Nunes liga Boulos a Janones e desvia de polêmicas bolsonaristas
Prefeito de São Paulo afirmou que rival 'legalizou rachadinha', negou golpe no 8/1 e se disse 'extremista da democracia'
- Data: 15/07/2024 12:07
- Alterado: 15/07/2024 12:07
- Autor: Redação
- Fonte: Ana Luiza Albuquerque, Artur Rodrigues e Joelmir Tavares/Folhapress
Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB)
Crédito:Vinicius Loures/Câmara dos Deputados; e Isadora de Leão Moreira/Governo do Estado de SP
O prefeito e pré-candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB) ligou Guilherme Boulos (PSOL) à suspeita de rachadinha do deputado federal André Janones (Avante-MG) ao dizer que o adversário “legalizou” ao defender o arquivamento do caso e desviou de polêmicas do bolsonarismo, nesta segunda-feira (15), no ciclo de entrevistas promovido por Folha e UOL com postulantes à Prefeitura de São Paulo.
Nunes fez logo no início uma referência indireta a Janones, chamando-o de “o rapaz da rachadinha” e depois falou que “teve lá a passada de pano pelo Boulos”, quando o deputado federal do PSOL, como relator do caso, votou pelo arquivamento no Conselho de Ética da Câmara.
Para o emedebista, Boulos “fez a legalização da rachadinha”.
Apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Nunes disse considerar que o 8 de janeiro não foi uma tentativa de golpe de Estado, mas um ato de depredação do patrimônio público. Ele fez coro ao bolsonarismo nas críticas às penas aos envolvidos nas invasões dos prédios em Brasília.
O emedebista argumentou que não havia “uma situação de pessoas armadas”, eram “pessoas humildes, ambulantes, aposentados”. Ressalvou, contudo, que eram “pessoas que estavam ali fazendo algo totalmente errado” e que repudiou o episódio desde o primeiro momento. “Está muito distante dizer que aquelas pessoas tentaram um golpe de Estado”, reiterou.
Ele citou o caso Escola Base, quando por erro acusados que eram inocentes foram condenados, e disse que qualquer investigação pode resultar em absolvição ou condenação. “A gente precisa ter muita cautela em fazer um pré-julgamento antes do momento adequado.”
Nunes buscou equiparar o 8 de janeiro a atos de Boulos, lembrando episódios em que o então líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) participou de manifestações.
Ele recomendou mais de uma vez que o público “desse um Google” em “Boulos 23 de setembro”, alusão à data em 2021 em que o MTST e integrantes da Frente Povo sem Medo invadiram o pregão da Bolsa de Valores, em São Paulo, para um protesto. Nunes também lembrou manifestações do grupo num prédio do Ministério da Fazenda e na sede da Fiesp.
“Foi tentativa de golpe o Boulos ter invadido o Ministério da Fazenda e a Fiesp”, disse o prefeito.
O pré-candidato à reeleição também repudiou o atentado contra o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, no fim de semana, classificando como “um exemplo daquilo que a gente precisa continuar combatendo” e dizendo que “não é aceitável qualquer tipo de agressão”.
Ele disse que o ataque é condenável, assim como a facada sofrida por Bolsonaro em 2018 “foi lamentável”. “O rapaz da rachadinha [apareceu] dizendo que isso teria sido algo forjado, tanto aqui quanto lá”, provocou, em referência a Janones.
Nunes desviou de questões polêmicas sobre Bolsonaro e seu grupo político, mas procurou reforçar a aliança eleitoral e sustentou que o ex-presidente contribuiu com a cidade enquanto estava no Planalto.
“Trabalhei muito para ter o apoio do presidente Bolsonaro, estou grato pelo apoio do presidente Bolsonaro”, declarou. Ele também negou que o ex-presidente tenha condicionado o apoio a cargos. “Bolsonaro não me pediu absolutamente nada com relação a espaços de governo.
Questionado se é bolsonarista, insistiu na resposta que vem dando e disse ser “ricardista”.
“Eu sou do diálogo, respeitando sempre os posicionamentos contrários”, afirmou ele, que lembrou estar filiado ao MDB desde os 18 anos. “Eu sou um defensor extremista da democracia.”
Nunes aproveitou várias oportunidades para pintar Boulos como uma ameaça. “Alguns dos pré-candidatos não têm moderação em suas falas. A gente precisa distensionar isso”, declarou, afirmando que a eleição será o momento ideal para avaliar o perfil e a história pessoal dos candidatos.
“[É preciso] vencer a extrema esquerda, de alguém que depreda o patrimônio público, ataca adversários e fez a legalização da rachadinha. […] É um risco para a cidade ter alguém agressivo, invasor, depredador e que legalizou a rachadinha”, disse.
Apesar de ter direcionado mais ataques a Boulos, Nunes também mirou Pablo Marçal (PRTB), que atrai parte do eleitorado bolsonarista e pode desidratar sua candidatura à reeleição, e também José Luiz Datena, classificando como injustiça o PSDB lançar um candidato e ficar fora de sua coligação.
O prefeito disse que o coerente e natural seria o PSDB continuar em seu projeto, já que ele foi o vice do então prefeito Bruno Covas, que morreu em 2021. Nunes disse que Covas o colocava como candidato natural à sucessão, já que não poderia tentar um novo mandato neste ano.
