Medicamento Wegovy reduz inflamação no fígado e previne cirrose
Estudo mostra que medicamento para obesidade, pode ser eficaz no tratamento de fibrose hepática, uma condição que pode evoluir para cirrose, apresentando resultados promissores no controle da inflamação e redução de riscos associados.
- Data: 14/01/2025 20:01
- Alterado: 14/01/2025 20:01
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: FOLHAPRESS
Crédito:Angelo Baima
Recentemente, o Wegovy, um medicamento que compartilha o mesmo princípio ativo da Ozempic e que já é utilizado no tratamento da obesidade, demonstrou eficácia em pacientes com inflamação e fibrose hepática. Essas condições podem evoluir para cirrose, conforme indicam os resultados preliminares de um estudo conduzido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.
O estudo de fase 3, divulgado em dezembro, envolveu mais de 1.200 participantes de 39 países, incluindo o Brasil, todos diagnosticados com fibrose hepática moderada a avançada. Os pacientes foram divididos em dois grupos: um recebeu o medicamento contendo semaglutida e o outro, um placebo.
Uma subanálise focou em 800 dos participantes durante um período de 72 semanas. Entre aqueles que estavam sob placebo, 22,5% apresentaram melhora sem agravamento da inflamação hepática. Em contrapartida, no grupo que recebeu semaglutida, esse percentual aumentou para 37%. Para os indivíduos que apenas enfrentavam inflamação no fígado, 34,1% do grupo placebo melhoraram, enquanto no grupo tratado com Wegovy, essa taxa subiu para impressionantes 62,9%.
É importante destacar que a melhoria observada entre os pacientes do grupo placebo não é incomum e pode ser atribuída à adoção de mudanças no estilo de vida que são frequentemente recomendadas para o manejo de inflamações e fibroses hepáticas.
A esteatose hepática não alcoólica é uma condição frequentemente associada a fatores como obesidade, diabetes e sedentarismo. Quando não tratada adequadamente, pode levar a complicações sérias como cirrose — uma condição em que o fígado se torna incapaz de desempenhar suas funções normais e pode exigir transplante. A hematologista Cláudia Oliveira, uma das autoras do estudo e vice-coordenadora da pós-graduação em Ciências Gastroenterológicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que o sistema imunológico responde ao excesso de gordura no fígado enviando células inflamatórias ao órgão, desencadeando processos inflamatórios que podem culminar na fibrose hepática.
A cirrose é uma condição que não é completamente irreversível; no entanto, os pacientes necessitam de medicações para controlar a progressão da doença. Além disso, a cirrose pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer hepático e doenças cardiovasculares.
No contexto do estudo da Novo Nordisk, o uso do Wegovy também demonstrou um controle mais eficaz da pressão arterial e do diabetes tipo 2, além de promover perda significativa de peso — aspectos cruciais para o tratamento das condições associadas ao diabetes e à obesidade.
Os efeitos adversos mais frequentes associados ao uso do Wegovy foram gastrointestinais, como náuseas e diarreia. O perfil de segurança do medicamento mostrou-se consistente com o observado nos tratamentos anteriores voltados à obesidade, sem novos riscos identificados além dos sintomas habituais.
A Novo Nordisk pretende submeter os resultados deste estudo às agências regulatórias ainda este ano para buscar a aprovação do Wegovy como opção terapêutica para pacientes com gordura e fibrose hepática. No Brasil, essa análise será realizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Atualmente, não existe um tratamento específico para os estágios iniciais da doença; geralmente são recomendadas intervenções relacionadas à adoção de estilos de vida saudáveis e práticas regulares de exercícios físicos.
Um estudo recente publicado em 2023 destacou que a América do Sul apresentou o maior aumento na prevalência de adolescentes com acúmulo de gordura no fígado entre todos os continentes analisados entre 1990 e 2019. A América do Sul registrou um aumento significativo de 39,2%, seguida pela América do Norte com 36,8% e Europa com 27%.
No Brasil, estimativas sugerem que cerca de um terço das pessoas acima dos 35 anos apresenta gordura no fígado e possui maior risco de desenvolver diabetes tipo 2. Essa pesquisa foi realizada por instituições renomadas como a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e USP.
Em até metade dos casos de esteatose hepática, há potencial para evolução para uma inflamação conhecida como esteatohepatite não alcoólica — recentemente reclassificada como doença hepática gordurosa metabólica. Atualmente, não existem medicamentos específicos disponíveis no Brasil para tratar a esteatohepatite associada a disfunções metabólicas.