Polícia algema e detém homem negro vítima de facada em Porto Alegre

Em nota, a Brigada Militar afirmou que o Comando de Policiamento da Capital abriu "sindicância para apurar as circunstâncias da abordagem".

  • Data: 18/02/2024 17:02
  • Alterado: 18/02/2024 17:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: FOLHAPRESS
Polícia algema e detém homem negro vítima de facada em Porto Alegre

Crédito:Reprodução

Você está em:

Um homem negro foi algemado e detido neste sábado (17) pela Brigada Militar do Rio Grande do Sul após, segundo testemunhas, ser vítima de uma facada de um homem branco em Porto Alegre.

De acordo com os relatos, o homem negro, o motoboy Everton da Silva, 40, foi atingido próximo ao pescoço por Sérgio Camargo Kupstaitis, 72, quando estava sentado em frente a um restaurante, no bairro Rio Branco. Ele sofreu ferimentos superficiais.

Após um desentendimento entre a vítima da agressão e policiais que chegaram ao local da ocorrência, o motoboy foi algemado e levado para a delegacia na mala da viatura, enquanto o suspeito seguiu no banco de trás de outro veículo.

Em nota, a Brigada Militar afirmou que o Comando de Policiamento da Capital abriu “sindicância para apurar as circunstâncias da abordagem”. Nas redes sociais, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que determinou “absoluta celeridade” na investigação.

Na delegacia foram feitos três boletins de ocorrência. A Brigada Militar registrou um BO de resistência contra o motoboy, que por sua vez comunicou ter sido vítima de lesão corporal por parte do idoso e de abuso de autoridade pelos policiais. Ambos acabaram liberados.

Imagens gravadas por testemunhas mostram que um policial questiona onde o motoboy trabalha. “Eu fico aqui, eu trabalho…”, responde Everton, no momento em que é interrompido por Sérgio. “Trabalha nada.”

O motoboy se dirige ao idoso e fala: “Não começa. Agora pega a faca”.

Nesse momento, Everton foi puxado pela camisa pelo policial. Neste momento, o motoboy diz: “Não precisa me pegar assim. Quem está errado é ele! Me larga, então”, apontando para o suposto agressor.

O policial então responde “dá uma segurada”, e em seguida empurra a vítima contra a parede, ordena que ele coloque as mãos na cabeça e o algema.

O suspeito tenta deixar o local, em meio à revolta das pessoas que assistem à cena. “Isso é racismo puro”, alguém diz, no vídeo.

A psicanalista Marina Pombo, integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos, afirmou ter visto quando o suspeito desceu do prédio e foi em direção a um grupo de motoboys que estava em frente a um restaurante.

“A gente estava na fila do restaurante. Vimos esse senhor sair do prédio em direção aos motoboys. Não vimos bem o que aconteceu, mas esse rapaz deu um pulo para trás. Os motoboys começaram a gritar e nos aproximamos para ver o que tinha acontecido”, disse ela.

O professor Renato Levin Borges, que também estava no local, filmou as cenas logo no início da confusão. Segundo ele, o motoboy foi esfaqueado no pescoço. “Quando a gente chegou perto, viu que ele estava com uma faca. A gente começou a tentar separar e ligar para a polícia. O agressor tentou esfaqueá-lo de novo”, afirmou.

“Os colegas dele [motoboy] contaram que estavam conversando e que esse senhor, que mora bem em frente do restaurante, vive implicando com ele.”

Marina Pombo afirma que, ao chegar ao local, o policial foi direto em direção ao motoboy para revistá-lo. “O agressor não sofreu abordagem nenhuma”, afirmou. Ela disse ainda que o idoso subiu ao apartamento para vestir uma camisa e só foi algemado após protestos das testemunhas.

“Ele subiu sozinho para o apartamento e desceu vestindo uma camisa, bem tranquilo. Todo mundo começou a gritar que tinha que algemar. Algemaram com as mãos para a frente. Começaram a gritar e aí um policial virou ele de costa. Ele foi no banco de trás da viatura”, disse a psicanalista.

“Na delegacia havia cinco ou seis policias conversando com o agressor no banco de trás da viatura, dando risada. Enquanto isso a vítima estava na sala de custódia”, acrescentou.

O advogado Ramiro Goulart, que acompanhou o motoboy na delegacia, afirmou que se trata de um “caso paradigmático de racismo estrutural”. “Os policiais têm um comportamento e uma leitura de mundo que protegem o branco e partem do pressuposto que a conduta ilícita é do negro, do que tem menor poderio econômico.”

Compartilhar:

  • Data: 18/02/2024 05:02
  • Alterado:18/02/2024 17:02
  • Autor: Redação
  • Fonte: FOLHAPRESS









Copyright © 2024 - Portal ABC do ABC - Todos os direitos reservados