Estudo revela impacto da Covid-19 na saúde mental dos brasileiros
33% sofrem com ansiedade e 25% com fadiga
- Data: 19/12/2024 07:12
- Alterado: 19/12/2024 07:12
- Autor: Redação
- Fonte: Ministério da Saúde
Teste covid-19
Crédito:Marcelo Camargo - Agência Brasil
Um novo estudo elaborado pelo Ministério da Saúde revelou que a pandemia de Covid-19 deixou marcas significativas na saúde mental e física dos brasileiros. Entre os sintomas mais frequentemente relatados estão ansiedade, cansaço, dificuldades de concentração e perda de memória.
De acordo com a pesquisa intitulada “Epicovid 2.0: Inquérito nacional para avaliação da real dimensão da pandemia de Covid-19 no Brasil”, mais de 28% da população brasileira, o que representa cerca de 60 milhões de pessoas, afirmou ter sido infectada pelo coronavírus. A pesquisa, divulgada na última quarta-feira (18), indicou que 18,9% dos entrevistados relataram condições pós-covid, sendo esses números mais elevados entre mulheres e indígenas. Os dados mostram que 33,1% enfrentam problemas relacionados à ansiedade, enquanto 25,9% relataram fadiga, 16,9% dificuldade de concentração e 12,7% perda de memória.
Considerado o maior estudo populacional sobre Covid-19 no Brasil até o momento, o Epicovid 2.0 foi realizado em 133 municípios e envolveu 33.250 entrevistas. O foco da pesquisa abrangeu não apenas o histórico de infecções e as consequências socioeconômicas da pandemia, mas também a vacinação e as condições pós-infecção. Este estudo é uma continuidade do Epicovid-19 iniciado em 2020, agora dedicado a avaliar os efeitos prolongados do vírus na vida dos brasileiros.
A adesão à vacinação contra a Covid-19 foi alta, com 90,2% dos participantes recebendo pelo menos uma dose e 84,6% completando o esquema vacinal com duas doses. Os dados mostram uma maior taxa de vacinação nas regiões Sudeste do país, especialmente entre idosos, mulheres e indivíduos com níveis educacionais e de renda mais elevados.
Durante a coletiva de imprensa que marcou a apresentação dos resultados da pesquisa, a ministra da Saúde Nísia Trindade destacou a relevância desse levantamento. Ela enfatizou que “o Epicovid é um estudo abrangente sobre a doença”, lembrando que sua continuidade anterior foi prejudicada pelo negacionismo científico e pela falta de acesso aos dados necessários. A ministra também anunciou que mais de R$ 8 milhões foram investidos no projeto.
O epidemiologista Pedro Hallal, professor da Universidade de Illinois (EUA) e um dos coordenadores do estudo, ressaltou a importância do Epicovid ao mensurar os impactos da pandemia. Ele explicou: “Quatro anos após o início da crise sanitária, apresentamos um estudo que não é apenas um monitoramento contínuo, mas uma avaliação das consequências que a pandemia trouxe para as vidas das famílias brasileiras.”
Quanto à confiança na vacina contra Covid-19, os resultados indicaram que 57,6% dos entrevistados demonstram confiança no imunizante, com essa percepção sendo mais forte entre os grupos de maior renda. Contudo, uma parcela significativa da população (27,3%) expressou desconfiança em relação às informações sobre a vacina, especialmente entre aqueles com menor poder aquisitivo. Além disso, 15,1% dos participantes se mostraram indiferentes ao assunto.
Entre os indivíduos que optaram por não se vacinar, 32,4% afirmaram não acreditar na eficácia da vacina e 0,5% duvidam até mesmo da existência do vírus. Outros motivos citados incluem preocupações sobre possíveis efeitos adversos (31%) e relatos pessoais de infecção prévia ou problemas de saúde (4,2%). Esses dados evidenciam como a desinformação pode influenciar a hesitação vacinal.
Em relação à hospitalização após infecção pelo vírus, as taxas variaram significativamente conforme a região do país. O Nordeste registrou uma taxa de hospitalização de 7,6%, enquanto o Centro-Oeste apresentou uma taxa de 5,5%. Vale ressaltar que as taxas foram mais elevadas entre pessoas com menor renda.
A pesquisa também revelou os impactos econômicos devastadores trazidos pela pandemia às famílias brasileiras. Aproximadamente 15% dos entrevistados relataram ter perdido um familiar devido à Covid-19. Além disso, 48,6% mencionaram redução na renda familiar durante esse período crítico, resultando em insegurança alimentar para 47,4% dos participantes — ou seja, pessoas sem garantia diária de acesso aos alimentos. A perda de emprego afetou cerca de 34,9% dos entrevistados e aproximadamente 21,5% interromperam seus estudos durante a pandemia.
A pesquisa Epicovid 2.0 abordou uma ampla gama de temas relevantes relacionados à pandemia incluindo sintomas pós-infecção, impactos financeiros e educacionais e desinformação sobre vacinas. Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente com apenas um membro por residência respondendo ao questionário.
Realizada sob a coordenação do Ministério da Saúde em colaboração com instituições acadêmicas como a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e outras entidades respeitáveis como Fiocruz e FGV, esta pesquisa representa um esforço significativo para entender melhor os efeitos duradouros da pandemia no Brasil.