O prefeito também defendeu a escolha do coronel da reserva da PM Ricardo Mello Araújo (PL) como seu candidato a vice na chapa. O ex-coronel da Rota (batalhão de elite da PM paulista, conhecido por sua letalidade e truculência) foi indicado por Bolsonaro, mas Nunes negou que tenha sido um nome imposto.
O emedebista disse que questionou Mello Araújo sobre a polêmica declaração do ex-coronel em 2017 na qual defendeu tratamento diferente da PM a moradores da periferia e de áreas nobres. Segundo o prefeito, o militar respondeu que foi mal-interpretado na época e que se tratou de “uma fala mal colocada”.
Nunes também afirmou que, se reeleito, será bom ter como vice alguém com “uma vida limpa, ilibada”.
“É esse cara que eu quero, que, quando chegar alguém com gracinha, põe pra fora pra correr. A gente precisa ter isso”, disse, após lembrar que Mello Araújo trava batalha judicial com o senador Alexandre Luiz Giordano (MDB) porque, supostamente, impediu um caso de corrupção na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) quando foi presidente do local.
Questionado sobre a explosão de obras emergenciais, sem licitação, em sua gestão, Nunes justificou a escolha afirmando que era preciso agir com urgência para proteger a população. O assunto é explorado por adversários, sobretudo Boulos, para desqualificar o governo e apontar indícios de corrupção.
“A gente vive um momento de mudança climática e conseguiu ajustar o caixa da prefeitura. A cidade de São Paulo hoje tem capacidade de investimento”, disse o emedebista.
O prefeito afirmou que não é ele quem determina a realização de uma obra emergencial, mas, sim, engenheiros e integrantes da Defesa Civil, que são chamados ao local onde há o problema e avaliam o risco como a probabilidade de uma casa cair. “Vai esperar acontecer para eu ser criminalizado por omissão? Não.”
O valor gasto com obras emergenciais teve um crescimento de 10.400% em cinco anos, como mostrou a Folha. O valor aumentou de R$ 20 milhões em 2017 para R$ 2,1 bilhões em 2022. Já o UOL reportou que ao menos 223 contratos trazem indícios de combinação de preços entre empresas concorrentes.
Nunes afirmou que pediu para a Controladoria-Geral do Município abrir procedimento de investigação e insinuou que é de responsabilidade das empresas se esse tipo de irregularidade existiu.
Sobre a cracolândia, Nunes mencionou trabalho conjunto com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu principal cabo eleitoral. Os dois têm falado sobre a sinergia entre prefeitura e governo do estado como um argumento para reeleger o emedebista.
O prefeito disse que não é impossível acabar com a cracolândia, mas que isso depende de conscientizar as pessoas a aceitarem o tratamento. “Se todos quiserem vagas, eu e Tarcísio vamos providenciar”, afirmou.
Nunes também foi questionado sobre a acusação, de 2011, feita pela esposa do atual prefeito por violência doméstica, ameaça e injúria. Após a exposição na imprensa, Regina Carnovale afirmou não se lembrar de ter feito um boletim de ocorrência.
Na sabatina, Nunes disse que esse documento é forjado e que a própria delegacia respondeu a Regina que não havia o boletim nos arquivos.
“A Regina já falou que ela não fez [o boletim]. A Regina contratou um advogado, o advogado entrou com uma petição dizendo que queria o boletim assinado. Veio a resposta da delegacia que não existia esse boletim”, afirmou
Em 2020, em nota enviada à Folha, a mulher de Nunes admitiu o boletim, mas disse que passava por um momento sensível. O documento continua disponível no sistema da Polícia Civil.
Nunes demonstrou irritação com as perguntas sobre o tema, declarou ficar indignado com a abordagem do assunto e afirmou que “é uma irresponsabilidade trazer uma coisa dessa”, que “machuca” e é “um desrespeito” à mulher com quem está casado há 27 anos. “Usar um negócio desse é repudiante.”
Fabíola Cidral conduziu a sabatina, com participação das jornalistas Raquel Landim, do UOL, e Carolina Linhares, repórter da Folha.
No cargo desde 2021, Nunes se elegeu como vice-prefeito na chapa de Bruno Covas (PSDB) e assumiu o cargo de prefeito após a morte do tucano naquele ano. Antes, foi vereador de São Paulo por dois mandatos (de 2013 a 2020).
Além do pré-candidato do MDB, outros três postulantes foram convidados. A Folha e o UOL sabatinaram também Boulos, que está empatado na liderança da pesquisa Datafolha com Nunes, e Pablo Marçal.
Nesta terça-feira, às 10h, será a vez do apresentador José Luiz Datena (PSDB).
A série de sabatinas começou por Belo Horizonte, em junho. Nas últimas semanas, os pré-candidatos de Salvador, Porto Alegre e Recife foram entrevistados. Ainda haverá outras com concorrentes de mais 13 cidades.
Além disso, os veículos promoverão debate com os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo. O encontro no primeiro turno será em 30 de setembro, às 10h. Caso haja segundo turno, haverá outro debate no dia 21 de outubro, também às 10h.