendo estratégias para apoiar os afetados por essa transformação. “Estamos implementando um planejamento cuidadoso para essas comunidades e explorando oportunidades para o surgimento de novas indústrias,” afirmou.
Estudos independentes sugerem que a meta de ultrapassar 80% de energias renováveis nos próximos cinco anos é factível, embora exija um esforço sem precedentes. Melanie Pill, especialista em mudanças climáticas do Lowy Institute, enfatiza que o sucesso da meta depende fortemente de um ambiente político favorável e do suporte financeiro governamental.
Pill destaca que o governo australiano tem demonstrado uma postura positiva ao promover o país como um líder em energia renovável, o que pode encorajar investimentos privados no setor. Contudo, ela alerta para o histórico problemático do país em relação à ação climática e menciona que essa questão frequentemente se torna objeto de disputa política.
Desde sua ascensão ao poder em 2022, o primeiro-ministro Anthony Albanese tem trabalhado para ampliar as iniciativas climáticas da Austrália. Ele substituiu um governo criticado internacionalmente por sua inação em políticas ambientais e já implementou metas rigorosas para a redução das emissões.
Embora os avanços sejam celebrados por ambientalistas, ainda há um consenso sobre a necessidade de aprofundar os compromissos climáticos do país. A influência persistente da indústria do carvão — responsável pela extração de mais de 400 milhões de toneladas desse combustível no ano passado — representa um desafio significativo à agenda climática.
Além disso, a retórica da oposição política sugere preocupações sobre os impactos econômicos das energias renováveis. O líder da oposição, Peter Dutton, tem defendido a adoção da energia nuclear como solução viável para reduzir custos e garantir fornecimento energético limpo.
Ainda assim, o uso doméstico da energia solar na Austrália já é amplamente adotado; cerca de um terço das residências conta com painéis solares instalados. Essa tendência começou na década passada e se intensificou com o apoio contínuo dos governos federal e estadual.
Com investimentos direcionados à pesquisa local em tecnologias solares — avaliados em 1 bilhão de dólares australianos (R$ 3,8 bilhões) — as autoridades buscam reduzir a dependência externa desses equipamentos.
A Austrália acredita que sua transição bem-sucedida poderá servir como modelo inspirador para outras nações que enfrentam desafios semelhantes na redução das emissões e na busca por uma matriz energética mais limpa.