Litoral norte de São Paulo tem recorde de passagem de baleias jubarte
Segundo instituto Baleia Jubarte, mais de 300 foram vistas nas regiões de Ilhabela e São Sebastião nas últimas semanas
- Data: 11/07/2023 08:07
- Alterado: 31/08/2023 21:08
- Autor: Redação
- Fonte: Fábio Pescarini/ FOLHAPRESS
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O litoral norte de São Paulo registra recorde de passagens de baleias jubarte neste ano. Segundo a rede de colaboradores do Projeto Baleia à Vista (ProBaV), cerca de 330 delas foram vistas desde junho até este domingo (9) -o melhor período para visualização vai até meados de agosto.
Segundo o pesquisador Julio Cardoso, 75, um dos responsáveis pelo ProBaV e conselheiro do Instituto Baleia Jubarte, em média, 30 delas têm sido visualizadas, fotografadas ou filmadas, entre Ilhabela e São Sebastião, todos os dias nas últimas semanas.
O projeto conta com uma rede de informações formada pesquisadores, biólogos, pescadores, operadores de turismo, donos de pousada e funcionários de restaurantes espalhados pela região, entre outros.
Segundo a Prefeitura de São Sebastião, apenas na semana passada (até sexta-feira, 7), foram avistados 56 exemplares de jubartes, além de uma baleia franca.
No ano passado, cerca de 200 baleias jubarte foram registradas durante todo o período de passagem, afirma o instituto. “Porém, até o fim de junho, o número foi bem menor, cerca de 20, porque elas atrasaram“, aponta o pesquisador.
“Depois disparou em julho [de 2022], mas já está muito maior neste ano“, afirma.
Durante o inverno, as jubartes migram da Antártida para a costa sul da Bahia, principalmente à região do arquipélago de Abrolhos, em busca de águas mais quentes para reprodução e amamentação. O litoral norte de São Paulo faz parte da rota.
A população destes animais no litoral brasileiro disparou nos últimos anos. Segundo dados do Instituto Baleia Jubarte, aproximadamente 25 mil delas passaram pelo país no segundo semestre de 2022.
O crescimento, para especialistas, reflete o fim da caça, proibida em 1966, período em que a população foi reduzida a menos de 5%, algo entre 600 e 800 indivíduos.
Desde 2016, quando transformou o hobby em um projeto de ciência cidadã e fundou o Baleia à Vista, Cardoso catalogou mais de 400 espécimes de jubarte, orca, tropical (bryde), franca austral e cachalote-anão na baía de Ilhabela. A experiência foi registrada em nove publicações científicas.
Segundo Cardoso, nesta segunda-feira (10), um filhote foi gravado nadando ao lado da mãe e de outra jubarte próximo ao canal que é próximo de onde cruzam as balsas que ligam São Sebastião a Ilhabela ou passam grandes navios.
O canal costuma atrair as baleias por causa de sua profundidade e por estar em uma rota de corrente marítima ascendente, o que favorece a presença de cardumes, principal alimento para esses animais.
“Pode ser uma indicação de que [o filhote] nasceu por aqui“, diz.
Os três animais foram filmados com uso de drone por uma operadora de turismo.
Foram dados alertas para embarcações, pois as baleias estavam na rota de navios”, explica, citando o terminal da Petrobras em São Sebastião, onde atracam petroleiros. Instagram
Neste ano, diz, estão sendo vistas muitas fêmeas, aparentemente em época de acasalamento, com machos próximos. “A imagem proporcionada por essas baleias é maravilhosa.”
O fim da caça, associada a medidas como a redução do atropelamento por embarcações e do emalhe acidental em equipamentos de pesca, criou condições para o aumento do número das baleias desta espécie.
Mesmo assim, no último dia 27 de junho, o Instituto Agronauta, de conservação ambiental, voltado principalmente aos ecossistemas costeiros e marinhos, afirma ter ajudado no resgate de uma baleia jubarte que ficou presa em um cabo de pesca em Ilhabela.
Conforme o instituto, a baleia, que estava emalhada, tinha comprimento aproximado de oito a nove metros.
O animal estava arrastando um cabo de nylon com poita (peso), preso em sua cauda, medindo cerca de 80 metros, e espessura de 8 a 10 mm, quando o instituto foi alertado.
Dois biólogos participaram do corte do cabo da jubarte, que era acompanhada por outra baleia menor, de seis a sete metros.
“Não é o objetivo dos pescadores que a baleia se emalhe, pois acabam perdendo seus petrechos, mas é um dos grandes desafios de gestão das áreas marinhas“, afirma a bióloga Carla Beatriz Barbosa, do Agronautas.
“Elas ainda podem ser atropeladas por lanchas, barcos ou navios, e tem também as pessoas que não respeitam as normas de avistamento, e que podem causar o molestamento desses animais”, diz também, em nota.
A temporada de passagem de baleias tem atraído turistas para o litoral norte paulista. A Prefeitura de São Sebastião tem realizado campanhas para promoção do turismo responsável de avistagem de baleias, com ações no mar, entre outros programas.
Também foram instaladas placas na cidade e distribuídos materiais gráficos com normas de observação de baleias.
Entre as regras está a de não perseguir com motor ligado qualquer baleia por mais de 30 minutos, mesmo que respeitada a distância mínima de cem metros.
Também é proibida a prática de mergulho ou natação com qualquer espécie de baleia.
“A temporada de jubarte é uma boa alternativa para fomento do turismo na baixa temporada“, diz a prefeitura.
Nesta época do ano, operadores de turismo organizam passeios em volta de Ilhabela com esse propósito, geralmente com visitantes de um dia.