Como o Natal é celebrado nas religiões de matriz africana
Natal no Brasil: uma celebração de união e reflexão que transcende tradições, unindo culturas e fortalecendo laços entre famílias.
- Data: 25/12/2024 10:12
- Alterado: 25/12/2024 10:12
- Autor: Redação
- Fonte: G1
Crédito:TSE
Na perspectiva cristã, o Natal é um momento de celebração do nascimento de Jesus, mas ao longo dos anos, essa data transcendeu seu significado original. Além da união familiar e da troca de presentes, a expectativa pela figura do Papai Noel também se tornou parte do imaginário infantil. Para as comunidades que seguem religiões de matrizes africanas, como o Candomblé e a Umbanda, o dia 25 de dezembro é igualmente uma oportunidade de confraternização.
Leonel Monteiro, presidente da Associação Brasileira Afromeríndia, enfatiza que tradições como o arroz com passas e o amigo secreto não são exclusivas dos cristãos. Ele observa que, nas famílias de axé, o Natal representa um momento para estar junto aos entes queridos. “Não comemoramos nesse sentido religioso, mas sim na perspectiva de confraternizar. É um período de encerramento de ciclos e de estar próximo da família e dos amigos”, explica.
O g1 conversou com líderes religiosos das tradições afro-brasileiras para entender como essa data é celebrada por aqueles que não seguem a fé cristã.
Umbanda
A Umbanda, uma religião brasileira fundada em 1908 em Niterói, combina elementos do espiritismo, catolicismo, tradições indígenas e práticas africanas. Pai Raimundo, líder do Centro de Umbanda Paz e Justiça em Salvador, destaca que o Natal é uma ocasião propícia para encontros e atos de caridade. No centro, os membros costumam promover confraternizações nas residências dos frequentadores, realizar sorteios de brindes e arrecadar doações para famílias em situação vulnerável.
“Em nossa religião, tudo gira em torno da comida! Organizamos café da manhã, churrascos e amigo secreto”, comenta com bom humor Pai Raimundo. Ele também valoriza a importância da figura do Papai Noel na imaginação das crianças: “Queremos preservar essa magia. Em um mundo repleto de desafios, é fundamental que elas tenham espaço para sonhar”.
A época natalina também é um período de reflexão no Centro. Durante a última reunião antes do Natal, Pai Raimundo faz um jogo de búzios para determinar quais orixás regerão o próximo ano. Em 2025, as divindades escolhidas foram Iansã e Oxum. Após essa descoberta, recomenda banhos especiais para iniciar o novo ciclo da melhor maneira possível e sugere que os frequentadores regularizem suas pendências espirituais antes do fim do ano.
Candomblé
O Candomblé é uma religião afro-brasileira que cultua orixás através de danças, cantos e oferendas. O calendário do Ilé Maroialaji – Terreiro do Alaketu não segue as datas católicas; seu encerramento anual acontece em agosto, enquanto as celebrações públicas das Águas de Oxalá ocorrem entre os dias 30 de dezembro e 1º de janeiro.
Segundo a Ìyá Atinsà Suzane Barbosa, o terreiro promove diversas festividades ao longo do ano que incluem datas como o Dia das Crianças e o Dia das Mães. Nesses momentos festivos, a congregação é marcada por uma grande partilha de alimentos. “Esses eventos são oportunidades para nos unirmos e celebrarmos”, diz ela.
Durante o mês de dezembro, o terreiro realiza preparativos intensos para as celebrações das Águas de Oxalá. As atividades incluem limpeza e organização das instalações para dar boas-vindas ao novo ano. Assim como na Umbanda, a festividade está ligada ao amor ao próximo e à solidariedade.
A Ìyá Atinsà ressalta que a mensagem central da solidariedade deve ser praticada todos os dias: “Nosso trabalho não se limita a uma data específica; buscamos continuamente elevar o amor e a educação ao longo do ano”.
Independentemente das crenças religiosas, líderes das tradições afro-brasileiras concordam que o verdadeiro espírito natalino deve ser cultivado durante todo o ano. Pai Raimundo resume essa ideia: “O sentimento natalino—solidariedade e união—deve ser vivido diariamente”.