Onda de calor na última semana do inverno está diretamente relacionada aos efeitos das mudanças do clima
Artigo de Leonardo Sanches Previti, Engenheiro Civil do Centro de Pesquisas - Divisão de Ensaios e Análises do Instituto Mauá de Tecnologia
- Data: 20/09/2023 11:09
- Alterado: 20/09/2023 11:09
- Autor: Redação
- Fonte: IMT
Calor
Crédito:Rovena Rosa/Agência Brasil
Na última semana do inverno no Hemisfério Sul, o Brasil passará por uma onda de calor extremo em toda a sua superfície territorial, de acordo com as previsões meteorológicas. A Região Centro-Oeste, onde serão observadas as maiores temperaturas, pode atingir máximas de 40 a 45oC, muito superiores aos registros históricos para setembro. São Paulo, cuja maior temperatura já registrada desde 1943 é de 37,1oC, pode vir a ter uma quebra desse recorde nos próximos dias.
Essa elevação anormal da temperatura apresenta riscos à saúde humana, podendo, até mesmo, gerar um aumento de óbitos. Além dos efeitos da onda de calor, espera-se, no sul gaúcho, uma virada no tempo causada por uma frente fria, com expectativas de ventos e chuvas intensas. A passagem recente de um ciclone na região causou a morte de ao menos 48 pessoas e deixou o Estado bastante vulnerabilizado.
Há cerca de uma semana, a cidade de Derna, na Líbia, foi atingida por um ciclone que causou mais de 400 mm de chuva em 24 horas numa região que, para todo o mês de setembro, costuma registrar apenas 1,5 mm de pluviosidade.
A tempestade destruiu todo um sistema de barragens, inundando por completo a cidade, deixando bairros em escombros. Ainda não há dados oficiais sobre o número de mortos, mas contagens preliminares indicam que ao menos 20 mil pessoas possam ter morrido, numa cidade que tem cerca de 90 mil habitantes. Em apenas um dia, mais de 20% da população pode ter morrido. Confirmados os números, esse seria o pior desastre natural registrado neste ano.
Esses eventos, ainda que ocorridos em regiões tão distantes e díspares nas condições climáticas e ambientais, estão diretamente relacionados, pois são consequências diretas dos efeitos das mudanças do clima.
Fala-se muito nos riscos futuros associados às mudanças climáticas como se estes viessem de imediato, sem que houvesse uma progressão gradual na intensificação dos problemas mais previstos, mas, na verdade, o clima já está em processo de alteração. A situação é grave, como as mortes mencionadas acima atestam. No entanto, governos e, de forma mais importante, a sociedade, não devem se render à inércia do conformismo.
É urgente que, em primeiro lugar, seja feita uma transição energética no mundo, substituindo por completo os combustíveis fósseis. Não é mais tempo de abrir novas fronteiras de exploração de petróleo, tampouco investir em usinas movidas a carvão.
A responsabilidade dessas mudanças é sobretudo do poder público, em seus mais diferentes níveis de atuação, e das grandes corporações. São eles os agentes com alta capilarização, poder de mobilização e capacidade de articular ações de grande impacto.
À sociedade cabe exercer pressão constante para que não haja mais tergiversações e sejam executados planos concretos que vislumbre esse horizonte num prazo reduzido. Se isso não for feito, ou não na escala necessária, catástrofes continuarão se repetindo com intensidade cada vez mais extrema.