Falta de Saneamento e Chuva Aumentam Contaminação nas Praias da Baixada Santista
Praia José Menino em Santos: Aumento de viroses e esgoto expõem a falta de saneamento, enquanto banhistas ignoram os perigos das águas contaminadas.
- Data: 11/01/2025 11:01
- Alterado: 11/01/2025 11:01
- Autor: redação
- Fonte: Folhapress
Crédito:Divulgação
No final da manhã da última quarta-feira (8), mesmo com o céu nublado e os primeiros sinais de chuva, um grupo de banhistas ignorou a bandeira vermelha que indicava a impraticabilidade da água para banho na praia José Menino, em Santos. Essa praia é uma das várias do litoral paulista que frequentemente apresentam condições inadequadas para a prática de atividades aquáticas.
A situação se torna ainda mais preocupante diante do recente surto de virose que afetou diversas cidades da Baixada Santista, incluindo Guarujá e Praia Grande. A contaminação das praias não possui uma causa única; a combinação de esgoto, resíduos sólidos e a infiltração de água pluvial agrava o problema. Ligação clandestina ao sistema de esgoto e a falta de tratamento adequado dos rejeitos são fatores que contribuem para essa crise sanitária.
Moradores entrevistados destacam a necessidade urgente de uma fiscalização mais rigorosa para regularizar as conexões irregulares de esgoto e promover a conscientização sobre a importância da manutenção das redes de drenagem pluvial, evitando assim sua contaminação.
O aumento no volume de resíduos gerados pela população durante as altas temporadas de verão também impacta negativamente a qualidade da balneabilidade das praias. Ademais, o entrelaçamento das redes pluviais com as de esgoto complica ainda mais a situação.
Um exemplo claro dessa problemática foi observado na manhã citada, nas interseções das ruas Godofredo Fraga e Dr. Gaspar Ricardo, no bairro Marapé. Um poço de visitação da Sabesp transbordava, permitindo que o esgoto chegasse à rede de drenagem pluvial, que desaguava em um córrego canalizado. Este córrego leva os contaminantes diretamente ao canal nº 1, que deságua na praia José Menino. A proximidade com a estação Santa Lourdes do VLT e com a Estação de Pré-Condicionamento Esgotos Engenheiro Saturnino de Brito evidencia um paradoxo: apesar da infraestrutura existente, a má gestão ainda compromete a saúde pública.
A Estação Saturnino, datada do início do século XX e reconhecida por seu papel na engenharia sanitária no Brasil, possui capacidade para tratar 5.300 litros por segundo. Em dias secos, é possível captar água do canal para tratamento antes do lançamento no mar; no entanto, em dias chuvosos, as comportas precisam ser abertas para evitar alagamentos, permitindo que esgoto não tratado chegue à área de banho.
Especialistas em saúde pública recomendam que os banhistas evitem entrar no mar nas 24 horas após chuvas intensas devido aos riscos associados à contaminação. Marcos Bandini, aposentado e morador local, critica a falta de fiscalização nas conexões clandestinas e na coleta regular do esgoto. Ele também destaca a deterioração das redes existentes.
A prefeitura de Santos informou que já identificou irregularidades em 30 imóveis da região José Menino e acionou a Sabesp para resolver as questões relacionadas às ligações clandestinas. Em relação ao bairro Santa Terezinha, os moradores são orientados pelo condomínio responsável pela gestão das casas.
Sobre os problemas verificados na rede da Sabesp, a companhia afirmou ter realizado ações corretivas para desobstruir a rede danificada. Além disso, moradores apontam que falta orientação sobre o descarte correto do lixo. A estação da Sabesp tem registrado diversos tipos de resíduos nos esgotos filtrados, como sacolas plásticas e restos alimentares.
Em resposta aos desafios enfrentados na região, o governo municipal lançou o programa Detecta para identificar ligações irregulares nos canais. Desde julho de 2023 até dezembro do mesmo ano, foram realizadas 864 inspeções e encontradas 123 irregularidades.
Dados recentes do Censo Demográfico revelam que cerca de 117 mil pessoas na Baixada Santista vivem sem acesso adequado ao saneamento básico. O município enfrenta dificuldades com um terço do esgoto gerado em Guarujá e Bertioga não sendo coletado adequadamente.
A prefeitura está investindo em dois programas habitacionais para solucionar problemas históricos de infraestrutura. O primeiro visa atender 17 mil moradores da Vila Esperança com melhorias no saneamento; o segundo contempla a Vila dos Pescadores com benfeitorias semelhantes.
Com as expectativas depositadas na privatização da Sabesp e investimentos planejados de R$ 2,5 bilhões até 2029 no litoral paulista, as autoridades locais esperam ver melhorias significativas nos serviços de saneamento básico.
Ainda assim, o desafio persiste: apenas 78% do esgoto produzido na Baixada Santista é coletado corretamente; além disso, cerca de 25% da população reside em áreas irregulares sem acesso à rede coletora.
A professora Alexandra Sampaio destaca que outro entrave enfrentado por Santos é a falta de universalização dos serviços nas cidades vizinhas, afetando negativamente a qualidade das águas em áreas como Ponta da Praia em certas condições climáticas.
Para Edson Aparecido da Silva, secretário-executivo do Ondas (Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento), é crucial que haja um monitoramento contínuo da situação do saneamento ao longo do ano. Ele alerta sobre a negligência do poder público em estar preparado para atender às demandas durante períodos críticos como as férias.