Mergulhadores ajudam cientistas a identificar raias no litoral de SP
Coleta de dados é feita no Arquipélago de Alcatrazes, no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos e na Ilha da Queimada Grande
- Data: 14/01/2024 09:01
- Alterado: 14/01/2024 09:01
- Autor: Redação
- Fonte: Estadão Conteúdo
Crédito:Reprodução/Governo SP
Fotógrafo subaquático desde 2015 e organizador de mergulhos recreativos (divemaster) desde 2022, Rafael Capuzzi Rosa Ferraz está acostumado a ver tartarugas marinhas, raias, tubarões-martelo e até baleias. Neste ano, ele uniu o trabalho a um esforço de contribuição à ciência: é um dos mergulhadores que participam do projeto “Viu raia?”, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que busca criar uma base de dados sobre as populações desses animais cartilaginosos no litoral paulista.
“A gente (mergulhadores) tem esse amor pelos animais marinhos, só que eu, por exemplo, não sou biólogo. Quando tem esses projetos que educam, fico muito feliz de estar junto”, diz Ferraz.
Trata-se de uma iniciativa de ciência cidadã, que prevê a participação da população na coleta de dados para pesquisa científica. “É essencial, porque as pessoas só cuidam daquilo que elas gostam e só gostam daquilo que elas conhecem”, complementa o divemaster.
Ameaça de extinção
No caso do “Viu raia?”, adotado agora em janeiro, o objetivo é coletar dados de espécies que foram avistadas, em quais épocas do ano e em que condições de visibilidade e temperatura da água. Das cerca de 600 espécies de raias conhecidas, 36% são consideradas ameaçadas de extinção – o que faz com que ganhem espaço na agenda global de conservação marinha.
Segundo o professor Fábio Motta, do Instituto do Mar (IMar) da Unifesp, que coordena o projeto, a participação dos mergulhadores recreativos é fundamental. “Principalmente nos últimos anos, as pessoas mergulham com câmeras digitais e muitas vezes coletam esses registros, que têm um valor imensurável para a ciência”, afirma.
Ele explica ainda que os principais dados sobre as raias no litoral paulista vêm de estatísticas de pesca, discriminados em quilogramas e reunidos em uma mesma categoria – o que tem pouco valor para o planejamento de ações de conservação, por exemplo.
O projeto está presente em pontos de desembarque no Arquipélago de Alcatrazes, no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos e na Ilha da Queimada Grande, onde os mergulhadores são entrevistados.
Cerca de 500 já responderam o questionário, enquanto 144 operações de mergulho receberam orientações sobre a identificação das espécies. A bióloga e pesquisadora Luiza Chelotti é a responsável pelas entrevistas. “O pessoal se anima em responder, faz questão de nos mostrar fotos”, diz.
Dados preliminares do projeto indicam a ocorrência de dez tipos de raias na região, com maior número de avistamentos em abril e maio, nas águas da Laje de Santos, em que a amostragem é semanal. Para um retrato mais preciso, é necessário seguir monitorando, principalmente em um cenário de mudança climática. “A gente tem de repetir para saber se este ano foi atípico”, afirma a pesquisadora Luiza.
Os animais elasmobrânquios (com esqueletos de cartilagem), como os tubarões e raias, têm papéis importantes na manutenção do ecossistema marinho, principalmente por meio do controle populacional de suas presas. Os pesquisadores querem utilizar os dados coletados para aumentar a conscientização sobre a importância da preservação dos animais.
Para uma segunda etapa do projeto está sendo planejado um sistema de pagamento por serviços ambientais (PSA), em que pescadores artesanais que devolvam à natureza raias capturadas vivas sejam remunerados.
O “Viu raia?” é realizado em parceria com a Unesp e a Universidade do Estado do Rio (UERJ) e recebe o apoio da ONG Instituto Linha D’água.