Clubes de futebol protestam contra fala xenofóbica de auditor do TJD
Rubens Dobranski disse que "os técnicos portugueses querem marcar território no Brasil"
- Data: 02/03/2023 16:03
- Alterado: 02/03/2023 16:03
- Autor: Redação ABCdoABC
- Fonte: Estadão Conteúdo
Abel Ferreira
Crédito:Reprodução
O futebol brasileiro foi vítima de mais um ato de xenofobia contra os treinadores portugueses que atuam em solo verde amarelo. E, desta vez, por um auditor do TJD do Paraná. Em julgamento de Antònio Oliveira por causa de briga generalizada entre jogadores do Coritiba e do Athletico-PR, Rubens Dobranski disse que “os técnicos portugueses querem marcar território no Brasil”. Ele ainda fez citação difamatória Abel Ferreira, do Palmeiras. Os clubes envolvidos divulgaram notas de repúdio à fala.
Sob a presença de Antònio Oliveira, Rubens Dobranski foi bastante infeliz ao dizer que “os técnicos portugueses que estão atuando no Brasil, parecem que estão querendo marcar território. É o caso do técnico do Palmeiras, que chuta balde d’água, chuta microfone, é sempre advertido com cartão amarelo. E se não me engano, quando o senhor chegou aqui no Coritiba, não sei dizer se foi na quarta ou na quinta rodada, já cumpriu suspensão por três cartões amarelos, confere isso?”, questionou.
O treinador do Coritiba, após sorriso irônico e de reprovação, rebateu a fala Dobranski em um leve bate-boca. “Eu na vida não olho cultura, raças ou nacionalidades”, disse o técnico, ao ser interrompido. “Nós também não, só estou vendo que estão tendo vários casos”, tentou se defender o auditor. “Mas o doutor acabou de dizer que os portugueses estão querendo marcar resultados”, seguiu Oliveira. “Pois é, porque está sendo comum isso acontecer”, afirmou Dobranski, antes de receber uma aula do técnico.
“Mas isso é uma opinião do doutor, não é minha, respeito muito, mas não é minha. Cada um, cada qual não pode olhar nacionalidades, religiões, cores… Para mim as pessoas, cada uma tem sua índole, sua formação. Tenho a minha, a minha forma de viver o jogo, estou aqui no Brasil desde janeiro de 2020 e já passei por quatro clubes. Tenho orgulho enorme de ter representado os dois melhores clubes dessa cidade”, disse. “Se continuam a me contratar é porque veem competência e o profissionalismo que quero continuar a dar. Não vou deixar de viver as partidas de forma disciplinada e com respeito a quem está à frente. Agora, quem está do outro lado também tem de se adaptar. O VAR, pelo que respiro, pelo que penso, já levo amarelo. As pessoas têm de olhar da mesma forma que eu preparo o adversário, conheço os jogadores, conheço o árbitro, e ele também tem de conhecer o treinador.”
Ao ver o nome de Abel Ferreira envolvido em mais um polêmica xenofóbica, o Palmeiras reagiu de maneira forte e cobrança punição ao auditor e sua fala intolerante e desrespeitosa.
“O Palmeiras lamenta ter de vir novamente a público para repudiar mais um ataque de caráter xenófobo contra o técnico Abel Ferreira e os demais treinadores portugueses que trabalham no Brasil. Não podemos aceitar manifestações preconceituosas como a promovida na noite de ontem (quarta-feira) pelo presidente da 3ª Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná, Rubens Dobranski”, protestou o clube paulista. “De uma pessoa incumbida de zelar pela ética e avaliar condutas de esportistas, espera-se equilíbrio e isenção, em vez de intolerância.”
Em nota conjunta, Coritiba e Athletico-PR também mostraram todo seu descontentamento com Dobranski. “Diante dos fatos ocorridos na noite de ontem, quarta-feira (01), durante o julgamento dos atletas do Coritiba Foot Ball Club e Athletico Paranaense perante o TJD/PR, os clubes, em conjunto, vêm a público manifestar que repudiam veementemente as falas xenofóbicas proferidas pelo auditor Rubens Dobranski ao técnico do Coritiba, António José Cardoso de Oliveira”, afirmaram.
“Os clubes salientam que este ato preconceituoso direcionado ao profissional é inadmissível em qualquer situação ou contra qualquer pessoa. O Coritiba e o Athletico reiteram que atitudes racistas ou de qualquer outra natureza discriminatória são absolutamente inaceitáveis. Os clubes têm profundo respeito por todos os estrangeiros que atuam no futebol brasileiro, que foi construído por pessoas e profissionais das mais diversas etnias e nacionalidades, engrandecendo e trazendo diversidade ao esporte.”