Artista não binária Alexys Agosto lança primeiras faixas do disco “A Fabulosa Viagem de Futurística”
Em seu disco de estreia a artista traz uma aventura interplanetária na qual ganha vida Futurística, uma pessoa-ciborgue que passa por experiências catárticas e reivindica a construção de um gênero não binário, que borra as fronteiras entre masculino e feminino, identidade reivindicada pela artista
- Data: 09/04/2024 07:04
- Alterado: 09/04/2024 07:04
- Autor: Redação
- Fonte: Assessoria
Alexys Agosto
Crédito:Cristu da Silva
No dia 25 de abril de 2024, a artista multilinguagem Alexys Agosto (@alexysagosto) lança as primeiras músicas de seu álbum de estreia “A Fabulosa Viagem de Futurística”, um álbum pop, que transita pelo pelo rock e conta com uma forte influência do funk, além de outros ritmos brasileiros.
Idealizado por Alexys, o lançamento de “A Fabulosa Viagem de Futurística” será dividido em três atos, sendo que o primeiro acontece em abril, com o lançamento de um EP. O lançamento do álbum completo nas principais plataformas digitais acontece ainda no primeiro semestre de 2024.
Com influência de artistas LGBT+ como Banda Uó, Pabllo Cortar, Glória Groove e Linn da Quebrada, o disco também tem inspiração em Os Mutantes, Rita Lee, Cazuza, Yungblud e Maneskin, e na música brasileira dos anos 1960/70, como o álbum Gal (1969) de Gal Costa e Secos e Molhados. Do pop internacional a inspiração vem de Lady Gaga, Miley Cyrus e o mais recente álbum de Demi Lovato (Holy Fvck).
O disco é uma espécie de aventura musical interplanetária, na qual ganha vida Futurística, uma pessoa-ciborgue que se perdeu no espaço-tempo e ficou presa na realidade do planeta Terra.
No ato I, Futurística chega prevendo o futuro, revelando a plasticidade de nossa realidade e anunciando a iminência do fim do mundo. No segundo ato, Futurística foge para o espaço sideral, se joga em uma fenda do espaço-tempo, acreditando que lá ela poderia esticar suas asas. Porém, sozinha, tudo que ela sente é saudade. As músicas do segundo ato exploram as diferentes fases de solidão da personagem. Cansada de estar só, Futurística volta para o nosso planeta e aceita a realidade de ser diferente.
Futurística, a personagem fictícia criada pela artista queer e não binária Alexys Agosto, faz uso da poesia fantástica e catártica para exprimir anseios, angústias e significados do que pra ela é ser uma pessoa de identidade não binária – termo utilizado para identidades de gênero que não são estritamente masculinas ou femininas, transitando por diferentes densidades ou não aderindo a nenhum dos dois gêneros.
“Ei, você já percebeu? Você é um ciborgue computado tanto quanto eu. Ei, você já percebeu! Minha barba feminina. Sua saia comprida. Minhas unhas pintadas. Seu terno e gravata”, canta a artista na faixa “Ciborgue”, primeiro single do álbum, lançado no dia 04 de abril, que traz influências do rock e narra o momento em que a personagem Futurística fala sobre a plasticidade da nossa realidade e da relação que temos com os gêneros e convenções socialmente acordadas, desenvolvidas ao longo do tempo.
Ciborgue foi composta e arranjada por Alexys Agosto, e produzida por ela, em parceria com Helô Badu e o Maestro Marcelo Amalfi, professor doutor e produtor musical que, em 2021, concorreu ao prêmio Grammy Latino pelo seu trabalho de arranjo vocal com o disco “O Bar Me Chama” da banda Velhas Virgens na categoria Melhor Álbum de Rock ou de Música Alernativa Brasileiro.
Na época em que compôs a música, Alexys estava fazendo uma pesquisa de Iniciação Científica, analisando a obra teatral do grupo Dzi Croquettes (grupo da década de 70 conhecido por misturarem signos “masculinos” e “femininos”, rompendo com a binaridade de gênero e construindo personagens com características andróginas), a partir do Manifesto Contrassexual de Paul Preciado.
No manifesto, Preciado menciona que todas as pessoas são ciborgues preenchidas de próteses tecnológicas, com tecnologias que se fundiram com a nossa carne, sendo impossível identificar o que é orgânico e o que é tecnológico.
“Tudo é tão prostético…”, canta a Alexys em “Ciborgue”, usando o termo de Paul Preciado de forma artística, provocando as pessoas ouvintes, sem necessariamente ser fiel ao termo teórico original. A letra denuncia a construção tecnológica do gênero em nossa sociedade e também reivindica a construção de um gênero não binário, que borra as fronteiras entre masculino e feminino, identidade reivindicada pela artista.
“Isso não se trata de ficção científica, mas sim, de uma descrição da nossa própria realidade. Somos ciborgues computados, programados”, ela comenta.
Com 26 anos, a cantora, compositora, produtora musical e dramaturga, Alexys Agosto nasceu em Itaí, interior de São Paulo. Formada Bacharel no curso de Artes Cênicas da USP, ela se interessou em estudar teoria queer e junto com um grupo de amigos, criou o Coletive Avertere (@coletive_avertere).
Com o grupo teatral, que atualmente é formado por seis pessoas LGBT+, sendo quatro pessoas não binárias, circulou com o espetáculo “Tremores: sobre a luz dos vaga-lumes”, por diversos espaços culturais, festivais nacionais e internacionais. No Festival de Teatro de Pinhais 2022, o espetáculo ganhou o Prêmio de Melhor Dramaturgia, escrita por Alexys e Bel Monteiro. Além de dramaturga, Alexys atua e faz a produção musical das músicas originais de diversos espetáculos.
O início do processo criativo de “A Fabulosa Viagem de Futurística” aconteceu em 2020, com o início da pandemia da COVID-19. Diante da impossibilidade de atuar no teatro, a artista passou a investigar a dramaturgia sonora, construindo uma narrativa através de músicas que desaguaram na criação do disco.
“A sensação que eu tinha era a de estar presa em uma realidade na qual restava esperar o futuro para retornar a uma vida para além da tela do computador. Diante dessa crise sanitária que transformou radicalmente o estilo de vida naquele período e a virtualidade das relações sociais, surgiu o chamado “novo normal”, que pra mim era como se eu vivesse em um filme de ficção científica”, comenta a artista.
Por esse motivo, Alexys quis explorar esse gênero narrativo em seu álbum partindo do questionamento: “Quais sonoridades e letras poderiam ser criadas a partir de um universo de ficção científica?”
As músicas foram compostas, arranjadas e produzidas por Alexys. Helô Badu divide a produção musical com Alexys e foi co-compositora das faixas “Sistema Solar” e “Desprogramado”. Armr’Ore Erormray é o diretor visual do projeto, em parceria com Alexys. As músicas foram gravadas no estúdio da Rizoma Coletiva (@rizomacoletiva), uma rede de artistas da qual Alexys faz parte, localizada no Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo. Todas as pessoas envolvidas na equipe artística do projeto são pessoas não binárias.