Alfabetização: Brasil ainda tem 11,4 mi. que não sabem ler e escrever

Novos dados do Censo Demográfico de 2022 mostram que a taxa de alfabetização no Brasil cresceu, mas ainda há 7% de analfabetismo

  • Data: 17/05/2024 17:05
  • Alterado: 17/05/2024 17:05
  • Autor: Redação
  • Fonte: Folhapress/Leonardo Vieceli
Alfabetização: Brasil ainda tem 11,4 mi. que não sabem ler e escrever

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A taxa de alfabetização seguiu em trajetória de alta no Brasil e alcançou 93% das pessoas de 15 anos ou mais em 2022, indicam novos dados do Censo Demográfico divulgados nesta sexta-feira (17) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O indicador, que mostra o percentual de pessoas que sabiam ler e escrever pelo menos um bilhete simples, é o maior de uma série histórica com números desde 1940, quando o órgão de pesquisas realizou o seu primeiro recenseamento.

O reflexo da alfabetização em alta é o recuo do analfabetismo, cuja taxa caiu a 7% da população de 15 anos ou mais em 2022. Trata-se da menor proporção da série divulgada pelo IBGE.

Em termos absolutos, o percentual de 7% significa que, mesmo com a melhora, o Brasil ainda tinha 11,4 milhões de pessoas de 15 anos ou mais que não sabiam ler e escrever um bilhete simples em 2022. O total de habitantes nessa faixa etária foi de quase 163 milhões.

Para se ter uma ideia, o contingente de analfabetos é similar à população inteira da cidade de São Paulo, também na faixa de 11,4 milhões.

No Censo de 1940, somente 44% da população de 15 anos ou mais -menos da metade- era alfabetizada no país. O percentual avançou nas décadas seguintes, chegando a 90,4% em 2010 e a 93% em 2022.

Em termos absolutos, a taxa mais recente significa que 151,5 milhões de pessoas de 15 anos ou mais sabiam ler e escrever.

Já a taxa de analfabetismo era de 56% no início dos registros do IBGE, em 1940, e recuou nas décadas seguintes, atingindo 9,6% em 2010 e 7% em 2022.

Na manhã desta sexta-feira em evento de apresentação dos dados, Marcio Pochmann, presidente do IBGE, disse que as taxas de analfabetismo no país revelam a profunda desigualdade do Brasil e exigem ações urgentes do poder público.

“O Brasil está entre os dez principais países do mundo, não apenas em tamanho territorial, mas também em termos populacionais e econômicos. Ainda assim, estamos olhando para um contingente enorme de pessoas que ainda não sabem ler e escrever, quando estamos em uma sociedade que já avança para a era digital. Isso precisa ser melhor refletido”, disse.

Idosos são os mais afetados

De acordo com o IBGE, não saber ler e escrever é um problema que diminuiu para as diferentes faixas etárias e que continua afetando mais os idosos.

Entre os brasileiros de 65 anos ou mais, a taxa de analfabetismo recuou de 29,4% em 2010 para 20,3% em 2022. O percentual mais recente indica que 1 em cada 5 habitantes dessa faixa etária não sabia ler e escrever.

Trata-se de uma proporção maior do que em outros grupos. Os 4,5 milhões de analfabetos de 65 anos ou mais representavam 39,4% da população total afetada pelo problema em 2022 (11,4 milhões).

Conforme o IBGE, a situação dos mais velhos é um reflexo da “dívida educacional brasileira”, marcada pelo atraso em investimentos na área de ensino.

Com esse atraso, os idosos de hoje teriam enfrentado mais obstáculos no acesso à educação durante a fase da juventude.

A “dívida”, diz o instituto, afetou tanto a escolarização de crianças quanto programas de alfabetização de jovens e adultos que não haviam sido alfabetizados nas idades apropriadas.

“A taxa de analfabetismo não muda rapidamente. Ela é um estoque do que foi feito no passado”, disse Betina Fresneda, analista do IBGE responsável pela apresentação dos dados.

Pochmann também destacou que a concentração do analfabetismo entre as pessoas mais velhas exige ações específicas do poder público.”A população que sofre do analfabetismo é uma população envelhecida, de tal modo que é possível ter um projeto que enfrente esse problema. O país, se quiser, pode aniquilar o analfabetismo ainda nessa década, indo atrás dos grupos que são mais afetados. Os dados revelam onde estão os que mais sofrem e que deveriam ser contemplados com políticas públicas”, disse o presidente do IBGE.

