Barra da Tijuca e resto da zona oeste crescem no Rio, enquanto resto da cidade encolhe
O subdistrito que lidera o aumento é Guaratiba (43,7%), seguido por Barra da Tijuca (40,1%) Jacarepaguá (14,1%), Santa Cruz (12,2%) e Campo Grande (10,8%) todos na zona oeste
- Data: 21/03/2024 14:03
- Alterado: 21/03/2024 14:03
- Autor: Redação
- Fonte: LUCAS LACERDA - FOLHAPRESS
RJ
Crédito:Tomaz Silva - Agência Brasil
Regiões da zona oeste do Rio de Janeiro lideraram o crescimento da população carioca nos últimos 12 anos. Entre os 33 subdistritos do Rio de Janeiro, os cinco que mais cresceram estão no maior território da cidade.
O subdistrito que lidera o aumento é Guaratiba (43,7%), seguido por Barra da Tijuca (40,1%) Jacarepaguá (14,1%), Santa Cruz (12,2%) e Campo Grande (10,8%) todos na zona oeste.
Já nas outras regiões da cidade foi registrada uma diminuição da população residente nos subdistritos de cada zona entre 2010 e 2022. As maiores reduções foram na Penha (-24,5%), no Complexo do Alemão (-21,6), ambos na zona norte, e no centro da cidade (20,4%).
Considerando as zonas da cidade, apenas a oeste teve crescimento de população, e a que mais perdeu moradores foi a norte. É o que mostram dados do Censo 2022 divulgados nesta quinta-feira (21) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O Rio de Janeiro foi a segunda cidade do país, atrás apenas de Salvador (BA), a perder mais habitantes entre 2010 e 2022, quando foram registrados 109.023 residentes a menos (-1,7%). A população da capital fluminense é de 6,2 milhões de pessoas.
A zona oeste carioca é a maior entre as quatro porções da cidade, com 70% do território, e também a mais diversa. Engloba a Barra da Tijuca, de expansão acelerada com condomínios, e as vilas Aliança e Kennedy, criadas nos anos 1960 pelo governo Carlos Lacerda (da extinta Guanabara) para famílias removidas de favelas de Botafogo e da Lagoa.
A distribuição desigual de infraestrutura reflete também a ocupação da parte oeste do Rio, segundo Patricia Nicola, pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Espaço Urbano, Vida Cotidiana e Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UrbanoSS-Uerj).
A falta de infraestrutura de saneamento e serviços públicos que acompanham os polos de moradia popular, diz ela, se repete em anos mais recentes. É o caso da ida de cerca de 10 mil pessoas para unidades habitacionais em Senador Camará, bairro vizinho a Bangu, com o programa Minha Casa MInha Vida.
“Houve um período, entre 2011 e 2013, de criação de 2.201 unidades habitacionais. Foram levadas milhares de pessoas para o bairro em dois anos, mas não a infraestrutura.”
Mas a zona oeste, ela lembra, já foi chamada até de “sertão carioca”, como no livro de Magalhães Corrêa, pesquisador do Museu Nacional, publicado em 1936. O nome foi inspirado nos rios, lagos, riachos, lagoas e onças-pintadas registrados por ele.
Ao longo das décadas, a região com forte produção agrícola ganhou trilhos, fábricas (como a de tecidos em Bangu) e viu a população crescer a partir dos anos 1960. Hoje, a região tem os subdistritos mais populosos do Rio, como Jacarepaguá (653,5 mil habitantes) e Campo Grande (542 mil habitantes). Ainda, abriga 14 empresas no distrito industrial de Santa Cruz, com saída para a baía de Sepetiba.
Para Nicola, a expansão de população, reforçada por programas de moradia popular, mostra que a zona oeste é para onde o Rio deve continuar a crescer, embora de forma desigual.
”Vemos que o crescimento de infraestrutura na Barra da Tijuca foi feito para atender demandas de uma classe média alta.”
Enquanto a zona oeste cresce, outras diminuem, ao menos na quantidade de residentes. Entre as possíveis causas para o movimento registrado pelos dois últimos recenseamentos estão a violência e o custo elevado em bairros, que podem afastar moradores.
“Temos uma área que é historicamente de contato entre facções do tráfico de drogas, e passou a ser também de conflito entre milicianos e traficantes, como o complexo da Maré e áreas ao redor de Madureira [na zona norte]”, diz Maurilio Botelho, professor de geografia urbana da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Lojas e galpões abandonados ao longo da avenida Brasil, uma das principais vias da cidade, segundo o pesquisador, mostram que o custo financeiro e de violência também afasta trabalho e renda.
“Quando a violência se soma ao custo de vida em uma cidade cara como o Rio, isso pesa. Por isso talvez vejamos o crescimento de municípios como Mangaratiba e Maricá”, diz Botelho.
Mas ele aponta que a aparente baixa na violência em áreas da zona oeste pode estar mascarada pelo controle de grupos armados. É o caso de Rio das Pedras, berço da milícia no Rio.