Atividade física é fundamental para Miastenia Gravis, desde que a doença esteja compensada
Começar a praticar alguma modalidade esportiva, desde de que a doença esteja sob controle, pode ser um caminho para ter mais qualidade de vida
- Data: 26/08/2021 10:08
- Alterado: 26/08/2021 10:08
- Autor: Redação
- Fonte: Cellere Farma
Atividade física
Crédito:Divulgação
Se para um miastênico em crise o repouso é fundamental para a sua plena recuperação, o paciente que está com a Miastenia Gravis compensada, a atividade física é muito importante para atuar como coadjuvante no tratamento. Isso porque além de manter o bem-estar físico e emocional, ela pode ser fundamental para fortalecer a musculatura e melhorar o desempenho nas atividades diárias como caminhar, sentar, levantar, elevar os braços, e até para subir e descer escadas. Mas saiba que nem sempre os exercícios físicos foram vistos como um aliado no tratamento.
Durante muito tempo, mais precisamente entre a década de 2000 e 2010, a recomendação para o paciente miastênico era não praticar nenhuma atividade física. “Essa instrução, aliás, fazia parte do tratamento: quanto mais repouso o paciente fizesse, melhor ele ficava”, lembra Eduardo Estephan, médico neurologista, especialista em Doenças Neuromusculares dos Hospital das Clínicas (FMUSP), do Hospital Santa Marcelina e diretor científico da Associação Brasileira de Miastenia (ABRAMI).
Exercícios como recomendação médica
De acordo com o especialista, de lá para cá vários estudos têm mostrado o contrário, que pacientes que fazem atividade física conseguem ganhar mais funcionalidade nas atividades de esforço durante o dia. Dessa forma, os exercícios passaram a ser recomendados como parte do tratamento, e não mais o repouso. “É claro que para poder indicar atividade física, o paciente precisa estar compensado. Lembrando sempre que quem toma essa decisão é o médico neurologista, que acompanha o paciente”, aconselha.
Sobre as práticas esportivas disponíveis também é preciso ir além de quais as modalidades o paciente pode se adaptar melhor. Como benefício à saúde do paciente portador de Miastenia Gravis, o médico neurologista recomenda as atividades físicas aeróbicas, como caminhada, corrida, bike. “Mas ela pode estar associada com modalidades anaeróbicas, caso da musculação, do alongamento, da ioga”, indica. Para não deixar o paciente sofrer com a fadiga muscular, o médico recomenda que é importante que ele consiga tolerar bem os exercícios, mas nunca sem deixá-lo com fadiga. E isso vale tanto para uma caminhada, uma corrida, como um treino de musculação ou até uma aula de pilates. “É importante que o paciente seja acompanhado por um profissional competente, de preferência que tenha conhecimentos sobre a doença para aumentar a carga e a intensidade devagar, para nunca induzir à exaustão do paciente”, afirma.
Exemplo de superação
Para quem sempre foi ativo, praticava várias modalidades esportivas, de jiu-jitsu a skate, passando pelos campeonatos de patins, além da musculação e da corrida, ouvir o diagnóstico de miastenia, pode causar medo e sensação de frustração.
Foi o que aconteceu com o instrumentador cirúrgico e motorista de aplicativo Josadac Vasconcelos Marques, 37 anos, de Manaus, no Amazonas. “Até receber o diagnóstico eu acreditava que aquele cansaço constante era do trabalho como motorista”, recorda-se. “Algumas vezes, puxar o freio de mão com as duas mãos era difícil. A fraqueza nos braços era uma constante ao final do dia. Isso sem contar a diplopia (visão dupla), que era frequente e foi o principal sintoma que me levou ao neurologista, que deu o diagnóstico”, conta Josadac.
Mas embora tenha sentido o diagnóstico da doença como um banho de água fria, acreditando que não seria mais capaz de fazer tudo o que sempre gostara, com a ajuda da namorada, a professora de educação física Lucilene de Castro Batalha, ele conseguiu usar a memória muscular a seu favor. Por ter sido sempre muito ativo, a personal trainer foi pesquisar a doença e passou a investir em exercícios funcionais e de musculação, com pouca carga e repetições para ajudá-lo no fortalecimento muscular e no seu bem-estar. “Quando ele descobriu a doença, estava melhorando o seu desempenho na corrida e tinha como meta fazer uma maratona (42km e 195 metros). Era o sonho dele. Então, quando o neurologista o liberou para fazer exercícios, montei uma planilha onde priorizava os treinos de musculação, intercalando com os de corrida”, lembra-se. Juntamente com os treinos, Josadac passou a fazer suplementação para melhorar o rendimento físico e evitar a fadiga. Com muita dedicação e foco, ele conseguiu completar a sua primeira maratona. “Tive vontade de desistir, pois foi uma prova de muita resistência, mas vendo as pessoas me incentivarem, meu pai me inspirando a cada quilômetro alcançado, e revendo o que já havia passado para chegar até ali, tudo isso me fortaleceu para completar a prova”, recorda-se, emocionado. E de fato, a inspiração, o foco e o desejo de superação fez com que além da participação na maratona, Josadac fizesse depois outra prova de resistência: os 19km da Volta da Pampulha, em 2019.
Claro que o instrumentador declara que tem momentos de altos e baixos, dias que a fadiga o impede de fazer atividades do dia a dia. Mas como a atividade física é constante em sua vida, ele logo se recupera.
Todo miastênico pode praticar exercícios?
Vendo o desempenho do atleta amador Josadac Marques, a pergunta que logo se faz é: todos os miastênicos podem fazer atividade física? Segundo os especialistas, não dá para afirmar, afinal, o profissional especializado que acompanha o paciente é quem deve avaliar o seu quadro para recomendar ou não a prática.
A segunda pergunta que vem à cabeça de um portador da doença é: todas as modalidades esportivas estão liberadas para o portador da doença? Também é preciso avaliar caso a caso, identificar o grau da Miastenia Gravis, se ela está bem compensada, e investigar se o paciente já fez alguma prática antes do diagnóstico ou não. Afinal, não dá para sair de uma condição de sedentário para atleta profissional.
Começar a praticar alguma modalidade esportiva, desde de que a doença esteja sob controle, pode ser um caminho para ter mais qualidade de vida, além de melhorar o seu desempenho nas atividades do dia a dia, através do melhor condicionamento físico. E o conselho do Josadac é imprescindível para dar início a qualquer prática esportiva: “Comece devagar, dê atenção às respostas do seu corpo e jamais treine até a exaustão. Assim, você saberá que no dia seguinte estará bem para recomeçar. E se não tiver, espere melhorar para só então retomar.”