De acordo com o instituto, as mulheres de 15 anos ou mais têm um percentual de alfabetização maior do que os homens. Em 2022, a taxa de pessoas que sabiam ler e escrever foi de 93,5% para elas e de 92,5% para eles.

Essa vantagem das mulheres foi verificada em praticamente todos os grupos etários, exceto entre os idosos de 65 anos ou mais. Nessa parcela da população, a taxa de alfabetização foi de 79,6% para elas, levemente abaixo da registrada pelos homens (79,9%).

O resultado sinaliza que as mulheres mais velhas enfrentaram obstáculos ainda maiores no acesso à educação. “Mostra que essa vantagem das mulheres nem sempre foi assim”, afirmou Fresneda.

A técnica disse que, nesta divulgação, o IBGE optou por publicar “indicadores tradicionais”, usualmente calculados para a população de 15 anos ou mais.

Segundo a pesquisadora, taxas referentes a parcelas mais jovens (5 a 14 anos) serão disponibilizadas quando o órgão compartilhar novas estatísticas de educação no âmbito do Censo 2022.

Desigualdades raciais e regionais permanecem

Os números divulgados desta sexta mostram que o país ainda carrega uma série de desigualdades na alfabetização, apesar dos sinais de melhora ao longo das décadas. Um exemplo disso pode ser observado no recorte de cor ou raça.

Entre a população preta de 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo caiu de 14,4% em 2010 para 10,1% em 2022. Já o indicador dos brancos recuou de 5,9% para 4,3%.

A diferença entre as taxas dos grupos até ficou menor, ao passar de 8,5 pontos percentuais para 5,8 pontos percentuais, mas o índice dos pretos ainda é mais do que o dobro do registrado pelos brancos.

Entre os pardos, o grupo que não sabia ler e escrever baixou de 13% em 2010 para 8,8% em 2022. Também é mais do que o dobro do resultado dos brancos (4,3%).

Na comparação dos indígenas com os brancos, a diferença é ainda maior. A taxa de analfabetismo dos indígenas recuou de 23,3% em 2010 para 16,1% em 2022.

Os amarelos são os únicos com percentual inferior ao dos brancos. O analfabetismo dessa parcela da população caiu de 8,7% para 2,5%.

“Ainda temos muito a avançar na redução das desigualdades para o acesso ao que seria o primeiro passo da educação, a alfabetização, o pressuposto básico de todos os outros direitos. O indicador ainda mostra um alerta”, disse Fresneda.

As disparidades também são vistas em termos regionais. A taxa de alfabetização do Nordeste avançou de 80,9% em 2010 para 85,8% em 2022, mas segue como a menor do país. O índice de analfabetismo da região (14,2%) é o dobro do nacional (7%).

Quando se avalia a alfabetização, o Sul (96,6%) e o Sudeste (96,1%) têm taxas acima de 96%, as maiores do país. Centro-Oeste (94,9%) e Norte (91,8%) aparecem depois, também acima de 90%.

No olhar estadual, Santa Catarina apresentou o maior percentual de pessoas de 15 anos ou mais que sabiam ler e escrever em 2022: 97,3%.

Distrito Federal (97,2%), São Paulo (96,9%) e Rio Grande do Sul (96,9%) vêm depois no ranking das unidades da Federação.

Alagoas (82,3%), Piauí (82,8%) e Paraíba (84%), por outro lado, mostraram as menores taxas de alfabetização.

De 2010 para 2022, Alagoas foi a unidade da Federação que mais aumentou a taxa de pessoas que sabem ler e escrever, com uma expansão de 6,7 pontos percentuais, diz o IBGE. O resultado, porém, não foi suficiente para retirar o estado da última posição do ranking.

Entre os municípios, a menor taxa de analfabetismo do Brasil foi verificada na cidade catarinense de São João do Oeste (a 700 km de Florianópolis). O percentual local de pessoas que não sabiam ler e escrever foi de apenas 0,9%.

O outro extremo é preenchido por Alto Alegre, em Roraima. O município, localizado a 80 km de Boa Vista, registrou a taxa mais elevada de analfabetismo: 36,8%.

“Mesmo que você atribua um percentual da receita de estados, municípios e União para educação, a disponibilidade de recursos é muito diferente entre as regiões. A tentativa de minimizar essas disparidades regionais é muito recente”, disse Fresneda.

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  • Data: 17/05/2024 05:05
  • Alterado:17/05/2024 17:05
  • Autor: Redação
  • Fonte: Folhapress/Leonardo Vieceli









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