Aliados de Ricardo Nunes minimizam rebelião de líderes de PL e União Brasil
Cessar insatisfações dependeria da adesão de Bolsonaro, e interlocutores do ex-presidente rechaçam ideia
- Data: 22/05/2024 09:05
- Alterado: 22/05/2024 09:05
- Autor: Redação
- Fonte: Carolina Linhares/Folhapress
Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB)
Crédito:Wilson Dias/Agência Brasil
A foto de um jantar de apoio à reeleição de Ricardo Nunes (MDB) no dia 22 de abril com a presença de líderes dos principais partidos do país se tornou símbolo da força política de uma coligação com mais de dez legendas.
Menos de um mês depois, no entanto, Nunes e seus aliados trabalham para conter insatisfações em dois partidos considerados cruciais para o sucesso de sua candidatura – o PL e a União Brasil.
Como mostrou a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, líderes desses partidos chegaram a discutir lançar outro candidato e abandonar Nunes, a quem atribuem soberba, “salto alto” e “espírito de já ganhou”. O prefeito está empatado com o rival, Guilherme Boulos (PSOL), na última pesquisa Datafolha, mas melhorou seu patamar.
De acordo com quem acompanha a questão, PL e União Brasil cobram mais espaço na prefeitura, que é loteada entre os partidos que apoiam o emedebista.
O foco do descontentamento, segundo interlocutores do prefeito, é o deputado federal Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), que é próximo do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto.
Nesta segunda (20), Rodrigues esteve com o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, principal cacique da União Brasil em São Paulo.
A empreitada contra Nunes, porém, depende da adesão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para quem as críticas a respeito do prefeito têm sido levadas.
Para contornar a situação, integrantes do MDB afirmam que conversaram com os presidentes do PL, Valdemar, e da União Brasil, Antonio Rueda, e que há a garantia de que os partidos seguem na aliança e com Nunes. Eles minimizam a rebelião, que entendem como uma jogada por mais cargos.
Da mesma forma, interlocutores de Bolsonaro, principal apoiador de Nunes, afirmam que o ex-presidente não deve alimentar o fogo amigo contra o prefeito. Nesta segunda-feira, páginas bolsonaristas passaram a desmentir notícias de que o PL não apoiaria Nunes.
Na visão de pessoas próximas a Nunes, a ameaça de desembarque só causaria preocupação se fosse capitaneada por Bolsonaro ou Valdemar, o que não seria o caso.
No entanto a aposta dos caciques rebeldes é a de que a rejeição dos militantes bolsonaristas a Nunes poderia fazer o ex-presidente mudar de lado. Uma ideia aventada é que PL e União Brasil apoiem Pablo Marçal (PRTB), coach que tem a simpatia de Bolsonaro.
Resultado de uma união mais por interesse do que afinidade, o casamento entre Nunes e Bolsonaro enfrenta a oposição da direita radical, que não enxerga no prefeito os valores defendidos pelo ex-presidente. Eles cobram que Nunes faça gestos aos bolsonaristas e o veem como um político morno, que esconde o apoio de Bolsonaro.
Recentemente a visita de Nunes ao papa Francisco – que depois veio a se encontrar também com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) – e a resistência do prefeito em aceitar um vice bolsonarista voltaram a inflamar os eleitores de Bolsonaro.
Nesse sentido, membros do PL veem o clima azedar em relação a Nunes, seja pelo lado dos radicais ou dos pragmáticos, que cobram influência na prefeitura.
Nunes chegou a marcar uma reunião com Rodrigues neste mês, mas ele não compareceu. Ainda assim, emedebistas afirmam que relação do prefeito com o deputado é boa e próxima.
Em abril, o prefeito teve que substituir diversos secretários que vão concorrer na eleição, e integrantes do PL e da União Brasil reclamam de não terem sido consultados a respeito das mudanças. Como mostrou a Folha, Nunes optou por soluções caseiras na maior parte das pastas.
Há ainda um ressentimento em relação ao PSDB, que comanda diversas secretarias e dispõe de cargos na prefeitura sem que tenha oficializado o apoio a Nunes. Os tucanos se dividem entre apoiar o prefeito, lançar a candidatura do apresentador José Luiz Datena (PSDB) ou apoiar Tabata Amaral (PSB).
PL e União Brasil ainda perderam o controle de subprefeituras. A do Butantã é ligada ao vereador Thammy Miranda, que migrou do PL para o PSD. E a de Itaquera é ligada à vereadora Sandra Tadeu, que saiu da União Brasil rumo ao PL.
Outra cobrança do PL e da União Brasil em relação a Nunes é que o prefeito decida quem será seu vice na chapa, posto almejado por ambas as siglas.
O PL ofereceu diversas opções, como o coronel da PM aposentado Ricardo Mello Araújo, preferido de Bolsonaro, e as vereadoras Sonaira Fernandes e Rute Costa. Na União Brasil, é Milton Leite quem almeja ser vice.
Interlocutores de Nunes, justamente para evitar as disputas internas na coligação que a escolha do vice pode gerar, afirmam que essa decisão só será tomada em julho.
Procurados pela reportagem, aliados de Bolsonaro também minimizaram a ameaça de desembarque do PL e da União Brasil. O entorno do ex-presidente afirma que ele e Valdemar seguem firmes com Nunes e que há uma tentativa de Rodrigues de ganhar projeção.
Mesmo o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que era o pré-candidato favorito do bolsonarismo em São Paulo, saiu em defesa de Nunes. Salles teve que desistir de concorrer depois que Bolsonaro fechou a aliança com o prefeito.
“Fui contra apoiar Nunes, tentei ser candidato, não consegui e acatei a decisão de indicar o vice: bola pra frente. Hoje, entretanto, vejo notícias plantadas por negociantes de plantão que querem, com elas, praticamente chantagear/extorquir cargos, espaços e verbas do prefeito”, escreveu Salles no X nesta terça (21).
“Não concordo e tenho certeza que JB [Jair Bolsonaro] também não. Não caiam nessa. Não vamos nos prestar a isso. Não botar inocentemente pressão só para que outros malandramente colham vantagens. Não sejamos manipulados por eles. Farol alto. Nada de varejinho…”, completou.