7 de Setembro na Vala das Manifestações

Artigo de Edson Fernandes

  • Data: 06/09/2013 14:09
  • Alterado: 06/09/2013 14:09
  • Autor: Redação
7 de Setembro na Vala das Manifestações

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Nos anos de ditadura militar no Brasil e após a abertura política, na década de 1980, manifestações populares aconteceram durante o dia 7 de setembro. Movimentos eclodiram nessa data, desde facções da Igreja Católica como a Teologia da Libertação, aos partidos políticos de esquerda; dos sindicatos à União Nacional dos Estudantes; de professores a intelectuais e artistas.

Não era incomum que nas festividades – cujo cunho moral e cívico era incentivado pelos militares e formalizado pelo governo como um símbolo de civismo e patriotismo – grupos populares reivindicassem a volta do Estado Democrático, o retorno dos exilados políticos e uma ampla reforma governista. Ação que à época foi duramente rechaçada pelo regime militar.

Ainda após a abertura política na década de 1980, e outros acontecimentos marcantes como o “Movimento Diretas Já” em 1984, o processo de dois anos de impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello – culminando em 1992 -, a Presidência da República assumida pelo vice-presidente Itamar Franco, a eleição para a presidência de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e a de Luís Inácio Lula da Silva em 2002, os partidos de oposição ao governo e entidades organizadas continuavam com os protestos no dia 7 de setembro.

Mas o que chamou a atenção na data atual é que ao ser anunciado nas redes sociais que 140 cidades brasileiras seriam palcos de manifestações populares, algumas cidades no país cancelaram as comemorações festivas, alegando que por motivo de segurança não colocariam em risco o patrimônio público e a população.

Não ficou claro se essa atitude sugere precaução contra “atos terroristas” dos chamados grupos radicais ou se há uma força policial despreparada para lidar com os protestos populares em pleno dia comemorativo cívico. Mais estranho ainda é quando a democracia sugere que a segurança está ameaçada pela própria população, que ao mesmo tempo em que é convidada a assistir esse evento, é vista como uma ameaça ao país.

Em 17 de junho de 2013 foram registrados 548.944 posts nas redes sociais, segundo o site da Info Abril. Cerca de 132 milhões de pessoas foram impactadas por postagens sobre as manifestações no mês de junho (65% da população brasileira), segundo pesquisa da Ideas Scup. E no dia 20 de junho, cerca de 1,5 milhão de pessoas foi às ruas protestar em todo o território nacional. Ou seja, este 7 de setembro assombrou o governo, que pouco sabe o que irá acontecer.

O que assusta os representantes políticos não são as informações que estão circulando nas redes sociais sobre “a maior manifestação da história do Brasil” – chamada por alguns grupos de “Operação 7 de Setembro” –, nem são os números astronômicos de posts de manifestantes no mês de junho. É a vala entre os manifestantes e o governo, que separa as intenções de um e de outro, a segurança de um lado e o medo do outro, o descontrole de um e a liberdade do outro. Parece mais um jogo de oponentes, em que um não controla a situação e o outro tem a liberdade de expressão, sem deixar pistas sobre o que de fato irá acontecer.

Na vala dos protestos há parte da lama dos políticos corruptos, a amoralidade do Deputado Donadon, do escândalo do cartel do metrô de São Paulo, do Occupy Sérgio Cabral e Renan Calheiros, dos Indignados da Cura-Gay, da Primavera brasileira que parece já começou. A vala das centenas de reivindicações e dos problemas que o governo terá que resolver.

Ao que parece, este 7 de setembro será comemorado cantando o hino nacional, seja com a banda da polícia militar, ou seja à capela com a população nas ruas. Sem música não deixaremos de comemorar, resta saber se será com democracia ou violência de ambos os lados.

 Edson Fernandes é Doutor em comunicação, pesquisador e autor do livro “Protesta Brasil: das redes sociais às manifestações de rua”, juntamente com Ricardo de Freitas Roseno pela Editora Prata.

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