Racionais MC’s celebram três décadas de sucessos que permanecem atuais
O grupo paulistano pioneiro do rap nacional gravou nesta quinta o DVD que comemora 30 anos de carreira
- Data: 12/10/2019 16:10
- Alterado: 12/10/2019 16:10
- Autor: Rodilei Morais
- Fonte: Agência ISO/ABCdoABC
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Encerrando a turnê “3 Décadas” em casa, com direito a registro para DVD da apresentação, o grupo de rap Racionais MC’s subiu ao palco na noite desta quinta-feira (10). Os mestres de cerimônia Mano Brown, Edi Rock e Ice Blue e o DJ KL Jay foram acompanhados por uma banda completa neste show que revisitou sucessos que marcaram gerações e desbravou territórios para o estilo no país.
A primeira das três noites de apresentação reuniu uma multidão no Credicard Hall, na zona sul de São Paulo. É até emblemática que a celebração de 30 anos do grupo de rap mais importante do Brasil seja feita a tão poucos metros da Ponte João Dias, referenciada no clássico “Da Ponte Pra Cá”.
Em três décadas de carreira, é surpreendente e até assustador que o discurso do grupo ainda se mantenha atual. Episódios recentes mostram que o olhar de Brown e seus companheiros para os acontecimentos do país foi absurdamente certeiro e necessário. É impossível que um ouvinte não tenha se lembrado da exclusão social retratada em “Fim de Semana no Parque” quando crianças de escolas públicas foram barradas em um shopping em bairro nobre de São Paulo no início do ano. Ou ainda dos versos da clássica “Negro Drama” (“Eu sou o mano, homem duro, do gueto, Brown, oba / Aquele louco que não pode errar”), quando a jornalista Maju Coutinho nesta semana foi acusada por erros de dicção em um programa ao vivo, enquanto diversos de seus parceiros desta profissão cometem as mesmas falhas, ou até mais graves, e saem ilesos a críticas.
Os versos de “Diário de Um Detento” sobre o massacre do Carandiru, que há poucos dias completou 27 anos, ecoam também na violência dos presídios do Pará e as estatísticas citadas no início de “Capítulo 4, Versículo 3” ainda não mudaram tanto desde 1997, ano de lançamento de “Sobrevivendo no Inferno”. No show, estes dados foram apresentados no telão por Seu Jorge, que até subiu ao palco ao final da música que leva o mesmo nome do filme em que o cantor recentemente atuou, “Marighella”.
O show ainda contou com sons como “Pânico na Zona Sul”, “Tempos Difíceis” e “Beco Sem Saída” do primeiro registro de estúdio do grupo. Passou pelo “Raio-X do Brasil”, com “Homem na Estrada” e “Mano na Porta do “Bar”. De “Nada Como Um Dia Após o Outro”, “Jesus Chorou” e “Vida Loka”, partes 1 e 2, tendo a segunda encerrado o show. Até o recente “Cores & Valores”, de 2014, marcou presença com a faixa “O Mau e o Bem”.
Ainda que Brown celebre a black music com o Boogie Naipe, Edi tenha uma sólida carreira solo, tendo lançado há poucos meses o disco “Origens” e KL Jay conecte gerações do hip hop com seu trabalho “Na Batida” ? e cada uma dessas apresentações seja um espetáculo à parte ? nada se compara a catarse de uma apresentação do quarteto completo. É visível em cada rosto no local a emoção de presenciar o grupo ao vivo.
A série de shows em São Paulo, bem como a turnê, se encerra neste sábado (12) com uma última apresentação também no Credicard Hall. Os ingressos de hoje, bem como das apresentações anteriores, estão esgotados.