Opositor rejeita convocação do Supremo venezuelano e já não se declara presidente eleito
Em carta divulgada em rede social, Edmundo González evita assinar como candidato vencedor e apenas insta autoridades a respeitar vontade do povo
- Data: 07/08/2024 12:08
- Alterado: 07/08/2024 12:08
- Autor: Redação
- Fonte: Folhapress
Edmundo González principal opositor de Nicolás Maduro
Crédito:Reprodução/X
O candidato da coalizão opositora na Venezuela, Edmundo González, disse nesta quarta-feira (7) que não atenderá a uma convocação do TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) do país, que abriu um processo a pedido do ditador Nicolás Maduro para certificar a sua questionada vitória nas eleições de 28 de julho.
Em carta publicada em suas redes sociais, González disse que Maduro apresentou um suposto recurso à Câmara Eleitoral do TSJ. O ditador afirmou publicamente que, se o candidato de oposição não comparecer, incorrerá em responsabilidades legais. Se comparecer e entregar as cópias das atas, também haverá responsabilidade criminal.
“Este é um procedimento imparcial que respeita o devido processo? Estou condenado antecipadamente?”, questiona González no comunicado, que aponta fraude nas eleições. “Se eu for à Câmara Eleitoral nestas condições, estarei em absoluta vulnerabilidade devido à falta de defesa e à violação do devido processo, e colocarei em risco não só a minha liberdade, mas, mais importante ainda, a vontade do povo venezuelano expressa em 28 de julho.”
Chama a atenção na carta desta quarta-feira (7) o fato de Edmundo González não a assinar como “presidente eleito”, tal como fizera em missiva pública anterior, divulgada na segunda-feira (5) e cujo último parágrafo dizia: “Nós ganhamos esta eleição sem discussão alguma. […] Agora cabe a todos nós fazer respeitar a voz do povo. Procede, imediatamente, a proclamação de Edmundo González Urrutía como presidente eleito da República.”
Principal cabo eleitoral de González e antichavista mais popular do país, María Corina Machado também firmou a carta do dia 5, assinando como “líder das forças democráticas na Venezuela”. A dupla pediu às Forças Armadas do país que não sejam cúmplices do chavismo e reconheçam que Maduro foi derrotado nas urnas, ao contrário do que anunciou, sem apresentar nenhuma ata eleitoral publicamente, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral).
González e María Corina afirmavam ainda que, “como governo eleito”, seriam oferecidas garantias aos militares que “cumprirem seu dever constitucional”, com a ressalva de que “não haverá impunidade”.
O tom da carta desta quarta é bem mais comedido. Agora sem a assinatura de María Corina, González insta as autoridades a “recuperar a sensatez e buscar em diálogo franco vias que canalizem os argumentos de cada parte, na instância competente constitucionalmente e em um marco aceitável para todos, no qual os direitos humanos fiquem a salvo e o respeito à vontade do povo seja a máxima irrevogável”. Maduro é citado como “cidadão”, não como presidente, e não há nenhuma menção aos militares desta vez.
À reportagem interlocutores próximos aos líderes opositores afirmaram que a carta de segunda-feira (5) não tinha a intenção de sinalizar um governo paralelo ao regime de Caracas, mas sim de confirmar o que as atas eleitorais que possuem em mãos dizem. A oposição possui pouco mais de 80% das atas do processo.
Pouco após a divulgação da missiva, o Ministério Público venezuelano anunciou a abertura de uma investigação contra os dois.
Diversos países já reconheceram o ex-diplomata Edmundo González como o vencedor, entre eles os Estados Unidos. Já o trio Brasil, Colômbia e México, negociadores de alta importância nesse cenário, pede que o regime publique os dados desagregados e, mais, as atas eleitorais, para que uma checagem independente seja possível.